Os barulhos nossos de cada dia

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Oi, João, vou continuar a falar das coisas que tenho percebido e essas percepções são boas ou más dependendo do ponto de vista de quem as ler ou sentir.

Preciso te falar das coisas que os barulhos têm feito sobre a "minha cabeça".

Com a pandemia, que eu tenho associado ao "fica ali sentado pensando" de nossas antigas mães, quando fazíamos muita bagunça.

Mas porque você pensa assim? Tudo não foi provocado por uma "doença" desconhecida?

Essa é uma das formas de se pensar sobre isto, mas, outra hora conversamos sobre isso, tá bem? Muita subjetividade nos meus pensamentos, observações e intuição agora que a poeira baixou.

Voltando ao barulho: acho que minha cabeça estava gritando para que eu encontrasse uma forma de sair da vida que estava seguindo: acelerada e barulhenta como um formula 1. Isso não estava sendo bem assimilado. É como tenho percebido nestes últimos tempos.

E, por termos passados mais de dois anos "trancados" em nossas casas, os barulhos diários foram reduzindo como uma consequência inevitável (para mim) pela falta do que fazer fora de casa. Aqui, onde moro, às 20 horas já vira um cemitério: sem barulhos!

Durante o dia ainda é possível que se escute alguns barulhos porque, afinal de contas as pessoas saíram da tumba e foram à vida. Talvez, até, estes barulho que chegam de fora do meu casulo, diariamente, não me incomodam tanto. Ma alguma situações viraram mais críticas do que desde sempre faziam parte do meu viver.

Por exemplo: Não porque eu não goste da música "pagode" mas o fato das pessoas que gostam quererem IMPOR ao que estão nas cercanias a compartilhar do mesmo gosto. Assim, o "som" é colocado numa altura que realmente incomoda aos outros. E ai, eu começo a pensar porque não respeitam o direito do próximo? Será que se eu colocar minhas músicas de relaxamento em alto volume numa caixa de som daquele mesmo tamanho, nas janelas, vão ficar todos calados? Sinceramente acho que vou sofrer represálias.

Ai começo a escutar o novo mantra: você tem que aprender a conviver com os diferentes. E eu sempre faço duas perguntas: a primeira delas é, invariavelmente, como faço isto quando os diferentes estão tirando meu sossego e meus direitos? Ainda não consegui uma resposta que me ajudasse a conviver "numa boa" com isso. A segunda, porque os outros não têm que fazer isto: respeitar os direitos dos semelhantes?

Putz, sempre que me envolvo com isso só arrumo mais confusão para mim. Coloco mais problemas dentro do meu baú e eu preciso esvaziá-lo para poder por o pé na estrada da vida. Só terei uma pequena mochila até porque meu velho corpo já não consegue carregar muito peso.

Tenho procurado algumas alternativas para evitar que isto me bagunce o sistema. Preciso trocar a versão atual porque já está fora do contexto. O mundo já lançou novas coisas...

Durante uma parte da minha caminhada era criticado por colocar fones nos ouvidos para ouvir meus "walkman" da época. Tirava as músicas para ouvir os blá-blá-blá dos outros. E que muitas vezes não me interessavam. Hoje em dia estou tentando me reacostumar a usá-los não só para baixar os barulhos que vêm de fora como para levar alguns sons que me trazem o benefício de acalmar. Acho que tenho conseguido apesar de saber que incomodo a comunidade de grilos que se instalaram nas cavernas do meu ouvido direito. Pode ser que quando eu for ao médico ele me diga para parar com isso e faça um discurso técnico para explicar a desarmonia que isso provoca. E, ai, vou voltar a ter que procurar outra forma. Ok, faz parte do protocolo da vida: adaptar-se ao que não posso modificar, de forma serena.

Mas eu tenho percebido que depois de experimentar um longo tempo em que ficava absolutamente sozinho no silêncio, por ficar 2/3 da semana assim, hoje o que mais agride minha vontade de ficar assim como gato de armazém (sentado sobre um saco de comida, dormitando. Apesar de esperto para eventuais perigos são os barulho internos na caverna!

Assim, uma batida de panela ao ser guardada faz com que eu "me assuste" e isto provoca um desassossego que por mais que seja pequeno me incomoda.

Tá, eu sei que você vai dizer que eu tenho que aprender a viver com os diferentes, que todos somos diferentes, que nada fica para sempre, que a vida é impermanente, que viver é se adaptar ao sistema... ok, tudo isso me parece bonito de se dizer, de se usar como um "remédio" para os outros. Mas será que quem aconselha os outros a fazer isto, faz? Se faz, porque não me ensina? Não recebi o Manual para esta minha vida ou o protocolo que eu deveria seguir...

Só para você ter ideia de como isso me desestabiliza, esse conjunto de textos que comecei a escrever, eu comecei nesse período em que tudo era silêncio em volta. E parei um tempo razoável que você pode ver entre as datas. Minha proposta era uma por semana... Agora, nesta semana, Juliana, me estimulou a pensar em 3 temas (que eu estou pensando em mais um) para quando me encontrar com ela trocarmos ideias sobre eles este já é o segundo e pretendo terminar os outros dois.

Com isso me senti obrigado a descobri "momentos" do dia em que eu consigo sentar e escrever. Aliás escrever é uma atividade prazerosa porque a partir de um tema eu vou embora até passando de limites que eu me estabeleço.

se você, João, ou você que está lendo sabe um atalho para isto, por favor, me ensine.

Sei que os próximos tempos serão de muito barulho. Muito choro e ranger de dentes como está escrito. Mas vamos lá. Como dizem os militares "missão dada é para ser cumprida. E o meu chefão me incumbiu de viver essa vida de agora desta forma: aprendendo!

Até o meu silêncio de cada dia.

Terapia - Muitas VidasWhere stories live. Discover now