Água e vinho

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Ontem, João, resolveu fazer uma coisa que estava há muito tempo desejando fazer: caminhar à beira da água. A vontade já havia se manifestado outro dia, "por acaso", quando tudo que saiu pra fazer acabou jogando-o em outra direção assim como as folhas do outono ao sabor dos ventos.

Era para ir fazer sua sessão semanal de acupuntura. Era! Ao tomar a primeira de duas conduções para chegar à clínica, recebe mensagem dizendo que não poderia ser atendido: problemas pessoais. OK, vamos à página seguinte!

Foi induzido a ir verificar a quantas andava meu pedido de primeira consulta numa instituição federal. Pegou, então, outra segunda condução e desceu bem na porta. Pergunta para um, pergunta para dois até que chega a um balcão de informações.

As perguntas que certamente não levam ao objetivo foram feitas e respondidas (os remédios estão fazendo seu trabalho). E a resposta não desejada: "todas as primeiras consultas estão suspensas!" E o complemento "quando o senhor fez o pedido?". Ora, se pediu dados para minha indicação e consultava o "sistema", deveria constar alguma informação. Mas não...

Ai, sua intuição disse ao pé do ouvido: você tem o email que enviou o formulário solicitado no celular. Ai, lá foi ele verificar e estava lá a data, que era anterior ao "dia do corte"! E a resposta nada consoladora mas, mas com um fio de esperança: aguarde que o senhor vai ser chamado.

Agradeceu e caminhou meio que sem bússola até o portão. Ai resolveu andar em direção à praia da Urca. No caminho, relembrando os preparativos para as Olimpíadas do Rio, foi revendo lugares e o que viveu naquele canto do Rio de Janeiro. E, nesse caminho, lembrou da Pista Cláudio Coutinho, que contorna o Morro da Urca (o primeiro no caminho do Pão de Açúcar). E lá foi ele.

Caminhando devagar entre o mar e a montanha, foi deixando a cabeça viajar pelas boas sensações do momento. Parou para algumas fotos. Encontrou o início da trilha que leva ao topo do morro. Mas ao olhar para ela, uma sensação de impotência misturada com tristeza veio lembrar: ainda não dá para subires por ai sem antes caminhares mais para poderes habituar teu corpo ao esforço necessário para chegares lá. E, com uma companhia, seria mais adequado, ainda.

Seguiu em frente. Chegou no fim e viu a argentina, que passou batida por ele, sentada, curtindo aquele marzão lindo de um dia ensolarado. Trocaram algumas palavras em português, espanhol e portunhol, coisa comum entre os dois quando não dominam o idioma do outro. Despediram-se e voltou. No caminho de volta, uma palavra com uns pescadores e mais à frente a argentina passando batida desejou-lhe bom regresso, ao que retribui sem saber o destino dela...

Mais um pouco de caminhada, pegou a condução de volta para casa. Chegou muito cansado e, ao verificar o quanto havia sido registrado no aplicativo, se assustou. Mas, um tempo sentado e um copo de água fresca foram o suficiente.

Isso lhe deu gosto para novas caminhadas. E, ontem, resolveu ir caminhar do Leme até onde aguentasse de Copacabana. Animado, ao chegar à praia, tomou o caminho do Leme pois lembrava de onde já havia comido uma sardinha frita daquelas (apesar de nada comparável às do Beco da Sardinha que já existiu no centro da cidade). E lá foi ele. Caminhou até o final e pode, novamente tirar fotos e fazer vídeos). De volta para a calçada, seguiu seus propósitos. Caminhou até o ponto de pegar a condução de volta para casa.

Ao chegar, verificou que havia andado mais do que no dia que fora à Urca e não sentia cansaço. Chegou "inteiro"...

Planejou voltar no domingo, para aumentar um pouco mais o percurso. O amanhecer chuvoso não o animou. E resolveu depois de sua sessão de meditação, vir escrever este relato quando a porta abra da maneira que ele já sabia quem estava entrando. E não era quem havia dito que estava vindo.... Dessas surpresas que ninguém gosta de receber mas, que não pode trancar a porta e impedir.

E, quando esta pessoa chega, ele sempre espera a chegada do neto para suas migalhas de carinho. Mas, não. Ele havia ficado no carro... Ela entrou, deixou alguma coisa em algum lugar e perguntou pela filha (coisa que sempre faz). Perguntou ao João se ele estava bem. Ao que ele respondeu que não sabia. Só isso e um selinho antes de ir embora, novamente.

E, João, pensou, novamente: Não existe falta de tempo. O que existe é prioridade! E ele, mais uma vez, teve o sentimento aflorado de que não é mais prioridade para muita gente. Apenas uns poucos ainda o tê como prioridade em importância. Os demais, escorreram pelos dedos das mãos como quando queremos pegar água.


(Apenas para estabelecer um referencial, o ontem foi 14/05/2022)

Terapia - Muitas VidasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora