Capítulo 33

1.3K 152 66
                                    

Antes mesmo do sol nascer, os homens estavam a postos com as suas armaduras. A madrugada era fria e o vento gelado cortava a pele dos guerreiros ao varrer os metais de suas roupas, o silêncio do local seria brutal se não fosse os murmúrios de orações espalhados pela multidão de soldados. Evelyn estava recuada e distante, passava por cada pelotão, deixando um aceno de cabeça para os seus homens. Elijah, do outro lado, conferia algumas armas e passava instruções, enquanto Cameron fazia o mesmo, terminando de aprontar o seu pelotão.

Ninguém precisava dizer nada, todos sabiam que poderia ser a última vez deles pisando no solo de Ílac. Marchar contra Medroc talvez fosse a última coisa a ser feita, e, ainda que tivessem medo, a vontade de lutar pela sua terra era maior.

Evelyn retornou até o seu cavalo enquanto os capitães agora colocavam os homens em formação. Ela terminava de examinar o animal quando ouviu alguém chegar afobado ao seu lado, contrapondo ao silêncio e concentração dos demais.

— Isaac?! — Evelyn virou o rosto para o rapaz, que trajava também um uniforme de combate, o símbolo de Ílac cravado em seu peito.

— Eu quero ir! — apontou sem titubear, fechando a mão em punho e pousando em cima do coração.

Evelyn franziu o cenho e pelo soslaio percebeu Cameron se aproximar.

— Eu já lhe disse, preciso de você aqui — Evelyn contrapôs com clareza, desviando o olhar e dando o assunto como encerrado.

— Vocês não podem querer de verdade que eu fique! Como não poderia lutar em prol do meu povo? Como ficarei aqui esperando enquanto todos vocês travam uma batalha mortal? — exclamou, gesticulando com os braços e chamando a atenção de alguns homens que estavam ao redor.

— Isaac — Cameron chegou em tom de repreensão, o que fez o rapaz suspirar e segurar a ponte do nariz com os dedos.

— Pai... você deveria me entender. — O rapaz desviou o olhar da expressão de repreensão que Evelyn havia feito assim que percebeu a atenção indesejada e desviou para o pai, uma súplica e lamentação expressada no tom de sua voz.

— Não — Cameron o cortou. — A única coisa que você precisa entender é que precisamos de alguém de confiança e com sangue real aqui no palácio. Se tudo terminar em ruínas - que os céus nos livre e nos guarde - você tem a função de tutelar Luigi e guiar o povo até que ele tenha idade o suficiente para tal.

— Eu não quero ser rei, eu só quero.. — começou a dizer, mas comprimiu os lábios, impedindo-se de revelar em público a sua real aflição. — Por favor... Evy... — Virou-se para a rainha, tentando buscar a aprovação, mas ela apenas fechou os olhos brevemente e sacudiu a cabeça.

— É a minha palavra final, Isaac. Preciso de você aqui. Você não é um soldado, mas isso não tira o seu valor. Você é inteligente, nos ajudou durante todo esse tempo preparando-nos para caso esse momento acontecesse. Fez sua parte para com Ílac, a última coisa que preciso é que você fique... vivo — recitou a última palavra com amargor. — Não quero ouvir mais sobre isso.

Evelyn virou as costas e subiu em seu cavalo, levando-o à frente dos pelotões que se formavam. Enquanto isso, Cameron dava mais um passo para frente, a fim de conseguir falar com o filho em baixa voz.

— Chega, Isaac. Até onde irá suas inconsequências? Quer me deixar mal perante a rainha? Ou pior... Quer te tornar mal aos olhos dela? Já não basta o acúmulo de babaquices que fez até aqui?

— Você sabe porque eu quero ir.

— Olhe a sua volta, filho! — Cameron esticou um dos seus braços e estendeu-o para o local. — Temos os soldados mais treinados, temos armas e uma grande estratégia. O que um rapaz ainda em recuperação dos próprios ferimentos iria nos ajudar? Deixe que eu mesmo me encarregarei de trazer Alyssa para você, desde que faça o que lhe peço. Você não é bom para a guerra, mas pode ser bom para Ílac. Não posso fazer o que tenho que fazer em paz se souber que estará no meio da batalha.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now