Vivendo como num atoleiro

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A vida de quem está deprimido é meio assim como nos atoleiros. Se bem me lembro, nas épocas em que eu frequentava uma fazenda no sul de Minas, que outrora fora grande produtora de muitas coisas e no final só foram restando as vacas até não tê-las mais.

Isto rendia muitas idas e vindas. Algumas vezes sob forte temporal quando, de uma vez, precisamos para num Posto de Combustível para esperar a caixa d'água esvaziar porque era muita água descendo.

Numa das vezes, a Carol ainda era de colo, e lá fomos nós para mais uns dias por lá. Chovia, mas nada tão amedrontador. Fomos com calma. Era noite e pouco movimento na estrada.

Quase chegando lá, precisávamos sair do asfalto e encarar uma estradinha de terra que em alguns pontos era daquele barro vermelho que vira um "melê" danado para agarrar que não tem orientação de profissional. Achando que o conhecimento adquirido pelos tantos ensinamentos de "seu" Jorge, seguimos cuidadosamente com o fusquinha evitando os pisos em que poderia ficar agarrado. Mas ficamos!

Tiramos o que precisaríamos para passar a noite, criança no colo e mala nos ombros seguimos pela estrada afora guiados pela luz da lanterna.

O resto é o resto.

Mas como quero falar, num atoleiro você chega num ponto que ou você atola de vez e só sai rebocado ou consegue chegar em solo firme e seguir em frente.

Nestes dias experimentei uma nova sensação com a minha vida atual: achava que já estava saindo do atoleiro e cai em outro que me fez patinar até conseguir, aos solavancos, piso para sair.

Os bate-bocas que me fizeram entrar neste atoleiro em que vivo, apareceu, do nada, apenas pelo gatilho de uma pergunta diante de um problema doméstico.

Mas, como dizia o Faustão (nos tempos em que eu via televisão) e ele passava aqueles vídeos de bêbados fazendo trapalhadas) a maldita da manguaça fez das delas. O palco foi pequeno para tanta coisa que me deixou com o coração acelerado, vontade de chorar (sem conseguir), vontade de juntar uns trapos e sumir pela rua afora (sem conseguir) até que a mão do meu anjo da guarda acalmou meu coração e consegui me calar. Mas, sem conseguir, fechar os ouvidos para tanto marimbondo girando em volta da minha cabeça. Em silêncio, rezava. Até que o silêncio foi quebrado pelo ronco num dos sofás.

Lavei meu rosto e fui pra cama dormir. Quem disse que conseguia? Uma hora fui vencido e dormi até quase de manhã. Mais calmo, nem consegui tomar o café e lá fui sentar para a meditação quando, não sei porque, o que veio na cabeça foram as primeiras palavras da oração da Ave Maria. Segui e emendei com um Pai Nosso, procurando manter a respiração como é preciso na meditação. Conseguido o foco, fui até o final. E peguei meu terço tibetano e fiz duas rodadas de 108 contas cantando mantras para aquietar meu cérebro.

Para distrair meu cérebro fui preparar meu almoço pois estava sozinho. Claro que acabei queimando os legumes no vapor mas comi os que foram salvos. Tomei banho e fui rezar na Cabana que frequento.

No caminho, focado no caminho e no que acontecia em volta, procurei manter a serenidade. E consegui.

E o que foi o estudo apresentado? Precisamos olhar para dentro de nós mesmos para encontrar a solução para os nossos problemas. E eu já havia feito esta pergunta ao psicólogo que está me ouvindo. Sem respostas, claro!

Voltei para casa caminhando calmamente pois sabia que o tufão estaria por lá. Pela milésima vez, ao colocar a chave na porta, travou! Ela estava em casa e mesmo com tantas recomendações não tira a chave depois que entra em casa. O tocar a campainha como tantas vezes o neto faz quando chega com ela, foi motivo para uma rajada de ponto cinquenta!

Entrei calado. Tirei os sapatos e me sentei para tentar encontrar meu norte. Fiz meu lanche e o tufão dissipou-se tomando a direção de fora de casa.

Novamente no silêncio pude perceber o qual atolado estava novamente. Minhas pernas patinavam e meus braços não obedeciam aos meus comandos. Até agora, enquanto digito este texto, ao parar sinto as mãos trêmulas mesmo tendo tomando meu SOS.

Era isso que precisava mostrar para quem também passa por isso: a depressão brinca contigo. Te deixa pensar que você saiu do atoleiro mas ela volta a te importunar e você volta ao fundo do poço e precisa de muita força de vontade para subir e continuar a luta para sair.

Hoje a sensação é que nada externo pode ajudar. Só você mesmo mergulhando dentro de si e negociando com cada demônio que vive nas tuas entranhas. Sem isto, nenhum tarja preta ou terapeuta por mais sábio que seja te ajudará. Isto é bagagem que você traz na viagem para viver por aqui. Você é quem precisa pegar as roupas sujas, lavá-las, pendurar e, depois de secas, passá-las, dobrá-las e guardar novamente na tua mala de viagem.

E muita paciência. Muita serenidade e muito amor a você mesmo porque nenhum amor de outro vai conseguir resgatar esta conta: só você!

Acorda enquanto é tempo. Que Deus te abençoe nesta jornada.

Terapia - Muitas VidasWhere stories live. Discover now