Meu espaço sagrado

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Não é um altar, João, e na realidade são alguns...

São lugares onde guardo as minhas coisas de uso pessoal, de meus passatempos. E são poucos diante dos espaços ocupados pelos restantes membros desta comunidade.

Por ter trabalhado mais de 32 anos com informática, me acostumei a ter uma "mesa de trabalho" onde somente eu mexia. E limpava. Então, tempo suficiente para "achar que tenho este espaço" até hoje mesmo sabendo que não levarei no meu caixão! Ma não consigo deixar de me irritar quando alguém tira alguma coisa do lugar que eu coloquei ali. É brabo isso até por ter nascido virginiano... Já tive momentos piores. Berrava, gritava... hoje já consigo olhar e dizer para mim mesmo: desapega! Essa porra toda vai ficar ai; nada disto te servirá. E tenho "melhorado" neste aspecto. E o neto tem me ensinado isso porque ele faz uma zona na minha área de atuação... e depois eu vou arrumar em reclamar.

Tem meus materiais de artesanatos que aprendi e tentei levar adiante desde que essa confusão toda começou. Tem ferramentas que usava para esculpir madeira. Tem material de fazer sabonete, contas para colares e terços tibetanos, linhas para tecer, teares desmontados e mais outras coisas complementares.

Não acho que seja ciúmes. Entendo que seja zelo e cuidado porque, por exemplo, as ferramentas, podem machucar quem pegar ou tentar usar. Mas, até que este "espaço" tem sido razoavelmente respeitado apesar do livre acesso.

E o meu material de cozinha? Isso até mereceria um capítulo inteiro mas vai ter que caber aqui!

Tenho formação técnica em cozinha, panificação e confeitaria. Era para trabalhar nesta área, inicialmente como empregado mas o máximos que consegui foi estágios em restaurantes tops de linha. Era velho para aguentar a rotina era a desculpa para me liberarem. Mas, aprendi muito naqueles dias.

Tentei voar sozinho. Consegui fazendo e vendendo meus pães numa "feirinha" que foi montada numa das empresas onde trabalhei. Foi um tempo bom pelo aprendizado e pelo que ganhei. E uma verdadeira loucura fazer o que fazia dentro de uma pequena cozinha com o forno de um fogão doméstico. Investir para ter um lugar adequado seria tomar dinheiro emprestado num banco e trabalhar como escravo para pagar o juro e amortizar o principal. Desisti. Ainda fiz algumas outras coisas que conseguia vender. Foi bom enquanto durou. Outras tentativas foram desestimuladas dentro da minha própria comunidade.

Mas o material que consegui comprar ainda tenho a sensação de me pertencer. Algumas coisas já desapeguei, outras vou acabar desapegando mas tem coisas que não sei se conseguirei. Agora, sei que não. Mas, segue o baile.

Tive poder de compra de bons utensílios. Comprei uma batedeira dos sonhos: a minha Ferrari. E o amor por ela é muito grande. Facas, tigelas e outros trequinhos. Fizeram parte do meu sonho de trabalhar na área de alimentos. Está sendo duro mas já consigo ver sendo usado por outras mãos... As panelas foram compradas para a comunidade num dos planos econômicos do passado estão resistindo há 30/40 anos, sei lá quanto.

Sei que tudo isso vai ficar ai. Sei que estou repetindo e isto é o mantra que uso para me desapegar, esvaziar meu baú. Apesar de lentamente, tenho tido progressos.

E, já tenho planos de trocar tudo isso que acumulei por uma mochila, o mínimo de pertences e sair pelo mundo.

Terapia - Muitas VidasWhere stories live. Discover now