O vento cortava o rosto de Isaac, os galopes eram incessantes, trotavam sobre a terra firme em direção ao leste junto aos homens que Elijah havia lhe cedido. O rapaz parecia um menino perto deles, guerreiros robustos, silenciosos e assustadores. Ao vê-los, Isaac temeu que não o seguissem ou não o respeitassem, contudo, eram homens leais do General, por isso iriam com Isaac por onde ele fosse.
Galopavam dia e noite, parando pouquíssimas vezes apenas para dar descanso aos animais. As noites dormidas eram curtas, apenas o suficiente para a reposição do sono. Isso provavelmente davam-lhes dias de antecedência na viagem, já que teriam que contornar pelo lado oposto do rio até chegar aos planaltos do norte, que faziam divisa com Medroc.
Não era o local mais fácil de se passar e, provavelmente, era o menos acessível e impossível de se levar um exército inteiro. Seria o caminho perfeito para invadir o castelo e chegar até Alyssa.
O palácio de Medroc situava-se perto do mar da Baía Malefic de Janar, o que lhe dava uma visão privilegiada de qualquer inimigo que viesse atacá-los, já que suas costas eram voltadas para a água. Isaac esperava passar pela região montanhosa da divisa até chegar a península da Baía — que formava uma ponta para dentro do continente e onde poderia enviar alguns espiões para ver se o caminho estava aberto do outro lado.
A região que antecedia o palácio no caminho norte era formada por rochas e planaltos, reproduzindo grandes penhascos. Isaac e seus homens subiam e desciam pelos relevos, por vezes altitudes tão elevadas que geravam vertigem a quem olhasse para as fissuras abaixo.
Estavam quase ao final da jornada, perto da divisa, quando fizeram uma nova parada para se alimentar e hidratar. Isaac pulou do cavalo e afastou-se um pouco do grupo. Os homens retiravam seus alforjes, alguns deles foram à procura de água para reabastecer os cantis e outros montavam uma fogueira para assar os coelhos que haviam pego pelo caminho. O rapaz andou até uma árvore discreta e aproveitou para se aliviar. Há muito estavam viajando e a bexiga apertada lhe acompanhava por vários quilômetros. Outros fizeram o mesmo, mas os olhos sempre atentos em volta.
Assim que terminou, Isaac subiu as calças novamente e reuniu-se aos homens. Um deles, a quem aparentava ser o mais experiente e um dos líderes do grupo, aproximou-se dele.
— Rhestor informou que não falta muito para chegarmos. Logo estaremos no último penhasco, onde fica a Torre de Janar. Acredito que nos dará uma visibilidade boa da situação adiante.
Isaac acenou a cabeça em concordância. Ele conhecia muito dos mapas e havia passado parte da vida estudando os pontos fracos e fortes dos impérios, mas Rhestor, um dos homens de Elijah, conhecia o caminho como a própria palma da mão. Ele poderia guiá-los com confiança.
— Obrigado — Isaac agradeceu. — Sei que não está fazendo por mim, mas agradeço assim mesmo.
— Somos leais ao General, senhor. Daremos a vida, se necessário for, para concluirmos a missão.
Isaac sabia que era verdade, nenhum dos homens ali tinha algo a perder. Ele não sabia onde Elijah havia encontrado eles, mas eram todos solitários, homens que viviam para a vida do exército, que haviam encontrando um no outro amizade e lealdade, no qual o rapaz acreditava servirem não a coroa, mas ao comando direto do próprio general.
Klaus, o homem à sua frente, tinha metade do seu rosto deformado, os cabelos eram escuros como carvão e batiam no seu queixo, tampando parte das marcas cravadas na sua pele, mas não impedia que às vezes Isaac o visse, como quando ele tirava os fios do rosto por conta do calor. O rapaz não ousou perguntar o que havia acontecido, porém, tinha certeza que cada um ali carregava uma história talvez horrenda demais para que qualquer um pudesse escutar.
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Trono de Sangue
Historical Fiction1º Lugar nas Olimpíadas Literárias promovida pelo @DesafioEmLetras Em uma época regada de sangue e dor, grandes impérios batalhavam entre si em busca do poder. Depois de muito sangue jorrado, um acordo de paz é feito e a união de Ílac e Medroc é s...