Capítulo 36

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O vento cortava o rosto de Isaac, os galopes eram incessantes, trotavam sobre a terra firme em direção ao leste junto aos homens que Elijah havia lhe cedido. O rapaz parecia um menino perto deles, guerreiros robustos, silenciosos e assustadores. Ao vê-los, Isaac temeu que não o seguissem ou não o respeitassem, contudo, eram homens leais do General, por isso iriam com Isaac por onde ele fosse.

Galopavam dia e noite, parando pouquíssimas vezes apenas para dar descanso aos animais. As noites dormidas eram curtas, apenas o suficiente para a reposição do sono. Isso provavelmente davam-lhes dias de antecedência na viagem, já que teriam que contornar pelo lado oposto do rio até chegar aos planaltos do norte, que faziam divisa com Medroc.

Não era o local mais fácil de se passar e, provavelmente, era o menos acessível e impossível de se levar um exército inteiro. Seria o caminho perfeito para invadir o castelo e chegar até Alyssa.

O palácio de Medroc situava-se perto do mar da Baía Malefic de Janar, o que lhe dava uma visão privilegiada de qualquer inimigo que viesse atacá-los, já que suas costas eram voltadas para a água. Isaac esperava passar pela região montanhosa da divisa até chegar a península da Baía — que formava uma ponta para dentro do continente e onde poderia enviar alguns espiões para ver se o caminho estava aberto do outro lado.

A região que antecedia o palácio no caminho norte era formada por rochas e planaltos, reproduzindo grandes penhascos. Isaac e seus homens subiam e desciam pelos relevos, por vezes altitudes tão elevadas que geravam vertigem a quem olhasse para as fissuras abaixo.

Estavam quase ao final da jornada, perto da divisa, quando fizeram uma nova parada para se alimentar e hidratar. Isaac pulou do cavalo e afastou-se um pouco do grupo. Os homens retiravam seus alforjes, alguns deles foram à procura de água para reabastecer os cantis e outros montavam uma fogueira para assar os coelhos que haviam pego pelo caminho. O rapaz andou até uma árvore discreta e aproveitou para se aliviar. Há muito estavam viajando e a bexiga apertada lhe acompanhava por vários quilômetros. Outros fizeram o mesmo, mas os olhos sempre atentos em volta.

Assim que terminou, Isaac subiu as calças novamente e reuniu-se aos homens. Um deles, a quem aparentava ser o mais experiente e um dos líderes do grupo, aproximou-se dele.

— Rhestor informou que não falta muito para chegarmos. Logo estaremos no último penhasco, onde fica a Torre de Janar. Acredito que nos dará uma visibilidade boa da situação adiante.

Isaac acenou a cabeça em concordância. Ele conhecia muito dos mapas e havia passado parte da vida estudando os pontos fracos e fortes dos impérios, mas Rhestor, um dos homens de Elijah, conhecia o caminho como a própria palma da mão. Ele poderia guiá-los com confiança.

— Obrigado — Isaac agradeceu. — Sei que não está fazendo por mim, mas agradeço assim mesmo.

— Somos leais ao General, senhor. Daremos a vida, se necessário for, para concluirmos a missão.

Isaac sabia que era verdade, nenhum dos homens ali tinha algo a perder. Ele não sabia onde Elijah havia encontrado eles, mas eram todos solitários, homens que viviam para a vida do exército, que haviam encontrando um no outro amizade e lealdade, no qual o rapaz acreditava servirem não a coroa, mas ao comando direto do próprio general.

Klaus, o homem à sua frente, tinha metade do seu rosto deformado, os cabelos eram escuros como carvão e batiam no seu queixo, tampando parte das marcas cravadas na sua pele, mas não impedia que às vezes Isaac o visse, como quando ele tirava os fios do rosto por conta do calor. O rapaz não ousou perguntar o que havia acontecido, porém, tinha certeza que cada um ali carregava uma história talvez horrenda demais para que qualquer um pudesse escutar.

Trono de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora