Pensamentos soltos

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Hoje João me falou sobre alguns pensamentos soltos que estão passando pela sua cabeça. Isso até parece ser interessante porque normalmente ele é meio fechado sobre essas coisas dele mesmo.

Carlos, hoje me dei conta que estou reaprendendo a dizer não. Sempre seguia em frente fazendo as coisas, me aborrecendo ou não mas hoje me dei conta que não preciso fazer o que não quero. E sabe porque? Reciprocidade! É essa palavra engraçada até para escrever.

Se os outros não fazem as coisas ou que eu peço ou que eu preciso, porque eu tenho que fazer o que elas querem.

Não preciso, também sobre o que não quero falar. Porque falaria sobre alguma coisa que já sei, de antemão,que vai gerar confusão.

Lembras daquele cara que eu te falei, que esteve como meu chefe um tempo atrás e me soltou essa: "você é muito polêmico!". Sim, respondi, prontamente: sabes porque? Porque eu penso! Sempre tive que encontrar soluções. Nada chegou com receita para eu executar. E o clima ficou pesado a partir daí. Bom, mas o importante é que eu aprendi que não preciso falar sobre o que não quero.

Em contrapartida lembrei que isto pode me levar a também querer fazer as coisas que podem me dar alegria, que me façam dar das gostosas gargalhadas ou, simplesmente, a alegria de olhar e pensar comigo mesmo: tu é foda! Tu não acredita as que era capaz de fazer mas foi andando e pensando como poderia transpor cada dificuldade. Isso é libertador! Eita, hoje estou cheio de palavras novas. Essa foi um dos meus anjos-da-guarda né ensinando a me libertar de certos bloqueios.

Sabe aquelas freadas que os motoristas de ônibus dão, pisando e soltando o pedal para arrumar o povo que viaja em pé?Me lembrei que também posso fazer isso: digo o que me é libertador e me calo. Sim, bem assim. Colocar o outro pra falar, se esguela r(outra nova) e ficar olhando com cara de paisagem. Porque só os que se acham poderosos podem gritar e dizer o que querem? Lembras do ditado "quem diz o que quer, ouve o que não quer!"

E por falar em dores, como é muito complicado você sentir o coração vazio, sem motivos para nada. Os dias passarem vazios. Os dias passarem calados não por escolha tua mas por te deixarem: tanta gente tem ido embora sem aí menos uma despedida.

Tu não tens ideia da saudade que eu estou de você

E lá vem João com o seu coração em frangalhos falar de pessoas que moraram em seu coração por um período ou por outras questões da vida e que ou partiram de vez ou se afastaram por conta dessa vida louca.

Foram amores sem serem materiais. Foram amores de poesia que nasceram e morreram numa primavera como um que tinha até nome de flor: Verbena. Teve escritos em um caderno de poesias. Mas foi "platônico" não é assim como aquelas paixões de alunos pela jovem professora de inglês...? Pois é, essa flor deixou o perfume e foi embora.

Uma outra, um amor diferente, mas numa situação que lhe incomodava: os pais, descendentes de franceses e ele, diretor de uma grande indústria da área de alimentos. Com ela conheceu a cumplicidade, o brilho dos seus olhos azuis-esverdeados, dos cabelos alourados e da blusa do uniforme sempre impecavelmente passada. Uma mor puro, sem contatos, mas que dava a ele alegria de viver aqueles momentos em sala de aula, no recreio ou na casa dela, quando convidado. João, volta e meia me diz que gostaria de saber o que virou a vida dela.

João sempre foi assim meio conselheiro das amigas. Elas sempre recorriam a ele para contar seus perrengues ou para pedir ajuda. Houve casadas que viviam momentos de conflito no casamento e era ele o ombro amigo. Ouvia, falava o que podia ou que seu coração liberava para ele dizer. Convivia, quase diariamente nesta função de padre em confessionário: mas sem dar penitência...

Enfim, resolveram seus relacionamentos e reiniciaram suas vidas com os filhos do casamento que não vingou.Assim, afastaram-se e quando perguntadas ou como quando ele pedia pela presença mais constante sempre as "desculpas"costumeiras.

O coração dele "chorava" por conta destas ausências muito mais pelas alegrias que elas davam do que pela falta que faziam. Mas tem sido assim. Como capítulos curtos de um grosso livro da vida longa de um personagem denso e emaranhado de relações.

Teve amores impossíveis que nasceram no meio de dores terríveis e situações complicadas que começaram com um pedido de "me dá um abraço?" E esse abraço, que se repetiu outras vezes selou uma relação que os colocou juntos em várias situações inimagináveis como a constrangedora passada na portaria de um hospital onde ela havia se internado e operado de uma complicação conseguida malucamente. Ele a conhecia apenas pelo "nome artístico": um personagem construído por ela e vivido na vida real como se ela não existisse. E nada de achar nenhum paciente com aquele nome até que ligando para ela, em meio a uma sonora gargalhada deu a ele o nome certo, que acabou sendo motivo de chacota dos funcionários do hospital. Na enfermaria ela contou o motivo. E assim, João a visitou diversas vezes. Hoje, linda e saudável, longe das complicações da vida, segue construindo uma nova vida. E eles se falam. Esta ainda permanece com o "cordão umbilical" atrelado. Uma relação intensa.

Terapia - Muitas VidasWhere stories live. Discover now