Tempestades são boas. Em excesso, elas podem destruir tudo, varrendo as impurezas do mundo.
Nesses dois dias como residente, tirei algumas conclusões sobre tudo o que analisei até então. Fatos que, querendo ou não, eu teria de aceitar e me acostumar. O primeiro deles, sendo o mais importante, era:
Srta. Pompoo é uma pessoa desequilibrada.
Os drenadores são de uma tecnologia duvidosa.
Existem pessoas autoritárias, querendo passar por cima dos outros, julgando-os demais.
A forma como a música nos envolvia era a única coisa saudável que consumíamos.
As regras são perigosas.
Todos eram assassinos que fingiam ser normais.
A comida da merendeira era péssima.
E o último, mais preocupante:
Existia um guardião que nos protegia, mas uma criatura que sequestrava crianças.
No entanto, meus pensamentos lamentavelmente foram interrompidos por Petúnia no momento em que passei por sua penteadeira.
— Vai acreditar nas baboseiras do abutre?
— Vou. Ele foi sincero — respondi.
— Você gosta dele, não é?
— Gosto. Ele é gentil e educado.
— Não nesse sentido, pancada! — exclamou a garota, se levantando da cadeira e aproximando-se de mim — No sentido... amoroso.
— Não, isso não.
— Então é o que? Pena?
— Petúnia, olha aqui. Por que você se importa tanto com isso? Qual o seu problema com o Brok?
— Eu não vou com a cara dele. Simples assim — Petúnia virou o rosto e silenciou.
— Será que é isso mesmo o que estou pensando?
— Isso o que? Não tem o que pensar. Eu sei de tudo. Sei que ele dividiu os sonhos com aquela imbecil da Lola. Dois idiotas! Se ela desapareceu ou morreu é culpa dele. Sempre vai ser!
— Petúnia... então... depois de tudo isso...
— Não termine. Não quero sua opinião, não quero saber.
— Tudo isso é por ciúmes? Ciúmes dele com a Lola?
— Eu já disse que não quero sua opinião.
— Você gosta do Brok. Sempre gostou dele — afirmei.
— Mais uma palavra e eu acabo com você.
— Você mascara tão bem seus sentimentos bons, que, acredite, até agora só enxerguei coisas ruins aí dentro.
Petúnia não se aguentou calada e levantou sua mão para me atingir. Mas a bloqueei segurando seu braço e encarando seus olhos por trás de sua enorme franja loira.
— Não vou mais admitir que use seu orgulho para ferir o Brok. Nós vamos procurar essa garota juntos, eu, você e ele.
— Ficou maluca?
— Fiquei cansada.
O pátio estava escurecendo. A noite se apressava em chegar. Ficamos paradas ali, perto da vitrola.
— O garoto está sofrendo e tenho certeza que ninguém se aproxima dele porque você o coloca contra todos. Ou você procura Lola com a gente, ou ele vai saber dessa sua paixão esquisita.
— Mas eu não gosto dele, sua babaca — sussurrou.
— Então qual é o seu problema?
— É da Lola que eu gosto. Este é o problema.
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I - Onde Vivem Crianças Irrecuperáveis
Mystery / ThrillerCondenada a passar parte de sua vida em um orfanato para crianças insanas, Pandora, uma infortunada garota de doze anos foi acusada por assassinar seus pais, mas o que ela não esperava é ter esquecido deste homicídio e tudo antes disso. Agora, par...