Capítulo 38 - Parte II

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            Garret poderia ter partido, mas Alyssa ainda estava trancada no aposento, suja de sangue seco e com algumas gotas que ainda corriam pelos pontos mal dados em suas feridas. A língua meio inchada com o corte, prejudicava um pouco a sua dicção. Por sorte, o rei não havia ido tão adiante em suas fantasias horrendas e a manteve com seu órgão. A dor, porém, ainda era forte, assim como o nojo por seu próprio corpo impuro, sujo pelo líquido proveniente de Garret.

No entanto, esse não era o foco da sua mente. Ela havia ganhado tempo para que Ílac se organizasse para a batalha, mas aquilo ainda não seria suficiente para a traição vindoura. Ela precisava sair dali, sua mãe precisava saber a verdade o quanto antes. Deveria ter alguma forma que pudessem virar esse jogo maldito de Garret antes que fosse tarde demais.

O coração de Alyssa chorava pelas vidas que se perderiam e se agonizava ao imaginar nunca mais encontrar sua mãe, Isaac ou mesmo... seu pai, seu verdadeiro pai.

Onde estava seu informante? Por que havia a abandonado?

Garret deixou dois soldados específicos para manter os olhos em Alyssa. Ambos a visitavam duas ou três vezes ao dia para trazer os chás curadores, alimento e trocar o balde deixado para que a princesa fizesse suas necessidades. Alyssa poderia ser considerada rainha, agora que estava casada com Garret, no entanto, quase nada havia mudado, ainda era uma prisioneira da pior espécie, com exceção que no momento habitava em um quarto ao invés da cela suja.

Provavelmente em torno dos seus quarenta anos, tão asquerosos quanto qualquer outro soldado encontrado nesse reino, os homens quando que entravam encaravam a princesa, não deixando a luxúria despercebida aos seus olhos.

A princesa não sabia como isso era possível numa situação como aquela, mas ela reparava a malícia dos homens e sentia o nojo vir à tona quando eles a observavam; o medo corroendo-a por todos os minutos que eles se mantinham ali.

Hoje não era diferente. Ela ouviu a porta ranger ao ser aberta pelos soldados e encolheu-se na cama, acertando o seu vestido e sentando-se rapidamente ao mesmo tempo que se arrastava até escorar as costas na cabeceira, afastando-se o máximo possível. Suas mãos voaram para sua saia, apertando-as para que não vissem como seus dedos tremiam cada vez que eles adentravam ali.

― Bom dia, princesa ― um deles cantarolou enquanto sorria e levava a bandeja até a cama. ― Dormiu bem?

Alyssa ignorou o homem, arrastando seus olhos para a porta e para o outro soldado que vinha atrás com um vaso de água.

A porta foi encostada e ela engoliu em seco, tentando não sentir-se intimidada. Manteve a pose e o nariz altivo para que os homens não farejassem o medo que exalava dela.

― A princesa é boa demais para falar conosco, Trerton! ― o que entrara depois comentou, colocando a água de qualquer jeito sobre a bandeja e fazendo que parte dela esparramasse na cama com o impacto.

― Nós poderíamos dar um jeito nela. Assim, quando nosso rei chegasse vitorioso, teria uma cadela mansa e dócil. Sem muito trabalho. ― O primeiro riu, esticando a mão para tocar na perna de Alyssa.

A princesa recolheu-a imediatamente, fazendo com que os homens gargalhassem.

― Não me toque ― ela rugiu, as sílabas ainda atrapalhadas na sua dicção, o que causou ainda mais risos a eles.

― Coma! ― o segundo virou às costas, trouxe uma cadeira para perto da cama e sentou-se para observá-la. O outro aproveitou para andar por entre o quarto, enquanto Alyssa ia vagarosamente em direção à comida.

Ela não podia dar-se ao luxo de fazer uma greve de fome, pois precisava de toda energia possível para sair dali.

Não sabia quando, mas precisava ser logo.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now