Capítulo 35 - Parte I

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O som do trote dos cavalos era abundante, as folhas e os galhos das árvores da floresta balançavam junto ao som dos pássaros e insetos que habitavam o local. As rajadas de vento cortavam o ferro nas roupas dos soldados e alguns murmúrios eram ouvidos pelos homens que puxavam as catapultas.

Ainda que o percurso fosse barulhento, o silêncio imperava, o que parecia contraditório, mas fazia sentido para Evelyn. Seus homens estavam concentrados, sabia por quem e pelo que marchavam. Já faziam horas que haviam saído do campo de concentração, após todas as tropas estarem preparadas. No pelotão dianteiro Elijah orientava os capitães, na retaguarda Cameron cobria e cuidava dos retardatários.

Logo chegariam na bifurcação e se separariam. A rainha tinha optado por estar longe de Elijah, ambos tinha influência sobre o povo e passavam uma imagem forte de luta, eram importantes para guiar os soldados. Evelyn também gostaria de mandar Elijah para buscar a sua filha, enquanto ela enfrentava Garret em campo aberto. Contudo, a ideia havia sido negada veemente por Cameron, seria um desperdício de força de guerra, como o próprio orientou. Tanto ela quanto Elijah eram importantes o suficiente e juntos eram mais fortes para enfrentar o batalhão de Medroc. Após muitas discussões e planejamentos, o tio havia ficado com a incumbência de levar um batalhão menor pelo caminho que beirava a floresta, enquanto Evelyn e Elijah guiaria o restante pelo campo aberto. O caminho era mais longo, mas não correriam o risco de serem pegos em emboscada e não teriam que passar com vários mil homens por dentro do rio. Uma coisa era quando ela havia levado apenas uma equipe, outra era atravessar com charretes, cargas, animais e vários instrumentos de guerra.

Evelyn apenas torcia para que Cameron não fosse pego na mesma emboscada que ela havia sido da outra vez, mas ambos achavam que Garret não usaria do mesmo artifício e dificilmente ele esperaria que Evelyn passasse pelo menos caminho. Portanto, eles contavam que a passagem estivesse livre para que o tio pudesse entrar na divisa do reino com mais tranquilidade, ou que, pelo menos, fosse possível combater os homens que pudessem esperá-los por ali.

Se tudo desse certo, Evelyn encontraria Garret perto da divisa, ou talvez até mesmo no território de Medroc, Não muito depois seria tempo suficiente para que Cameron chegasse com seus homens para o reforço por trás dos inimigos.

O reino de Alegrance havia mandado muitos suprimentos, o que ajudou Ílac a compor na guerra inesperada. Já Fortance, apesar de ser um aliado, principalmente por causa de Sarah, não havia retornado a última carta que Evelyn havia mandado e o seu emissário nunca mais havia voltado. Era claro que alguém havia interceptado, por isso ela mandou várias outras, porém não teve tempo de esperar uma resposta. Só torcia que a rainha, mãe de Sarah, houvesse recebido a mensagem a tempo de mandar seus soldados para o local estipulado a tempo.

A rainha despediu-se do tio, segurando qualquer emoção que pudesse ter nesse momento. Aquela poderia ser a última vez que o vira, caso tudo desse errado. Apesar de ser irmão do seu pai, ele não era tão mais velho que ela, por isso, em partes, cresceram juntos, ainda que separados por causa das missões particulares de cada um. Evelyn havia sido criada para ser a rainha de Ílac, enquanto Cameron, para ser a sua mão direita e conselheiro real. Ainda assim, era o mais perto de um amigo que ela pudera obter. Não que houvesse qualquer tipo de desabafo, mas se entendiam e era um consolo para ela no meio de um castelo onde havia que pisar nas pontas dos pés e não confiar em ninguém. Além disso, ele lhe dera Sarah, e ela sempre seria grata por ter ganhado uma amiga no meio disso tudo.

Por isso, apesar dos tratamentos cordiais e superficiais por causa das regras reais, Evelyn sentiu o peso da despedida e engoliu em seco quando ele a abraçou e sussurrou em seu ouvido que nada disso era culpa dela.

Agora estava ali, a floresta ficando para trás enquanto seguiam o caminho. Eles haviam acompanhado o rio, mas agora a estrada corria para uma subida, erguendo-os em um penhasco mediano, lá embaixo a água ainda passava, mas agora era uma visão longínqua, que Evelyn só poderia provar caso se atirasse lá de cima.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now