Ílac estava de luto, a rainha havia decretado no instante que a mãe havia saído do seu quarto. A madrugada parecia ter ficado ainda mais fria depois dos relatos da noite, como se a natureza pudesse sentir a dor das perdas e refletisse o coração do povo quebrantado.
O choro dos entes queridos e de todos que se compadeciam aos guerreiros perdidos na batalha ecoavam pela terra, adentrando pelas paredes do palácio. As roupas negras cobriam os serviçais, que tremiam e ficavam em silêncio durante os seus afazeres.
A derrota doía e, junto a ela, o medo os cercava.
A rainha já não era tão imponente, a fortaleza de Ílac já não era vista como tão segura quanto antes e os soldados, agora eram falhos.
Nos corredores vazios, o vento gelado tocava e arrepiava a pele de Sarah enquanto ela voltava para o seu quarto carregando a sua vela em um pequeno candelabro. Empurrou a porta com cuidado para não derrubar o utensílio e assustou-se ao notar alguém sentado em sua cama, quase derrubando o artefato em suas mãos.
― Acalme-se, sou eu – a voz soou, levantando-se.
No mesmo instante Sarah soube que era o seu marido, colocou o candelabro sobre a estante e correu para abraçá-lo, passando os braços por suas costas com força.
― Oh meu Deus, você está bem? – A mulher afastou-se um pouco, pousando a sua mão na bochecha de Cameron.
― Sim, com vida pelo menos. Não posso dizer de muitos outros. Foi horrível, Sarah.
― Oh, Cameron – ela lamentou com lágrimas nos olhos e alisou o rosto dele. ― Fico feliz que esteja aqui. Posso estar soando egoísta, mas... – começou a falar, porém, parou e engoliu em seco.
Cameron puxou-a para seus braços e a abraçou.
― Não precisa pensar nisso agora. Estou seguro e você também.
― Tinha medo que não chegasse, assustei-me ao vê-lo aqui. Agora eu vivo com medo, como antes...
Cameron enrugou a testa, segurou os ombros da Sarah e a afastou um pouco.
― Não ouviu a movimentação do castelo ao chegarmos? Até estranhei por não ver-te aqui. Está tarde, onde estavas?
Os olhos de Sarah arregalaram-se levemente, porém, logo não hesitou em responder.
― Com o príncipe. Não consegui dormir bem e fui ver como ele estava, você sabe que na ausência da rainha quem cuida dele sou eu.
Cameron acenou com a cabeça e voltou a sentar-se na cama, fitando a sua esposa.
― Não necessita mais se preocupar. Eu estou de volta, Sarah, continue comigo e nada irá lhe acontecer. Eu te protegi antes, não foi?
― Sim.
― Então venha cá. Deite-se e descanse. – Estendeu a mão para a mulher e guiou-a de volta para cama, aconchegando-a em seu peito enquanto a respiração de ambos, aos poucos, voltava a se regularizar.
*
Os dias passavam e Ílac mantinha-se de luto, nos corredores o silêncio ainda predominava e as pessoas apenas murmuravam uma para as outras, receosas com o que estava por vir. A população já sabia da grande lástima, haviam perdido a sua princesa para Medroc. Um ataque profundo na alma do povo de Ílac, que temia perder suas vidas também.
Evelyn precisou se recompor, estava destruída, queria rasgar as suas vestes e gritar por ter perdido sua menina ou por imaginar toda atrocidade que ela vinha sofrendo por lá. Contudo, ficar parada não salvaria a sua filha e nem o povo. Reuniu-se por dias com os melhores dos seus espiões, mas nenhum deles lhe trazia respostas. O silêncio de Garret a corroía e a deixava incerta de como proceder. Não poderia mais ser impulsiva, suas mãos já carregavam o sangue de muitos inocentes.
YOU ARE READING
Trono de Sangue
Historical Fiction1º Lugar nas Olimpíadas Literárias promovida pelo @DesafioEmLetras Em uma época regada de sangue e dor, grandes impérios batalhavam entre si em busca do poder. Depois de muito sangue jorrado, um acordo de paz é feito e a união de Ílac e Medroc é s...