ATO 16

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O quão frio é a mente do ser humano. Mais frio ainda, é ver que a origem de tudo, vem do coração.

     As arvores aqui se esticavam bem alto, de galhos tortos e grossos

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As arvores aqui se esticavam bem alto, de galhos tortos e grossos. Diminui os passos e camuflei entre elas. Visualizei o campo em volta. Muitas árvores. Todas fáceis de subir. Seria vantajoso estar no topo para uma vista mais abrangente, mas obviamente não fui a única com esta ideia. Outras cinco crianças já estavam escalando próximas dali. Onde raios estariam as armas brancas?

— Ei! Pancada! — uma voz feminina sussurrava atrás de um dos troncos ali perto. Logo percebi quem era pelo cheiro forte de seu perfume e pelo apelido que me dera.

— Petúnia? Que raios está fazendo aqui?! — perguntei confusa.

— Quieta! Não diga meu nome! Rumpel não sabe que estou aqui. Ninguém sabe. Não pude deixar de participar, pelo menos para te ajudar. Já ganhei esses desafios antes, não perca seu tempo procurando essas armas. Faça a sua e prossiga.

— Fazer a minha...?

— Claro! Provavelmente os mais experientes já pegaram todas. Elas são feitas com materiais da própria floresta, então crie uma também. Uma lança vai ajudá-la! Agora tenho que ir, ou a enfermeira Spencer vai surtar quando descobrir que entrei no desafio. Boa sorte! — Petúnia desapareceu em meio às arvores e jogou próximo de meus pés uma pedra oval.

Escondida naquele velho tronco, cheio de cascas, arranquei um de seus grossos galhos e com a pedra deixada por Petúnia, a usei para afiar a ponta da madeira o máximo que pude. Foi quando um vulto passou acima de mim entre as folhas.

Olhei para o alto.

Era um bicho peludo, dono de uma grande calda. Saindo das sombras, um mico-leão dourado me encarava com toda suntuosidade. Curvara a cabeça para o lado de uma forma peculiar. Seria ele, meu alvo principal caso não encontrasse a lebre. Terminei de afiar a madeira lembrando que não poderia matá-lo, apenas capturá-lo.

Mas no primeiro movimento que dei com o braço, o Mico pulou para frente, agarrando os cipós e desaparecendo de vista.

— Droga! Volte aqui! — corri em sua direção. O animal era ágil, contudo, chamativo. Ele se destacava entre o verde escuro da floresta, mas se distanciava muito rápido. Naquele momento, vi alguém do meu lado. Um garoto segurando um arco com flechas. Negro e veloz. Suas pernas finas quase deslizavam entre o gramado. Ambos estávamos correndo em direção ao Mico Leão. Ele esticou seu arco, mirando para o alto das arvores, pronto para o abate. Na intenção de impedi-lo, joguei meu corpo para o lado batendo em seu ombro, derrubando-o.

— DESGRAÇADA! — gritou ele levantando-se com a mão na cabeça. Não tive tempo de terminar de escutar suas ofensas. Apenas segui caminho, sem tirar os olhos do animal. Quanto mais o Mico se afastava, mais distante eu ficava dos demais. Até o ponto em que o perdi de vista e percebi que não havia mais arvores a frente.

Parei imediatamente. Um passo a mais e eu cairia em um enorme penhasco, a centímetros de meus pés.

Dei meia volta, mas o terreno pisado começara a rachar. Uma boa parte do chão desfazia-se e desabava ribanceira abaixo. Disparei para o mais distante daquele incidente até pisar em solo firme novamente.

Fora por pouco.

Cansada e exausta, voltei o percurso para dentro da floresta, segurando a lança. Pelo visto eu teria que capturar outro animal.

Os irrecuperáveis eram astutos, selvagens. Alguns cainhavam de quatro, cheios de lama. Outros em cima dos troncos fazendo barulhos estranhos e com pedaços de plantas envolto do pescoço e da cabeça.

Vaga-lumes bailavam, piscando por todos os cantos e algumas borboletas estranhas com dois pares de asas azuis fluorescentes, davam um toque mágico para a atmosfera. Olhei entre as árvores mais baixas e escalei uma delas usando a lança como apoio.

O tronco era áspero.

Meus dedos machucavam devido as farpas. Chegando no topo, vi o quão grande era a floresta Crepúsculo. A colina estava bem distante. Seria uma jornada entanto.

De longe, encontrei Brok. Ele caminhava devagar, como se avistasse algo por ali, mas como alguém cego poderia avistar alguma coisa?

Pulei até o chão e fui ao seu encontro antes que o perdesse de vista. Ao me aproximar, Brok olhou diretamente para mim.

— O que está fazendo? — questionei intrigada.

— Pan! Pensei que não fosse te encontrar! — exclamou analisando-me.

— Você... consegue me ver? — perguntei.

— Em partes sim. Nos sonhos, consigo enxergar os lugares, pois minha mente já havia processado a imagem de florestas antes de eu ficar cego. Agora, você e as outras crianças são como borrões. Suas faces ficam embaçadas e escuras.

— Interessante! Pelo menos você tem as mesmas chances que os demais! Conseguiu encontrar algum animal?

— Um veado. Mas é grande demais para carregá-lo até a colina e nem é tão bonito assim. E você? — perguntou desviando a atenção.

— Avistei um Mico Leão, mas não consegui ser tão rápida para pegá-lo.

— Poxa! Isso ia te fazer ganhar muitos pontos. Com ou sem lebre, é um dos animais mais belos daqui. Uma pena.

— Uma pena mesmo — interrompeu um garoto vindo entre a relva, segurando um saco por trás das costas. O mesmo que disputou uma breve corrida comigo minutos atrás. Ele repousou o saco no chão, deixando sair sua presa de dentro, imobilizada e acolhida. O Mico Leão estava ali, inerte — Nunca abandone um alvo promissor, imbecil — encaramo-nos. Me virei e disse a Brok para continuarmos a andar.

— Não ligue, Pan. Tem milhões de animais nesse monte de mato. Encontraremos algum que sirva — confortou Brok.

— Não. Eu vou achar essa maldita lebre e acabar logo com isso.

 Eu vou achar essa maldita lebre e acabar logo com isso

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