ATO 17

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O preço para se amar, é mais caro do que para esquecer.

O preço para se amar, é mais caro do que para esquecer

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Brok e eu estávamos em um beco sem saída.

À frente, uma extensa parede de rochas.

Aos lados, árvores espinhosas. E atrás, pássaros negros e enormes vindo em nossa direção como demônios aéreos.

— O QUE FAREMOS?! — gritei desesperada.

— Usaremos a cabeça! — Brok sacou de seu bolso um isqueiro prateado — Vamos! Me dê sua lança um momento — logo após, amarrou em sua ponta um emaranhado de visgo que pegara de um dos troncos, e o incendiou — Temos uma tocha temporária, passaremos pelo meio deles, ou morreremos aqui mesmo!

— Está bem! — confirmei segurando na lança em chamas. Ambos nos entreolhamos.

Os pássaros rasgavam o ar ao nosso alcance. Disparamos na direção deles. Alguns se distanciaram ao ver a claridade do fogo, outros voavam em círculos por cima de nós. Continuamos correndo, tentando amedrontá-los.

— Brok! Eles não estão indo embora! — ao notarmos, estávamos cercados pelas aves, como num redemoinho alado. Elas batiam suas grandes asas, deturpando as folhas ao redor. Possuíam cabeças estranhas, parecendo ser de outro corpo. Do peito para cima era um bode, abaixo, uma águia. Um pouco à frente, alguns cipós. Corri em direção a eles e com a pedra que usei para criar a lança, os cortei.

— O que está fazendo?!! — sussurrou segurando a tocha o mais alto possível para dispersar as aves.

— Empreste isso um pouco! — puxei a tocha de suas mãos e amarrei o cipó na parte de baixo — Abaixe! — ordenei. Segurei com a mão direita o cipó preso na tocha e o girei por cima da cabeça. Uma, duas, três vezes, até um vasto círculo de fogo criar forma. As águias, como moscas sem rumo, esvoaçaram-se para lá e para cá, soltando urros assustadas ao ver o fogo se espalhar. Brok usava os dois braços para se proteger das faíscas.

Logo, todas fugiram amedrontadas.

O silencio voltara.

— Que plano maluco! — reclamou Brok levantando-se e tirando a fuligem de suas vestes.

— Foi uma ideia melhor que a sua — debochei — Que Diabos eram aquelas coisas?

— São criaturas dos sonhos. Foram feitas exatamente para isso. Atrapalhar os participantes e até mesmo, matá-los — Brok parou de falar ao ouvir mais barulhos por perto.

Olhos amarelos saiam das moitas escuras, semblantes assustadores caminhavam devagar para a pouca luz vinda do céu cinzento.

— Essa não... Tigres-Guaxinins! Agora estamos ferrados! — Gaguejou Brok dando passos para trás, puxando meu braço — Esses não podemos enfrentar, Pan! É morte na certa.

— Mas que inferno! — resmunguei.

— Com calma, caminhe de lado para sua esquerda — Sussurrou, não tirando os olhos dos tigres. Eles eram mais peculiares que as aves, já que tinham uma cabeça menor que o corpo, com olhos profundos, amarelados.

Um deles segurava pela boca um cadáver pequeno, ensanguentado, de um dos participantes, pendurado em seus dentes como um boneco de pano.

Os outros rosnavam prestes a dar o bote.

Caminhando lentamente para a direção em que Brok indicara, pude ver um grande lago.

— No três, corremos e pulamos — concluiu. Antes da contagem, os animais mortais avançaram em nossa direção como vultos, abrindo suas bocarras de guaxinim.

— Três! — saltamos rumo ao lago.

Ao olhar para trás, tudo ficou em câmera lenta na minha mente. Um dos predadores se aproximou de Brok a tempo de golpeá-lo nas costas com suas garras afiadas. O garoto gritou de dor, ainda no ar, enquanto o tigre pairava com a pata cheia de sangue, e eu, de encontro com a água negra logo abaixo.

Prendi a respiração e fechei os olhos. Meu corpo sentiu o impacto da água fria e remexeu minhas entranhas. A pele arrepiou e meu coração acelerou.

Ao abri-los, já estávamos afundando em algo que parecia o limbo. Brok flutuava inconsciente, junto com o tigre que o atingira. Afundávamos como pedra. Felizmente a água, apesar de escura, era limpa, facilitando a visão. Foi naquele momento de clareza que avistei mais criaturas estranhas, desta vez, vindo das profundezas.

Não possuíam pernas, mas tentáculos, com corpos misturados em uma espécie de polvo e peixe espada. Eles usaram os tentáculos para nos puxar ainda mais para o fundo. Com a perna esquerda, golpeei a criatura para que me soltasse, e funcionou. Nadei rapidamente até Brok para pegá-lo, mas era tarde, o garoto estava fundo demais para alcançá-lo. Minha respiração estava escassa, os pulmões imploravam por ar e as criaturas marinhas não paravam de aparecer.

Não tive escolha. Tive que me salvar. Ao dar uma última espiada para baixo, o polvo se enrolava no corpo do tigre morto e o trucidava. Brok já não estava mais visível. Cheguei à superfície e nadei em direção as margens do lago, longe das criaturas guaxinins, e das aquáticas, sem fôlego.

Aquilo não podia ser um sonho. Era um terrível pesadelo.

 Era um terrível pesadelo

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I - Onde Vivem Crianças IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now