ATO 29

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Quantas luzes irão se por, quantas noites chegarão, até você aparecer, e arruinar minha solidão.

Quantas luzes irão se por, quantas noites chegarão, até você aparecer, e arruinar minha solidão

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Meus olhos se dilataram.

Entrei em transe ao voltar para o gélido dormitório naquela manhã. A primeira coisa que escutei fora o fraco barulho que os drenadores faziam quando desligavam. Minha cabeça latejava de dor, como se um compressor a espremesse.

— Bom dia, pancada — Petúnia levantara descabelada, gritando o nome de Dante para vir penteá-la. Sem respondê-la, continuei deitada, colocando meus pensamentos em ordem e absorvendo este último pesadelo terrível. Ao notar as demais crianças despertando, criei coragem e me levantei. Fui em direção a ala masculina. Por sorte, Brok estava lá, parado em sua cama, sentado de costas para a entrada.

— Brok...?

— Sim?

— Como se faz para esquecer de seus crimes, mesmo?

— Basta ter um sonho intenso, capaz de substituir os ruins.

— Suponhamos que tenho um sonho bom, mas... existe algum modo dos ruins ainda assim não irem embora?

— Qual seu maior sonho Pan?

— Ter minha cachorra Luna, comigo. É o que projetei de bom, mas continuo tendo pesadelos...

— Isso é estranho. Luna aparece neles?

— Sim, em todos — afirmei.

— Então realmente não compreendo. O certo seria os drenadores fazerem uma troca. Talvez o desejo de ter seu animal com você não seja tão forte capaz de substituir os pesadelos. Seus pecados ainda te perseguem?

— O problema é que não sei quais são meus pecados — conclui, aborrecida.

Hoje era o dia do segundo desafio das disputas por classes. Eu teria que me preparar mentalmente, mas passei o dia conturbada.

Terminando de subir as escadas caracol até o pátio principal, escutei uma música mais agitada tocar na vitrola. A maior parte dos irrecuperáveis estavam ali, porém mais tristes que o normal. Uns ficavam jogados em um canto, enquanto outros gesticulavam as mãos para o ar, tentando apalpar algo que não estava ali. As vezes murmuravam sozinhos. Estavam estranhos.

Patrick encontrava-se ao lado de seu grupo esquisito, sentados perto do velho piano, com olhares vagos. Subi as escadas para o segundo andar, olhando as placas em cima das portas. A sala de Rumpel era do lado direito, na terceira. Dei leves batidas com o punho, e aguardei.

— Pois não? — o zelador abriu a porta, impressionado com a visita.

— Oi, Rumpel... posso falar com você um instante?

I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora