ATO 23

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Verdades mais cruas que mentiras, e mentiras mais viáveis que verdades. Afinal, quando esse caos termina mesmo?

 Afinal, quando esse caos termina mesmo?

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— Isso é inaceitável, Joshua. Estou desapontado. Como um livro daqueles pode ter desaparecido da sessão reservada há quase um mês e você não ter notado nada? Quero este livro em mãos, o quanto antes!

— Foi um grande deslize, me desculpe. Deixarei aquela sessão restrita até o encontrarmos — um rapaz alto, magro de terno preto, com uma barba malfeita e cabelos escuros até o ombro, falava em tom baixo. Rumpel estava furioso e de expressão cansada, ao contrário de Joshua, que trajava um terno preto muito elegante.

Eu e Petúnia observávamos a conversa ao passarmos perto da entrada da biblioteca. Disfarçamos os olhares curiosos e descemos para o primeiro andar, rumo ao refeitório. Brok estava sentado sozinho na última das três mesas.

— Pega leve, Petúnia.

— Vou tentar — murmurou. Juntamo-nos a ele.

— Boa tarde, Pan — disse o garoto, mexendo sua sopa de ervilhas desanimadamente com uma colher de madeira — O que essa menina está fazendo aqui?

— Como sabe que estou aqui? — questionou Petúnia erguendo a sobrancelha direita.

— O perfume. É horrível — reclamou Brok, franzindo a testa.

— Gente, vamos lá, sem perder tempo — interferi antes da discussão começar — Precisamos conversar sobre um assunto a três.

— Sei, podemos começar então — concordou Brok.

— Melhor discutirmos em outro lugar — respondi ao olhar para os lados e notar algumas cabeças esticadas, bisbilhotando-nos. Levantamos apressados. O garoto apoiou sua mão em meu braço e lentamente nos distanciamos do refeitório.

— Quando nos conhecemos, você me disse sobre os boatos da criatura que sequestra crianças. E que Lola foi sua primeira vítima, certo?

— Sim... mas, Pan, Rumpel nos proibiu de falar sobre isso. Ainda mais aqui no meio do Pátio! — advertiu.

— Então vamos para o subterrâneo — guiei Brok para a entrada das escadas caracol. Petúnia se manteve em silencio, mau humorada. O pátio estava mais sombrio que o normal. O tempo lá fora devia estar nublado, já que um tom cinza pincelava o ambiente. A vitrola continuava a tocar Mozart, incansavelmente.

Entramos pela porta da escadaria e descemos lentamente os degraus.

— Em meu primeiro dia, vi um daqueles desenhos por aqui — passei a mão pelas paredes enquanto apertava a vista.  As velas não estavam tão fortes, fazendo nossa sombra cobrir qualquer coisa entre as paredes velhas — Aqui! Vejam: "O lobo que rasteja nos observa".

— O lobo que rasteja...? — perguntou Brok apreensivo.

— Nunca ouviu falar que a criatura era um lobo, seu desinformado? — questionou Petúnia sem paciência.

— Como eu vou ver o desenho se sou cego, sua idiota? Onde está escrito isso, Pan?

— Bem aqui nessa parede. Nela também tem o desenho de um lobo. Sejamos realistas. Alguém está botando medo nos irrecuperáveis com essa história e nos desviando dos fatos verdadeiros.

— Jura? — ironizou Petúnia — Só um trouxa acreditaria nesse lobo. E a maioria deste orfanato acredita.

— Então quem estava na superfície na noite em que Lola foi pega? E a merda do rugido que escutei? — questionou Brok.

— Pode ser qualquer um, menos um lobo! — rebateu ela bufando — Se quer um pouco de inteligência nessa cabeça careca então pare de ficar dependente desses drenadores. Olhe só para você. Deve acreditar até na chapeuzinho vermelho.

— Infelizmente Petúnia tem razão, Brok. Não sei como explicar os rugidos, mas se começarmos a usar essas máquinas o tempo inteiro para tentar descobrir mais coisas nossas mentes e corpos ficarão exaustos.

— Está bem, mas e aí? O que sugerem então?

— Se existe algo além da nossa compreensão, veremos com nossos próprios olhos. É arriscado, mas não temos muitas opções. Vamos descobrir quem está por trás disso hoje à noite.

— E quando descobrir, vou esquartejar o indivíduo e desmembrá-lo — afirmou Petúnia, diminuindo os passos enquanto descíamos.

— Um momento — interrompeu Brok — Está sugerindo irmos para a superfície a noite?

— Sim. É exatamente o que faremos.

 É exatamente o que faremos

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I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now