Terapia - Muitas Vidas

O que é a vida?

Recentemente recebi a encomenda para falar sobre a vida.

Poderia responder com apenas uma frase: é tudo que está à tua volta. Simples não? E não é uma boa verdade?

Já havíamos feito nossas orações antes de dormir, eu (74) e Pedro (7), quando ele se senta na cama (oramos deitados) e me manda essa "Vô, qual o sentido da vida?" Parei por um tempo muito pequeno e devolvi a ele: deixa eu pensar como vou poder te explicar. Você me fez uma pergunta que poucas pessoas fizeram a si mesmas.

Mas, vamos lá. Primeiro não vou te falar toda a resposta porque você não entenderia. Então, vou explicar de um jeito que você possa entender, tá bom? Tá!

Antes de você chegar na barriga da mamãe, você estava estudando numa escola. O diretor era bem velhinho, de cabelos brancos, que batiam no ombro.

Um dia Ele chegou para você e disse: menino, você passou de ano com notas máximas em todas as matérias e os exercícios ficaram muito bonitos (pinturas). Então agora você vai estudar numa nova escola que é um pouco longe daqui. Mas, lá, você vai ter duas pessoas para cuidarem de você. Você os chamará de papai e mamãe.

Para essa viagem vamos colocar você dentro da barriga da mamãe com a ajuda do papai. Vais ficar bem apertadinho mas é um lugar muito gostoso. Lá você vai começar a crescer.

Um dia, a mamãe vai abrir a porta e você sairá dessa casinha para morar na casinha que eles arrumaram pra você. Os primeiros carinhos serão feitos pela mamãe.

Então, te desejo uma vida plena. Viva. Se preocupe em brincar, estudar muito e ser um homem de bem.

Eu costumo orientar vocês que estão de mudança, que quando já souberem falar a mamãe ensinará a vocês a lerem uma cartinha para Mim todas as noites. Nós chamamos essa cartinha de oração. Mas há quem chame de reza. O mais importante é ler todas as noites antes de ir dormir porque Eu vou estar esperando para ouvir.

E, a partir dessa explicação para o Pedro, ganhei um "obrigado vovô" e nos abraçamos para dormir.

Então, agora preciso complicar mais um pouco para os crescidinhos.

Esses momentos são maravilhosos. Tudo é alegria. Nada é complicado porque sempre aparece uma alma bondosa para nos ajudar.

Mas, recentemente li um livro escrito com base em anotações em pedaços de papel ou qualquer outra coisa que pudesse ser usada com cotocos de lápis para relatar o que vivera em Auschwitz.

Para quem muito pouco sabe (livros, filmes, relatos), existem momentos que são um verdadeiro soco na boca do estômago.

As condições de vida e morte caminham de mãos dadas e tudo que pensam é "como sair daqui?".
Praticamente impossível.  No fundo só havia uma possibilidade: pelo portão da frente. Mas como? Torcer para a Alemanha perder a guerra. Aí os portões seriam abertos e cada um sobrevivesse como conseguissem. E assim foi.

Desta leitura e de outras, mas principalmente desta, forjei em mim uma resposta (que não pude contar ainda para o Pedro: Viva a sua vida tão intensamente como se você fosse morrer sem acabar o que estivesse fazendo. E o resto? Phoda-se!

A gente é ensinado a buscar ter coisas que vão ficar para trás na nossa caminhada. E, se por algum motivo sobrevivessem até a morte, muito pouca coisa caberia no caixote além do nosso corpo. Até a roupa que teremos que vestir não nos será dado o direito de escolher. E, isso também, não vale nada pois o que sobra são cabelos, ossos, baratas e vermes.

Pense nisso. Faça sempre a pergunta: isto é necessário para me manter vivo? Se não for, vá viajar e ter cada vez mais momentos felizes senão a dupla psiquiatra&psicólogo vão ter que te ajudar.