Trono de Sangue

Capítulo 41

Eles iam morrer.

Mas, se assim o fosse, lutariam até o fim.

Elijah tinha visto o exército de Grutok aparecer ao norte, direção de onde Evelyn tinha partido com Garret. Eram como formigas, incontáveis. Os esquadrões de Ílac poderiam ser numerosos, mas nada que se equiparasse. Teriam de contar com a força e resistência de um povo que nasceu para lutar em prol da sua pátria.

Como estaria Evelyn?

Ainda que seu coração almejasse ir em busca dela, não era seu papel fazê-lo. Seu lugar era ali, no meio do furacão, derrubando cada homem de Medroc que encontrasse pela frente, ordenando os soldados e guiando-os à vitória.

Apenas as noites pertenciam aos dois. Quando tudo estava abafado e o que restava era o som dos corações. Contudo, ao olhar o horizonte, era claro que não haveria mais anoitecer. Aquele seria o último dia de um deles, não era preciso uma espada cravada no coração para que Elijah sentisse o próprio cheiro da morte chegar.

A única coisa que o mantinha sem dor era a adrenalina da batalha, a arte dos golpes ensinados por Hector desde que era garoto. Quando o aço virava sangue e a vida se tornava pó. Tentar se manter vivo era o objetivo até o momento que sua missão fosse cumprida. Ainda não havia chegado ao final.

Não agora.

Não assim...

Ele olhou para o céu por um segundo e rezou para o Deus que acreditava pedindo apenas uma coisa. Que ele tivesse tempo para ao menos saber que entregaria um reino de paz a mulher que amou e a sua filha. Não precisava sobreviver e nem usufruir de nada disso.

Claro que desejava abraçar Alyssa e poder ser o pai dela nem que fosse por um mísero minuto. Mas seria esperar demais. Saber que ela ficaria bem era o suficiente.

Ele e Evelyn estavam cansados demais da vida e experientes o suficiente para saber que o destino deles não seriam como os contos infantis que recitavam para as crianças dormirem. A realidade era cruel. Contudo, fariam o que fosse o possível e o impossível. Foi o último acordo deles. Juntos. Um só propósito pelo elo que a natureza de ambos conseguiram criar.

Suas pernas não fraquejaram quando o exército de Grutok desceu a colina apressadamente, unindo-se a Medroc. Não vacilou quando viu sua gente morrer, sendo espremido contra o exército inimigo. Nem mesmo quando recebeu alguns golpes tão perto que ele quase achou que morreria.

Não, nada disso o fez estremecer.

Mas quando viu Garret surgir na colina com Evelyn a reboque, ele achou que não teria força para manter sua espada de pé. Uma sensação de dormência alastrou-se por suas veias e tomou seus membros, fazendo com que ele desse um passo em falso para a esquerda.

― General, a rainha... ― o homem de Elijah murmurou ao seu lado.

Ele engoliu em seco e acenou com a cabeça, incapaz de falar alguma coisa enquanto via a cena desenrolar de longe.

― Vejam! ― um outro gritou, apontando para o sul.

Elijah virou-se, observando o exército que se juntava na retaguarda de Ílac. Apertou os olhos para focar melhor e notou a armadura de Ílac, não tinha dúvidas, só podia ser Cameron. Mas algo estava errado. Esse não era o plano, ele não deveria estar ali.

Quando decidiram se dividir, Cameron havia proposto o contragolpe, pois sabia o quão numeroso era o exército de Medroc. Além disso, Grutok sempre foi uma possibilidade de entrar na guerra como um inimigo em comum, por isso, atacar por trás das linhas adversárias seria uma medida para aliviar o golpe e poder vencer. Mas, em vez de aparecer atrás de Garret, ele estava surgindo da mata de onde vieram.