Alguns dias que parecem noites

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Então João me ligou e falou apenas esta frase. Ficamos em silêncio um bom tempo. Talvez cada um pensando o que dizer.

Acabou sendo ele a romper com o silêncio...

A cabeça fica numa agitação que mais parece uma batalha daquelas da segunda guerra que vemos nos filmes. Tudo acaba explodindo em sequência e você fica desassossegado. Não consegue se concentrar em nada para que, pensando noutra coisa, tentar acalmar aquilo tudo. Nem o remédio consegue...

Você põe música de Reiki, nada; põe Mettálica,nada; põe sertanejo, piora; nada acalma. Pega o terço e recita mantras, nada. Também como conseguir meditar?

Vai pra cozinha: pelo menos consegue, por uns tenpos, "pilar" um dente de alho com sal para temperar o arroz para comer. Soca muito até que fique uma pasta cremosa. Refoga o arroz e fica olhando a hora de colocar a água. O coração atravessa o samba! Põe água e tem que ficar ali olhando a água secar, ou ser absorvida pelos grãos. A sensação é de prisão. Grades de ferro. Parece um leão em jaula de circo quando o "domador" entra com aquele chicote e uma vara pra fazer você sentar no banquinho e fazer pose para a foto ou para as palmas.

Que merda, isso! Leão é para ficar solto na savana. Ir para onde quiser. Brincar com quem quiser. Brigar com as hienas que acham que vão roubar o pedaço de carne que ele está comendo. Não dá para ficar olhando para dentro de uma panela de arroz. Muito menos esperar a massa do pão crescer para continuar o processo.

Você só pensa em deitar na cama e dormir! A vontade é de querer dormir "uma noite inteira". Mas isso fica sempre na vontade porque nem as noites que chegam na hora certa são assim. Tem umas, então, que te acordam de tempos em tempos (parece que teu espírito volta de onde está para ver se o corpo ainda vive). E pra voltar a dormir? Você pede mas ele continua ali tentando acalmar tua cabeça para ir fazer o trabalho de todos os dias. Mas quem consegue pensar assim? Rola para um lado, rola para o outro. Puxa o travesseiro que ficou entre as pernas. Vira o travesseiro que está abraçado como que a trocar a posição da "conchinha". Acaricia ele. Puxa como se fosse o braço dele para cima do teu corpo para sentires um carinho que quem sabe te faça voltar a dormir mais rápido. Troca a posição do travesseiro onde descansas a cabeça mas parece que ele agita ainda mais o cérebro. Parece que essa mexida desarruma os neurônios e tudo fica agitado.

Finalmente, sem que você dê conta, lá se vai ele para onde precisa voltar. E, por um tempo, você nem sabe se vive. Mas sonha. Vive coisas irreais que te parecem reais: lembranças, desejos, esperanças. Sei lá. Muitas vezes, coisas pensadas improváveis na realidade que vives.

E assim, o dia vai seguindo até a hora da noite chegar e começar tudo de novo. É difícil passar o dia. Mas eu acabo achando que passar a noite é mais difícil ainda. De dia, você pode ir pra rua, andar até cansar, voltar pra casa, tomar um banho e deitar pra descansar. De noite, não. É hora dos demônios todos andarem pelas ruas e você não quer encontrar com eles. Não conscientemente. Mas até pode encontrá-los sem querer... E ai, viva-se o embate!

Todos os dias têm sido assim. Uns mais do que outros. Nuns, sozinho, sem muita coisa para pensar a não ser as faltas de vozes que você criou e não te chegam aos ouvidos nem para saber se ainda estás vivo. Nem as que você encontrou pela vida e que te diziam coisas que agradavam o teu coração. Nem as que te pediam ajuda para resolver as suas encrencadas vidas. O silêncio troca de sensações: ora gostoso, ora deprimente. Depende da lembrança. Da certeza que tens de que os donos das vozes ainda estão no mundo de cá. Os tempos de transmissão vão se espaçando como no tempo das ondas curtas do rádio (talvez você ai nem saiba o que é isso). Precisava de muita paciência para descobrir as palavras no meio dos barulhos que faziam. E, quase sempre, são das vozes que aprendeste a amá-las. Mas, fazer o que? Você sabe que não podes obrigar ninguém a fazer o que você quer (pelo menos pelos métodos naturais).

Mas é preciso seguir esse caminho já que dizem que não há cura – pelo menos para a ciência dos humanos – para isso que chegou como uma invasão na mente das pessoas desde que o "vírus chinês" foi espalhado pelo mundo todo causando tudo isso que vimos e o que ainda não vimos mas já começamos a perceber em nossas mentes.

Enfim, como dizem, há um "script" a ser seguido, sem improvisações até que as cortinas se fechem ou que o sol se ponha e a banda não toque mais. Então, vamos em frente!

E, que Deus nos proteja das maldades das pessoas boas e das bondades das pessoas ruins, como pede aquela música.

Terapia - Muitas VidasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora