Capítulo 32 - Parte I

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Os últimos dias passaram agitados em Ílac, na manhã seguinte, Evelyn e suas tropas partiriam para Medroc. A rainha podia sentir o seu coração bater mais forte cada minuto que passava, as olheiras eram proeminentes pelas noites mal dormidas, o que a preocupava, pois precisava de toda a sua força para o combate que viria.

Estava no quarto girando a sua espada sobre o colo de um lado para o outro, seus dedos trilhavam nas insígnias cravadas no metal, presente dado por seu pai. Nesse momento sentia falta dele, se Miles estivesse vivo, talvez nada disso tivesse acontecido ou, pelo menos, ela estaria menos nervosa, já que não seria a primeira guerra que ele estaria presente.

No entanto, não era o caso. Era nos ombros dela que o seu povo estava, era o seu fardo para carregar. Pelo menos possuía dois homens de confiança, que apesar de ser tão inexperientes quanto ela, eram capacitados o suficiente para estar ao seu lado.

Foram dias e mais dias recheados de discussões entre Cameron, Elijah e ela, até que pudessem entrar em um consenso e conseguissem se organizar. Evelyn não poderia perder mais tempo e era chegada a hora. O sol ainda ardia no céu, pela manhã ela havia dado as últimas palavras de encorajamento aos seus homens. Bebam, comam o seu prato preferido, brinquem com seus filhos, durmam com seus companheiros e companheiras, beijem e façam amor. Talvez seja a última vez que farão cada uma dessas coisas.

Parte disso era o que ela faria também. Quando chegasse o entardecer, ela iria até aos aposentos de Luigi e passaria a noite com seu filho. Pensar nisso lhe trazia uma dor inescrutável ao peito, as lágrimas salpicando os olhos. Não tinha medo de morrer, estava preparada para tal. Mas como imaginar a dor que o seu pequeno enfrentaria ao saber de tal fato?

Evelyn dificilmente chorava, mas aquele era o seu momento, talvez o último em que poderia demonstrar fraqueza, por isso permitiu que algumas lágrimas escorressem dos seus olhos antes que estivesse com o pequeno Lui. Como queria ter tempo para poder ensinar tantas coisas para o seu garoto... Queria ajudá-lo nas lutas de espada e fazê-lo crescer um jovem forte e guerreiro, mas também queria ter ao menos um dia de paz para levar o menino para um simples passeio no bosque. Desejava poder instruí-lo para que fosse um jovem cheio de honra e respeito, diferente do finado Jeffrey. Jamais permitiria que o filho se transformasse em um monstro tão grotesco.

Mas e se não tivesse tempo? E se ela morresse e o garotinho nunca mais fosse o mesmo?

Luigi era tão novo, mas já havia presenciado tanto. Ainda que Jeffrey fosse o pior ser humano da terra, para o príncipe, ele era o seu pai, seu grande herói. Ele não entendia o que acontecia e por mais que Evelyn quisesse negar, ela não poderia dizer que o falecido não tinha exercido bem a sua paternidade.

Pelo menos isso.

Ver o pai morto de forma brutal era algo que ela sabia que nunca sairia da mente do garoto, em seguida, ele perdeu a irmã com quem era tão ligado, e agora... talvez desse adeus a sua mãe.

Cada um desses pensamentos afiavam e dilaceravam a alma de Evelyn, ao ponto dela explodir e lançar a sua espada contra a parede, cravando a lâmina afiada no local atingido. A rainha levantou depressa e passou o dorso da mão pela bochecha molhada, tentando controlar a respiração ofegante, engoliu o grito que queria exorcizar em sua garganta e andou até o lado oposto, a fim de pegar a sua arma de volta.

─ Evelyn, está aí? ─ uma voz chamou-a do lado de fora, acompanhado de uma batida na porta.

A rainha inspirou o ar e deixou-o sair devagar, interiorizando a sua explosão.

Acabou. Agora ela precisava voltar a sua frieza habitual e buscar a força que ela nem mesmo sabia que tinha, pois o dever a chamava.

─ Pode entrar, Sarah – respondeu e passou os dedos sobre o rosto para tirar os últimos vestígios da sua fragilidade.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now