Capítulo 9

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Um pouco distante da cidade real, no acampamento do exército de Ílac, o homem abaixava-se e levantava-se, fazendo as suas flexões. Era um exercício que estava habituado a realizar. Seus bíceps e tríceps tencionavam-se com o movimento, subindo e descendo, de novo e de novo, uma, duas, três... cinquenta vezes, até perder a conta. O suor percorria o seu torso nu, as gotículas desciam pelo seu pescoço, escorrendo em cada músculo das suas costas. O cabelo, um pouco grande, grudava-lhe ao rosto. Quando começou a sentir uma pequena fisgada no abdômen, sabia que era a hora de parar, as flexões matinais estavam encerradas.

Pegou uma toalha e passou pelo seu corpo, enxugando o suor, ato este que não passava despercebido pelas poucas mulheres que ficavam por ali. Porém, ele ignorou o mundo ao redor, como sempre fazia quando estava concentrado. Apenas caminhou até a mesa que ficava em frente a sua tenda e pegou dois pães, que havia separado para o seu café da manhã.

Enquanto comia, viu Hector aproximar-se, um pouco manco, e ajeitar-se na cadeira ao seu lado. Sua expressão não parecia das melhores, havia uma leve carranca e apresentava-se comedido, provavelmente falaria algo que Elijah não gostaria de escutar.

― Diga o que quer. - perguntou para o general, colocando o restante do pão no prato e arqueando a sobrancelha.

― Quero que me substitua. - Hector foi curto e direto.

― De novo isso?

― Sim. E vou pedir sempre, até que acate logo de uma vez.

― Eu não quero posição nenhuma, Hector. - disse Elijah, impaciente.

― Eu sei disso. E por isso te tornas ainda mais digno para tal posição. É o único que confio plenamente, Elih. Eu já estou velho e um pouco manco. Não aguento muita coisa mais, a rainha tem um voto de gratidão comigo, mas logo ela me perguntará quem irá me suceder e eu quero anunciá-lo.

Ouvir falar dela era sempre amargo e indigesto para Elih. As lembranças da última vez que a tocou ainda ferviam em sua pele. A imagem de Evelyn foi a única coisa que lhe deixou são e o manteve vivo durante os meses tenebrosos nos mares de Ocland. A visão do seu corpo nu, as suas curvas e a pele macia... tudo ainda era vivo em sua memória. Nada poderia apagar aquilo. Mil mulheres poderiam passar por seus lençóis, mil guerras seriam travadas, porém o seu coração fora totalmente comprometido por uma única pessoa, a rainha de Ílac.

― Já te disse que prefiro manter distância deles.

― Elijah, já se passou tanto tempo, esquece isso. O reino precisa de alguém competente e essa pessoa é você, ou quer que eu continue no cargo neste estado? Porque eu não passarei a minha posição a nenhuma outra pessoa além de você - o general apontou para si mesmo, apontando a perna que já não era a mesma desde que voltaram da expedição.

― Você está pegando pesado, Hector. E você sabe muito bem que, não importa o tempo que se passe, eu nunca vou esquecer a injustiça que me fizeram.

Com o tempo de amizade, o general passou a conhecer melhor o garoto que havia acolhido, aos poucos Elijah foi contando, mesmo que superficialmente, o que havia acontecido. Hector entendia o amigo, mas não podia deixar que o passado o impedisse de chegar ao topo, precisava fazer com que o loiro aceitasse o cargo, ele era a pessoa certa para isso.

― Eu conheço a rainha, Elih. Eu sei que ela pode ter errado, porém ela é uma ótima governante, deveria dar uma chance ao meu pedido, não por ela, mas por um bem maior.

― Você não a conhece como eu conheci. Eu também a achava maravilhosa e ela me enganou, assim como engana a todos vocês. - falou amargoso, remoendo tudo o que passaram, as lembranças felizes e tristes entravam em conflito em sua mente. Nunca saberia quem era a verdadeira Evelyn afinal.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now