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Camila

Nem na minha casa eu estava pisando mais, agora estava praticamente morando com meus pais, era o ideal a se fazer. Tinha que ficar mais próxima da minha mãe.

Tudo voltou a ser como era antes de eu voltar pro morro, a gente conversa sobre tudo mesmo, passávamos a maior parte do tempo fazendo coisas que agradasse geral daqui.

Tava mega feliz, tinha comprado 3 passagens para irmos pra Campos de Jordão, minha mãe sempre amou esse lugar e eu estava disposta a leva ela antes que não desse tempo. Tava chegando em casa doida pra mostrar pra ela e contar a novidade.

Camila: mãe? Mãe? —cheguei eufórica.

Carla: pra que toda essa animação? —falou fraco.

Camila: tenho uma supresa, uma novidade pra você.

Carla: diga logo então.

Camila: olha o que comprei —tirei as passagens do bolso— pra gente ir pra Campos de Jordão semana que vem.  —ela sorriu.

Carla: você lembrou...

Camila: claro que eu lembraria, eu disse que íamos viajar, não foi? Então.

Carla: senta aqui, Cami. —bateu a mão no canto da cama e eu me sentei— você é uma filha excelente, sempre foi. Eu tenho muito orgulho em te ter, ouviu?

Camila: se eu me tornei alguém que você se orgulha, foi por causa da senhora. Me perdoa por todos meus erros? Por todas as vezes que estive longe de casa quando na real eu devia estar perto de vocês. Por todas as vezes que não valorizei os esforços que vocês faziam por mim. Me perdoa mãe?

Carla: eu te perdoou minha filha. Mas não vejo isso como erro, você é assim mesmo, isso é sua personalidade forte. Eu me orgulho de poder ter visto você saindo de casa e indo tomar conta do próprio nariz —ela pegou na minha mão— ter visto você se tornar uma mulher foi gratificante pra mim. Eu que te devo desculpas, quando você se assumiu pra mim, eu te tratei com indiferença. E não devia ter feito isso, sua sexualidade é um direito seu e eu compreendo isso. De uma chance ao amor, eu vejo como você olha pra aquela garota, ela te ama também, filha. Maya sempre está preocupada contigo, sempre tá aqui em casa, eu sinto verdade nessa garota. —comecei a chorar.

Camila: eu te amo mãe —limpei as lágrimas dela— não vamos chorar agora né? Temos que ficar feliz pela nossa viagem futura, podemos até compras as malas já. —disse empolgada.

Carla: você tá tão feliz, gosto de te ver assim, sorrindo. —passou a mão no meu rosto.

Minha mãe começou a tossir e então os olhos começaram a se fechar, me desesperei e comecei a chamar pelo meu pai.

Carla: não o culpe por seu pai ter outra família. —foi as últimas palavras dela e então ela perdeu a consciência.

Nem deu tempo pra mim entender o que ela tinha tido, eu apenas clamava pelo teu nome. Deus não podia tirar de mim, não agora.

Camila: Mãe, mãe, por favor. —mexi nela— PAI,VEM RÁPIDO.

Ele entrou nervoso com o telefone no ouvido e pegou minha mãe no colo. Eu ia chamar um uber pra irmos pro médico, mas meu pai falou que a Maya vinha com um cara de carro.

Sabe quando a ficha não cai? Eu não conseguia entender que a minha mãe podia estar morta agora, aqui em casa. Mas pelo estado que estava, não falava, nem se quer mexia um dedo. Eu não conseguia ver se ela estava respirando e estava temendo de ir ver se o coração ainda batia.

Viviane passou pela porta acompanhada da Maya que veio na minha direção e segurou em minhas mãos.

Maya: Pt está aí fora, podemos pedi pra ele levar ela, rápido.

Meu pai já saiu com a minha mãe no colo e eu fui atrás.

Luana: não da pra ir todo mundo, a Camila pode ir junto com a mãe e o pai, a gente pede uber pra ir até lá, tá?

Sem nem pensar direito eu entrei no carro e ficava olhando pra minha mãe, eu não podia perda-la.

Mesmo sabendo que isso poderia acontecer a qualquer momento, eu não estava pronta, não estava mesmo!

A gente chegou e rapidamente os médicos a levaram para a sala e não deixaram a gente entrar.

Camila: desde quando você mente? —encarei meu pai.

Roberto: do que você fala?

Camila: desde quando tem outra família? Ela sabia de tudo? —ele ergueu a cabeça.

Roberto: não é assunto pra agora, Camila.

Camila: é sim, desde quando? Eu preciso saber.

Roberto: 9 anos. —fiquei perplexa.

Camila: ela sabia?  —ele assentiu— eu não acredito, ela sabia a quanto tempo?

Roberto: fazia uns 2 meses que ela descobriu, mas ela já sabia que estava doente e não queria nosso fim, o fim da nossa família. —ele veio tocar em mim e eu me esquivei.

O Pt notando que o assunto ali não era agradável, ele saiu.

Camila: você foi sujo! Ela não merecia isso, não mesmo. Minha mãe sempre fez de tudo pela nossa família.

Médico: licença —o médico chegou nos olhando de uma forma que não era boa, ali já sabia que não tinha saída— infelizmente ela não resistiu.

Eu não pude acreditar, meu mundo desabou por completo, sem forças algumas eu caí no chão. Não podia ser, não mesmo. Porque ela ao invés dele?

[....] ao ver o caixão sendo fechado, meu corpo que já não tinha forças algumas desmoronou e foi segurado pela Viviane.

Viviane: quer ir embora já?

Camila: eu preciso ir até o final, eu preciso disso.

Acompanhamos o caixão até aonde seria enterrado, e a cada pá de terra que estava sendo jogada sobre o caixão era como se uma parte de mim estava indo embora junto com a minha mãezinha.

E foi então que a ficha caiu, eu nunca mais poderia sentir minha mãe, não poderei tocar mais nela, não ouviria aqueles sermões dela. A mulher da minha vida não me veria construir uma família, o que ela sempre quis ver. Minha mãe não iria mais estar ao meu lado e só de imaginar minha vida daqui em diante, sem ela, me desgastava.

A dor que eu estava sentindo era inexplicável e jamais irei superar ela um dia.

Destino traçado Where stories live. Discover now