Capítulo 14

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Atenção! Cenas fortes abaixo. Se você é menor de 18 anos ou não possui estômago está lendo por sua conta em risco.

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Por todo o lugar que olhava, havia fogo e dor. Os homens gritavam de um lado para o outro. As imagens eram confusas, alternavam-se em suas lembranças. Estavam sendo atacados, as flechas vinham do desconhecido e atingiam os soldados ao seu lado. Um a um, caíam e gritavam, rugiam de agonia. Estavam todos mortos.

Sentia subir um ardor em sua perna, era o fogo o atingindo. Ia morrer também, como todos os outros, porém, lançou-se na água para se salvar. Agora, as recordações eram do sufocamento que sentiu, os braços que bateram euforicamente tentando nadar e a cãibra que lhe consumiu. Morreria de qualquer jeito. Tudo era um grande borrão. Suas vistas logo se escureceram e deixou-se afundar, esperando o sabor da morte surgir, sendo levado pelas águas do mar de Ocland.

Não sabia como havia sobrevivido e nem como fora o seu tempo pela terra desconhecida. Estes eram os seus sonhos, apenas vultos das lembranças. Imagens que se confundiam, não sabia o que havia sido real e o que era delírio. Cenas de pequenas pessoas, a pele pintada de vermelho ou azul, seu corpo sendo arrastado na terra dura, um líquido estranho sendo jogado em sua garganta e, depois disso, as imagens torturantes. Eram imaginações ou visões? Não sabia. Contudo, via ele e Evelyn se beijando, ele e Evelyn jurando amor eterno, ele e Evelyn casando-se, ele e Evelyn com um bebê nos braços...Depois... tudo caía, os muros desmoronavam, o castelo pegava fogo, Evelyn era arrancada dos seus braços, uma mão enorme puxava os cabelos dela e uma espada transpassava o seu coração.

O seu corpo foi largado desacordado nas areias da praia de Ílac e ele despertou com a água salgada do mar que tocou os seus pés. Sua carne tremia e por mais de um mês não conseguiu falar nada. Restaram-lhe apenas os pesadelos, os gritos e a dor. Os homens acharam que não teria mais volta para ele. Entretanto, com o passar dos dias, Elijah foi voltando a si, as visões haviam diminuído, até restar apenas os tormentos, estes ainda o perturbavam durante a noite.

Esse era um desses dias, todas essas recordações inundaram a sua noite, fazendo-o acordar ofegante, o corpo em choque e o suor escorrendo por toda a sua pele. O sentimento de Evelyn morrendo em suas mãos, a dor agoniante, os sons dos corpos gritando ao seu lado... parecia tudo tão verdadeiro.

Levantou-se e saiu da sua tenda, estava perto do amanhecer e ele precisava respirar ar puro. Passou a mão entre os seus cabelos e avistou ao longe um homem, olhando em direção do horizonte, onde o sol logo nasceria.

Caminhou devagar até ele, reconhecendo ser o seu General ali. Parou ao seu lado e suspirou profundamente, tendo no amigo alguém que o entenderia. Afinal, Hector foi encontrado dois dias depois que ele, também nas areias da praia, no mesmo estado quase catatônico, todavia, acrescido de um detalhe, a perna que nunca mais foi a mesma.

― Também não consegue dormir? – Hector perguntou, assim que sentiu a presença do amigo ao seu lado.

― Às vezes dormir é o que eu menos quero – Elijah murmurou, sentindo ainda o calafrio da sua pele.

― Entendo... É aterrorizante repousar sem saber se essa será mais uma noite invadida pelo terror que Ocland nos causou.

Elijah respirou fundo, compreendendo perfeitamente o que o general estava dizendo. Não queria dormir e ter os mesmos pesadelos. As imagens alternavam-se, às vezes eram lembranças, porém outras eram visões de algo que não havia acontecido. De qualquer forma, ambas causavam-lhe uma dor inenarrável.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now