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Viviane

Acabei a última maquiagem do dia, tirei foto da menina e postei no insta do salão e no meu também.

-não sai não né, querida?

Viviane: não, é blindada. Fica tranquila.

Ela sorriu, se levantou e fez o pagamento.

Peguei as minhas coisas que estavam espalhadas e juntei. Depois de arrumar tudo já fui de saída.

Milene: Ta indo embora, Viviane? —falou comigo e eu me virei surpresa.

Desde que o Jogador veio me buscar aqui ela não tem falado mais comigo, a não ser quando for agendar clientes pra mim.

Viviane: tô de saída, porque?

Milene: queria falar contigo antes. Olha, não sei se você ainda tá namorando com aquele cara, mas eu juro mesmo, eu não sabia que vocês eram namorados, eu nem se quer conhecia ele. Era a primeira vez na favela lá.

Viviane: relaxa, Milene. Eu e ele não temos nada sério, não fiquei nem com raiva de você. Você mesmo que se afastou de mim.

Milene: achei que tinha ficado brava e fiquei com vergonha mesmo.

Paulo: vão embora não? Olha que eu não pago horário extra viu... —eu ri.

Viviane: eu já estou indo, beijos.

Sai e fui direto pro ponto de ônibus.

Forcei minhas vistas, parecia que tinha visto um fantasma. Mas pelo jeito que ela andava, claramente estava bem viva. Atravessei a rua correndo e vi ela entrando num táxi, fui bem rápida e entrei no outro.

Viviane: moço, pode ir atrás desse táxi. Por favor. —falei sem nem pensar.

A cara me olhou sem entender e eu me estressei, quando ia falar alguma coisa ele deu partida no carro.

A sensação que eu estava sentindo, nem eu mesma consegui explicar. Que ela tava viva não era novidade, mas não sabia que estava tão próxima de mim, jurei que teria paz.

Demorou uns 25 minutos por aí e a gente chegou em frente uma favela, eu conheci aqui, já estive aqui antes.

Viviane: moço, sabe o nome dessa comunidade?

-São Carlos, moça. Vai descer? —foi curto e grosso.

Viviane: vou. —engoli seco.

Fazia a mínima ideia de como eu conseguiria entrar ali, não ia conseguir passar despercebida sem que ao menos os traficantes questionassem quem eu era.

Keila seria a única pessoa que me colocaria em qualquer morro de uma forma bem simples, mas ela era a última pessoa que eu queria pedir um favor. Mas certas vezes temos que fazer sacrifícios.

O que a Francisca estaria fazendo nessa favela? Até onde eu sei a São Carlos é facção rival, ADA.

Tive que ir embora, mas ainda vou voltar aqui e quando eu vier de novo, não vai ser pra observar, vai ser pra entrar nessa merda.

Pedi outro táxi que me deixou na entrada da rocinha.

Boquinha: coe vivi, suave? —me chamou e eu fui até ele.

Viviane: suave, e você?

Boquinha: eu tô bem, tu que anda sumida cara. Tá pegando alguma coisa? —neguei.

Viviane: trabalho demais. —ele assentiu desconfiado— deixa eu ir que prometi levar a Laura pra comer lanche hoje.

Boquinha: sabe da Camila?

Viviane: hoje ela ficou na casa dela. —ele assentiu.

Tô sempre falando com a minha amiga, óbvio. Mas ultimamente nem tô saindo então nem encontro ninguém né, cabeça tá cheia demais.

Cheguei em casa e fui logo tomar um banho, catei meu celular e entrei na mensagem da Keila, fiquei pensativa se mandava ou não e no final falei só um "oi".

Laura: tô pronta, vamos?

Viviane: vamos. —desci— não quer ir mesmo vó?

Cris: sei nem esse fogo no rabo de ir comer lanche, come comida de verdade vocês.

Viviane: um dia pra saciar essa garota aqui.

Laura: hambúrguer é comida vó. Melhor que arroz e feijão. —sorriu e minha vó negou.

Cris: vão logo, daqui a pouco fica tarde. —assenti.

Sai com a Laura e fomos pra lanchonete que ela ama, tem lanches maravilhoso, sobremesas deliciosas e ainda de quebra uns brinquedos.

A gente pediu nosso lanche e enquanto não chegava ela saiu pra brincar.

Sofia: Vivi. —tomei um susto quando ela veio correndo e me abraçou— A Laura tá aqui?

Viviane: oie Sofia, tá lá dentro brincando. Vai lá. —ela sorriu e saiu correndo.

Acabei dando um sorriso de canto vendo as duas brincarem, mas quando olhei pra mesa da frente meu sorriso acabou.

Tava o Jogador e a mãe dela juntos na mesa, senti um mega desconforto com aquilo. Catei meu celular e fiquei com a cara nele até que a comida chegassem.

Viviane: vem Laura. —gritei quando a comida chegou.

Não veio só a Laura, mas a Sofia junto.

Viviane: quer Sofia? —ofereci minha batata.

-sai daí Sofia, vem pra cá! —a mãe dela gritou— vem logo.

Sofia: mas mãe, tô com minha amiguinha.

-anda logo! —gritou e ele encarou ela e disse alguma baixo no ouvido da mesma— pode ficar aí Sofia, mas não come nada, é falta de educação, daqui a pouco seu lanche chega.

Eu nem me importava em dividir, afinal era uma criança né? Ela ficou toda tímida e eu ofereci a batata de novo, porque ela estava olhando cheia de vontade.

Viviane: se quiser comer, eu não me importo. —falei olhando pra mãe dela.

Sofia virou o rosto atrás de aprovação da mãe, mas quem assentiu foi o pai dela e então a garota pegou a batata.

Agradeci quando a Laura acabou e comer e finalmente eu pude pagar pra irmos embora.

Laura: mas vivi, porque não posso ficar mais? Só um pouco...

Viviane: não da, vamo logo Laura.

Ouvi aquela risadinha dela pra cima dele me incomodou demais, eu só queria ir embora logo desse lugar.

Viviane: pega seu tênis e vamo logo, Laura. Não vou repetir não. —ela saiu cabisbaixa e colocou o tênis.

Deu um sorriso quando vi a Sofia consolando a Laura, pareciam até duas adultinhas.

Catei na mão dela e fomos pra casa, quando ia abrir o portão, vi a grávidinha descendo o morro.

Viviane: olha ela, a mamãe do ano. —ela riu.

Luana: tá bem gatinha?

Viviane: eu tô excelente, e você? Como anda a bebê?

Luana: forte e saudável. Mas a mãe dele existe viu?

Viviane: tá melhor?

Luana: tô bem melhor e ficarei melhor se você for no baile amanhã comigo. —neguei— vai sim, desejo de grávida. Não tenho ninguém pra ir, convenci até a Camila. Mas tem que ir nossa tropa pô.

Ia negar, não tava afim mesmo. Mas ela tava toda carente nessa gestação que eu resolvi aceitar.

Destino traçado Onde as histórias ganham vida. Descobre agora