Diferenças

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Olá João! Tudo bem? Disse ele sorrindo como da última vez. (porque será que eles sempre sorriem quando perguntam se a gente está bem se eles sabem que a gente está muito mal?).

Enfim, seguindo a cena: "sim! Estou pelo menos melhor do que da primeira vez que cheguei aqui no"piloto-automático". Vim sem pensar. Mas, cheguei.

Que bom que você me diz que está melhor!

Na realidade nem sei se isto é verdade. Me sinto mais diferente do que melhor. Podem ser os comprimidos Portela (azule branco) que o psiquiatra me deu para me acalmar. Que seja. Pelo menos não fico dopado que nem uma onça em cima de uma árvore comas pernas pendidas... (ele riu). Aliás ele tem rido das comparações que faço. Escape. Válvula de escape, é assim que chamam? Sei lá.Me, ,e preocupo com isto. E, se tiver que dizer palavrão vou dizer mesmo e pronto. Sempre disse até que um dia uma "novinha"metida a gerente resolveu me chamar a atenção por eu numa reunião de trabalho ter falado. Minha resposta? Não fui eu quem escolhi a equipe. Aliás não escolheria 80% das que vocês escolheram. Nem sabem escolher. E ainda ficam me enchendo o saco com mimimis. Bom,acabei pedindo demissão sem que nunca os responsáveis soubessem o motivo. Achei prudente não complicar isso.

Mas, e ai, João, o que te leva a dizer que estás diferente?

É, antes disso tudo começas, ou no começo, sei lá, mas num dos dias em que a tristeza bateu lá no meu fundo resolvi escrever porque eu estava triste daquela forma. Nem conseguia chorar. E isso me perturba porque mesmo que sempre tenham dito que homem não chora (na minha época era assim; agora, nem tanto, não é?)eu não conseguia chorar naqueles meus momentos de tristeza profunda.

E, num desses dias, resolvi fazer uma lista das coisas que o tempo foi tirando de mim. Ou eu abandonando mesmo, sei lá. Nem sei se consigo lembrar mas acho legal (se você quiser),anotar porque, quem sabe, um dia a gente pode precisar voltar a alguma dessas coisas.

Não leve em consideração importância ou qualquer outra ordem. Essas coisas fora saindo do fundo da gaveta conforme eu ia revirando, pegando coisas, lembrando de outras, de momentos, de sensações, de cheiros... mas vamos lá: sinto falta de gente que se dizia amigo (aliás o Milton Nascimento me enganou). Acho que amigos mesmo eu conto nas minhas duas mãos e sobram dedos.... sinto falta de amor verdadeiro, não daquele amor de mãe mas de amor conquistado. Sinto falta de viajar, de olhar pela janela do trem que ia por entre trilhos que balançavam o vagão, de estradas desconhecidas. Talvez hoje em dia sinta muita falta de soltar uma daquelas gargalhadas dobradas. Rir na hora do almoço do trabalho comas histórias e os problemas sendo falado ali e ninguém saber resolver... sinto =falta dos colegas que colocavam primeiro o arroz no prato e depois encostavam a concha no arroz e colocavam ela na tigela do feijão, levando uns brancos lá pro fundo. Me sentia um grande incompetente porque não conseguia fazer isto mesmo que tentasse com toda a concentração possível. E dizia para cada um dos que faziam isso. Mas eles continuavam a repetir, dia após dia.Mas é assim, já dizia dona Antônia, minha professora no primário:"não adianta eu repetir 100 vezes a mesma coisa se vocês não quiserem aprender! Vão ficar adultos burros! (naquela época poderia dizer isso mas hoje você iria preso!).

Sinto falta de muitos olhares doces que me olhavam desde muito tempo: se perderam nesse mundo. Nem sei por onde andam ouse andam. Sinto falta das farras dos tempos de colégio, de subir em árvores, de comer fruta no pé, tirada madura não dessas pesadas em mercados. Sinto falta de cumplicidade, de falar baixinho, de sentir outra pele no meu corpo. Sinto falta de andar pela praia chutando areia e a água que espuma entre nossos dedos do pé.

Acabou? Minha lista tem mais... ok, continuamos da próxima vez...

Terapia - Muitas VidasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora