ATO 15

8.8K 1.2K 309
                                    




Pobre daqueles que temem o medo. Ele sempre nos ensinou a ser mais fortes.

 Ele sempre nos ensinou a ser mais fortes

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Dr. Feen encontrava-se parado frente à grande janela de seu escritório.

— Em pleno ano de noventa e quatro, existia uma tecnologia incrível naquele lugar, e ninguém nunca soube.

— Pensei que jamais acreditaria — afirmei, amarrando o cabelo com um elástico que peguei de sua mesa.

— Eu acredito, mas é claro. Porém, não acredito que um zelador seja capaz de construir algo do tipo, muito menos a tal Srta. Pompoo — O rapaz se virou e novamente se sentou na poltrona preta — Acho mais provável, que a muito tempo antes de você ter chegado lá, havia outras pessoas e quem sabe, essas outras pessoas não tenham criado primeiro? Talvez o pessoal da Pompoo tivesse roubado a ideia, ou pegado as máquinas. Nunca pensou nessa hipótese, Pandora?

— Naquela época eu não pensava em nada do que eram capazes, doutor — Conclui.

— Em uma história de suspense, é bom pensarmos em todas as hipóteses — continuava anotando em seu bloco de papeis.

— Doutor, eu poderia pegar um café expresso também?

— Mas é claro! Só um momento que pego para você — Dr. Feen se levantou, passou por mim e abriu a porta do escritório logo atrás, desaparecendo de vista.

Olhei em volta. Tudo parecia frágil, inclusive o belo lustre acima de mim. Fui até sua mesa ver suas papeladas, todas anotações dos fatos que eu contara até então. Debaixo da bagunça de papeis, encontrei uma pasta. Ao abri-la, vi algumas fotos de seus pacientes.

Dr. Feen era um psicólogo muito reconhecido. Ao folhear as inúmeras imagens, notei o retrato de um senhor bonito, calvo, com uma costeleta bem-feita. Usava um terno preto engravatado e bem ajeitado, tinha bigodes curvos e brancos, carregando uma expressão fúnebre. Aquela imagem era muito familiar, só não me lembrava de onde.

— O incrível instinto da curiosidade — Dr. Feen estava atrás de mim encarando-me com seu olhar por de trás dos óculos. Soltei a pasta imediatamente.

— Ah, eu... me desculpe — gaguejei desconcertada, com um breve sorriso e pegando de sua mão o café expresso — Sou muito enxerida.

— Não tem problema. O mistério gera curiosidade e a curiosidade é a base do desejo humano para compreender.

— Quem é aquele senhor da imagem? — Perguntei aproveitando o assunto, mas Dr. Feen apenas sorriu.

     Descemos as escadas caracol apreensivos

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.




Descemos as escadas caracol apreensivos. Brok segurava em meu braço com mais força que o normal.

— Pan, se você não ganhar, farei o possível para conseguir. Nunca tive motivação para vencer essas disputas, mas agora é diferente.

— Primeiramente me explique por que vamos dormir se os desafios começam em dez minutos?

— Porque é quando deitamos em nossas camas, que eles de fato acontecem. Não é aqui, nos dormitórios, é em nosso subconsciente. Você entenderá quando chegar a hora.

— Odeio esses suspenses — resmunguei. Chegando no fim da escadaria, o portão de metal já estava aberto e todas as crianças encontravam-se deitadas, configurando seus drenadores. O relógio no fim do lugar dizia que faltavam três minutos para o início da disputa.

— Apenas aperte o botão vermelho quando o relógio marcar as seis em ponto, está bem? — explicou Brok, seguindo em frente para a ala masculina. Ele se virou e me desejou boa sorte, mas quase tropeçou em uma das quinas da cama. Apenas sorri e conectei o fio principal em minha nuca.

Um minuto. Fechei os olhos. O suor escorria até chegar em minha boca. Tive medo. Medo do desconhecido.

Então, apertei o botão.

Fui sugada para dentro da cama, como se me puxassem para baixo. Meu corpo se contorceu e tudo e todos viraram apenas borrões e semblantes deformados. Girava e girava. Meus olhos saíram da orbita e meu ar ficou escasso. Era como se eu estivesse em um tornado, só que muito rápido, sem dar tempo de eu sentir que estava girando junto com as demais coisas.

Abri os olhos.

Encontrava-me de pé. A visão voltara ao normal e me dera noção do ambiente.

A primeira coisa que senti, foi o ar gélido, depois o céu acinzentado, sem nuvens, nem sol, e nem lua. À minha frente, uma vasta floresta, ao meu lado, várias crianças do orfanato. Pareciam estar conectadas em um só sonho. Todas na mesma posição.

Estiquei o pescoço para tentar encontrar Brok em meio à multidão, mas sem sucesso. Decidi não pensar mais em nada. Precisava de foco e de achar a maldita lebre da Srta. Pompoo, que provavelmente vagava em algum lugar deste matagal. Bem mais à frente, avistei a colina onde devíamos entregar o animal. Minhas pernas tremiam.

Rumpel surgiu entre a relva, caminhando até nós.

— Sejam bem-vindos! Existem apenas dez armas brancas espalhadas por esta floresta. Os que não conseguirem obtê-las, terão de capturar o animal de formas diferentes. Requer um mínimo, habilidade com caça. Ao meu sinal, todos devem entrar imediatamente na floresta, entendidos? — o batalhão de crianças acenara positivamente.

O vento era forte.

As folhas movimentavam-se grosseiramente entre as arvores para lá e para cá. Rumpel esticou o braço, segurando uma arma escura de cano alto, e contou até três. No três ele apertou o gatilho e uma fumaça emergiu de lá, rasgando o céu e explodindo em cima de nós. Faíscas vermelhas se espalharam.

Saí em disparada, esticando minhas pernas e correndo como uma atleta até mergulhar nas entranhas da selva e perder todos de vista.

Eu estava disposta a ganhar.

     Eu estava disposta a ganhar

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now