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Viviane 

Cheguei mais um dia exausta do trabalho, tava cansada pra caralho, porém grata pelo salário de hoje. Trabalho numa lanchonete aqui do morro, não ganho muito, mas é o suficiente pra pagar meu curso de 200,00 e deixar um pouco pra comprar o básico daqui de casa.  Minha mãe trabalha como diarista, por muitos dias acaba ficando fora e sobra pra mim ajudar a cuidar da Laura, minha irmã de 6 anos.

Meu pai bom, aquele ali é um caso que infelizmente é perdido. Viciado demais e passa maior parte do dia fora, isso quando não traz dívidas pra casa. Já se foi o tempo aonde eu lutava por ele ou até dava meu dinheiro pros vícios. Perdi total esperança quando ele bateu na minha mãe.

Tô fazendo meu curso de maquiagem pra mim tentar arrumar um emprego melhor num salão e finalmente sair dessa casa com minha irmã, porque certeza que minha mãe jamais sairia daqui sem meu pai e se ela gosta de se sujeitar a isso, eu não vou deixar minha irmã nessa situação, não mesmo.

Geraldo: cadê tua mãe porra?

Viviane: no serviço, chega mais tarde. —falei olhar pra ele.

Geraldo: tô saindo, quando chegar quero comida. —falou e saiu.

Como de costume ele já estava bêbado mesmo sendo 18hr da tarde de uma terça feira. Já fui agilizando a comida, não pra ele, mas sim pra Laura que daqui a pouco chegava com fome. Hoje como eu cheguei mais tarde, pedi pra Camila buscar ela na escola.

Camila: tô entrando. —ouvi o grito— tá sozinha?

Viviane: tô.

Camila: Laura tá chegando aí atrás.

Viviane: de boa, e você, como vai?

Camila: consegui aquele emprego amiga, tá tudo fluindo.
Laura: vivi. —chegou e me abraçou— hoje eu
não tenho lição de casa, sabia?

Viviane: então vai la tomar um banho pra você jantar e depois a gente curti, tá bom?

Laura: beleza, já volto. —ela subiu.

Camila: sua mãe volta hoje? —concordei—
bem que podia dar uma volta com a gente né?

Viviane: Geraldo já tá bêbado, não confio em deixar a Laura sozinha com eles dois.

Camila: tá certa, quer que eu durma aqui?

Viviane: eu tô bem, sério. E a Keila? Tá sumida.

Camila: nem sei por onde ela anda, mas vi só de manhã.

Ela ficou uma tempo aqui, mas depois guiou pra casa dela. Eu coloquei 2 pratos de comida na mesa e quando a Laura desceu a gente começou a comer, ela mais falava do que comia né.

Laura: vivi, porque nossa família não é igual as outras?

Viviane: como assim, Laura?

Laura: hoje na escola tinha que falar sobre as famílias, todo mundo falava que na família deles os pais eram super legais e sempre estavam com eles. Na nossa casa não é assim, papai sempre tá bebendo ou na rua, a mamãe sempre no trabalho. Só fica eu e você.

Viviane: cada família tem seu jeitinho pequena, mas eu sempre vou tá aqui, do seu lado e pra você, entendeu?

Laura: sempre a gente. —ela estendeu a mão e eu fiz um toque com ela.

Viviane: já pensou o que quer assistir?

Laura: Princesinha Sophia.

Viviane: então bora, vai subindo e ligando a tv. Vou lavar esses pratos.

Ela subiu animada e eu lavei os pratos com uma dor no peito, uma sensação que algo ruim estava pra acontecer. Ignorei aquilo ao máximo e subi me deitando ao lado da Laura. Coloquei no desenho lá e a gente começou assistir, ela a todo momento comentava sobre alguma coisa lá e eu só concordava, mesmo não entendendo muito bem o que ela queria dizer.

Passou uma horinhas a minha mãe chegou entrando no quarto.

Fran: Meninas. —veio e me deu um beijo na cabeça.

Laura já levantou pulando e foi abraçar minha mãe, aquela ali era tão carinhosa, nem parecia minha irmã. Depois de anos passando maiores perrengues, decepções em casa, decepção amorosa, eu me fechei de uma forma que as vezes até me prejudica.

Fran: tá tudo bem Viviane? Tudo certo por aqui?

Viviane: tudo na medida do possível.

Fran: e seu pai? Cadê ele?

Viviane: aonde a senhora acha?

Fran: ele foi naquele emprego, na entrevista?

Viviane: que eu saiba não, nesses últimos dias só veio aqui pra dormi, graças a Deus.

Fran: não fala assim, ele é seu pai.

Viviane: não vou prolongar esse assunto
contigo mãe, estou cansada do trabalho.

Laura: porque vocês brigam tanto? Senta aqui mamãe, vamos assistir com a gente.

Fran: vou tomar banho e já volto.

Ela saiu do quarto, mas depois de uns 10 minutinhos voltou. Não sei o que minha mãe vê no meu pai, amor tá na cara que não é. Porém é difícil pra pessoa que está num relacionamento abusivo conseguir sair. Mas ainda tenho fé que minha mãe vai sair dessa, nisso eu ainda tinha um pingo de esperança.

Tomei um susto ao ouvir o barulho da porta lá de baixo sendo arrombada, eu e minha mãe já se olhamos e ela se apressou pra ir descendo.

Viviane: Laurinha, fica aqui, tá bom? Não sai daqui de jeito nenhum, nem se ouvir gritos, tá bom?

Laura: mais porque?

Viviane: eu ainda não sei, vou vê o que tá acontecendo, se ouvir muita gritaria, põe o fone. —entreguei meu celular e o fone pra ela.

Dei um beijo nela e desci, me assustei vendo que não era meu pai entrando bêbado como de costume e sim uns 5 caras com fuzil nas costas, um deles puxava o cabelo da minha mãe e gritava algo, corri pra perto dela.

Destino traçado Where stories live. Discover now