ATO 28

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Culpada ou não, somos pecadores desde os primórdios.

     Alguns galhos e outros tipos de plantas arranhavam minha perna conforme eu passava por elas

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Alguns galhos e outros tipos de plantas arranhavam minha perna conforme eu passava por elas. O caminho de terra era estreito, fazendo-me sentir massacrada pelas arvores ao lado. Ainda por cima, a terra estava úmida, dificultando os passos. A cachorra pulava as pedras e troncos caídos, não parava de correr.

Olhando adiante, vi algumas fotos penduradas em galhos secos, todas perfuradas. Eram arvores apodrecidas, sem folhas.

Me aproximei e tirei uma das imagens de lá. A maioria estava manchada de barro. Uma delas era eu e meu pai sentados em um barco com uma bela paisagem atrás. Estávamos pescando. Outra, enxerguei uma garota pequena deitada em uma cama. Um rapaz lia um livro para ela. A maioria das fotos, meu pai estava presente. Nossos melhores momentos encontravam-se ali.

Segui pegadas profundas na lama.

Luna já não estava visível.

Meu coração batia forte, intensamente forte.

Estava temerosa pelo que vinha a seguir.

Foi quando passei por um conjunto de moitas e avistei Luna parada, sentada ao lado de um cadáver ensanguentado, com profundos cortes no rosto. Manchara todo o gramado, fazendo uma trilha ao seu encontro.

A paisagem de flores brancas e jasmim enfeitavam o triste cenário. Era um campo oval, cercado por arvores de todos os tamanhos. O centro da floresta. Raios de sol destacavam o corpo do indivíduo, deixando-o ainda mais repugnante. 

Papai estava desfigurado.

Dei um grito, talvez o mais forte de todos. Estava ali, caído, pálido, de olhos esbugalhados. Corri de volta para casa, desesperada, perplexa. Não sentia mais os cortes grotescos que surgiam na minha perna enquanto atravessava os galhos pontudos.

"Isso não pode estar acontecendo" pensei.

Porém, antes de alcançar o quintal de casa, alguém estava parado na entrada, com cabelos avulsos. Mamãe segurava um facão de churrasco, encarando-me profundamente.

— O QUE VOCÊ FEZ COM MEU PAI SUA LOUCA? VOCÊ O MATOU! SUA ASSASSINA! VOCÊ O MATOU!

— Como eu disse, os homens não têm limites, filha. Seu pai queria tomar o meu lugar como mãe, mimando você, fazendo-a gostar mais dele do que de mim. Era uma disputa toxica, idiota. Vocês me tratavam como se não fosse relevante. Mas te digo uma coisa, Pandora: Nada substitui o amor de mãe. Nada! — sorria enquanto se aproximava de mim.

— Você é louca... — tremia enquanto falava — Destruiu nossa família... — Ajoelhei no chão, desestabilizada. Luna apareceu atrás de mim, cheirou minhas pernas e sentou em meu colo. Minhas lágrimas molhavam seus pelos brancos, sujos de lama e sangue. Mamãe chegou até mim, colocou o facão no chão e se ajoelhou.

— Ninguém guarda maus momentos em um álbum de fotografias, filha, mas são esses momentos que nos tornam fortes para seguirmos em frente. Vamos recomeçar esse álbum juntas. Esqueça aquelas fotos, a floresta tomou posse delas — ela repousou o facão no chão e passou a mão em meu rosto, enxugando meu suor com os dedos. Algumas borboletas azuis pairavam em nossa volta, o vento ainda fresco gelava nosso corpo. Luna permanecia comigo — Só quis proteger o que é meu. Agora venha, me dê um abraço — ergui a cabeça, ainda sentada no chão úmido, me estiquei para frente, obedecendo-a.

Ficamos abraçadas por alguns segundos.

Minha mente parou de funcionar.

Devagar, peguei o facão em seu lado, com o olhar vago, segurei firme no cabo, ergui meu braço direito e aguardei. Mamãe não havia notado.

— Vamos ficar juntas. Temos uma a outra, agora.

— Apenas lamento — respondi esticando o braço.  Com a força que acumulei, apunhalei suas costas, profundamente. Segurei firme a arma, ainda abraçado com ela. Luna havia saído de meu colo. Mamãe suspirou alto.

— Eu não queria... ter te colocado naquele internato... — ofegante e tremula, ela ainda forçava as falas, após isso, nada mais disse. Caiu no chão de lado e parou de se mexer.

O dia estava lindo. O céu mudara de cor novamente: Lilás. Voltei ao local onde encontrava-se o corpo do papai e o arrastei até o quintal de casa, atravessando a cozinha, subindo os degraus exausta. Entrei em meu quarto e o coloquei debaixo de minha cama. Fiz o mesmo com o corpo de mamãe. Entrelacei seus braços e encaixei a mão de papai na dela.

— Pronto. Estão juntos. Pelo menos uma vez quero vê-los assim. Luna! Venha! — a cachorra obedeceu, subiu em minha cama e se ajeitou em meus pés. Respirei ofegante e deitei de bruços.

Os pássaros lá foram continuavam a cantar.

     Os pássaros lá foram continuavam a cantar

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I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora