Um dia completo

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João, agora quem precisa de ajuda. OK, vamos lá...

É sobre a chegada da noite. Não exatamente a noite. Fico desconfortável e penso "porra! já vem ela de novo. Daqui a pouco jantar, tomar banho, tomar os remédios (só aumenta a caixinha...) e deitar!

Tento pensar que o dia foi menor. Mas não foi. Tem as mesmas quantidades de horas do que todos os outros. Ou será por causa dos inverno onde as noites são mais longas.

Pensei agora, enquanto escrevia que poderia ser pelos momentos que ficarei sem ver nada? Nem pessoas, nem falas, nem imagens com que eu possa interagir de alguma forma?

Mas, normalmente meus dias também são assim: vazios. Sem ninguém pra conversar. E até penso nas faltas que eu sinto. (noutro capítulo eu vou falar).

Meus dias, enquanto claros ou escuros, têm sido sempre assim. As conversas são comigo. Acho até, não, tenho certeza, não sei. Aliás deixei de ter certeza, razão, vontade, essas coisas...

Me descobri sendo meu melhor amigo. Converso comigo, falo comigo mesmo. Peço ajuda, me questiono, enfim esse meu outro eu, assim como você, mas sem ser você, é meu melhor amigo. Me acompanha para todos os lugares onde vou. Me ajuda a descobrir lugares onde nunca fui. Procuro nas figurinha de minha mídia social lugares que poderiam encher meus dias. Estar sozinho o tempo todo, dormir olhando as estrelas e a lua.

Só que ai, também penso, sozinho? E ai as conversas sempre vão mudando. E eu nem sempre consigo terminar um assunto. Tá, coisas de quem aprende a avaliar a alternativa para aquilo que vai fazer. E isto entrou no meu "sistema". Entrou no automático. Começam a chegar respostas: não posso ficar num lugar totalmente isolado porque posso precisar de ajuda. Que tipo de ajuda se para isso é preciso de um "check-list" que normalmente carrega coisas que não serão precisas e até se esquece de coisas necessárias. Mas o que é necessário? O que precisamos para ficar sozinho além de nós mesmos? Tá bem. Você pode estar pensando que eu sou maluco mas para cada lugar, devemos levar coisas diferentes. Eu sei disso. Mas precisamos trabalhar isso caso contrário levaremos peso a mais que até pode comprometer o que vou buscar.

E assim, esse novo caminho segue. Paro. Quero voltar. Preciso voltar pois no dia a dia que estou vivendo, no silêncio que está agora, só ouço os grilos que invadiram meu ouvido direito. Mas tenho que esperar até chegar a hora de cuidar disso. Será que Deus colocou eles no meu ouvido para reu aprender a ter mais paciência, para dominar a minha ansiedade e a velocidade de resolver as coisas, de se envolver com muitas coisas para resolver, de aceitar mais coisas do que as que realmente são minhas? Pensei nosso. Mas, estou conseguindo tirar o pé do acelerador. Tenho pensado no ponto onde quero ir e não no tempo que eu vou gastar para ir de cá para lá.

Isso está sendo legal. Quase não tenho dirigido atualmente. Um pouco de miserabilidade (pelo gasto que terei) e um pouco pela praticidade. Afinal, quem vai se estressar no trânsito é o carinha do banco lá da frente. Eu fico ali, olhando a paisagem, sem olhar para relógio porque o aboli ultimamente também tenho evitado usar o celular enquanto fora de casa. Um meio de me desgrudar dele e me dedicar a nós. Então, não vejo as horas passarem. só tenho percebido noites chegando e dias acabando. E percebo que não fico pensando e lastimando o que era pra fazer e que não fiz. Estou praticando o "se der, deu se não der, ferrou" (mais ou menos isso).

Não percebo culpa por isso nem apreensão por precisar ir dormir sem ter completado as tarefas dos dias. Aliás, para mim, todos os dias são iguais. Só me preocupo em saber os dias da semana porque ainda é necessário para a convivência atual. E em alguns deles, tenho agenda preenchida com assuntos ou pessoas muito importantes. Noutros é ficar no meu canto escrevendo, ouvindo música (até para perturbar os grilos) e me distrair. Mudo as trilhas sonoras, misturo, procuro outras músicas. E assim vou. Faço alguma coisa na cozinha. ligo a TV (e desligo logo porque nada me agrada). Tento ver filmes mas não consigo achar graça em nada do que acho. Nem séries como o povo adora falar.

Comecei a me dedicar a escrever textos, histórias, sei lá que nome pode ser. Procurei lugares. Pulei de um ligar para o outro e agora, depois de uma ré-arrumada estou por aqui. Todos começaram como textos para livros a serem publicados. Não deu certo. Então resolvi colocá-los aqui para quem gostar de lê-los.

Essas são minhas atividades do claro (dia). E as da noite? Estas são completamente invisíveis. E o protocolo começa com uma conversa com as divindades amigas. Faço isso já deitado. E depois de já ter dado boa noite para as pessoas que cabem numa das minhas mãos. Dai pra frente o imprevisível opera. Os aprendizados, as tarefas as reapresentações de outras vidas, os preparos para o que possa vir pela frente, as diversões, algumas preocupações, rever pessoas que saíram do meu cotidiano e por ai vai. Incluo, também nas minhas conversas as pessoas doentes ou que precisam de ajuda possível. Penso, esperando talvez uma resposta, do porque algumas pessoas se afastaram de mim. Algumas fui eu que se afastou. Não tive reposta direta, apenas suposições e, então assumi, que para as pessoas que não falam comigo é porque eu já deixei de ser importante (ou útil) para elas. Então, sejam felizes com ou sem outros. Mas... se algum dia pedirem minha ajuda, as ajudarei no que for possível. 

E ai, nesse ponto, a mão da noite me passa sobre os meus olhos e eu vou viver outra noite até um novo dia. Uma vez ou outra ela demora um pouquinho para fechar meu olhos mas não tarda. Não fico agoniado (sempre que leio ou escrevo essa palavra me vem à mente o texto de um comercial de absorventes femininos "agoniada ficava a sua avó!") esperando ela por horas.

Terapia - Muitas VidasWhere stories live. Discover now