Trono de Sangue

Prólogo

A garota empunhava sua espada e lutava ferozmente, a adrenalina corroía o seu ventre e o nervosismo passeava até a ponta dos fios de seu cabelo. Um, dois, três golpes falhos. Desviava para a direita e depois para esquerda, a espada rival vinha em sua direção e ela lançou-se para o lado desviando enquanto era tempo. Arregalou os olhos surpresa com o ataque repentino, não esperava essa investida. Franziu a testa enquanto colocava-se em posição novamente, segurando a espada com as duas mãos. O suor já escorria do lado da sua testa fazendo pregar em seu rosto os fios de cabelos que escapavam do amarro. Correu alguns passos em direção ao adversário, erguendo a espada na tentativa de atingir-lhe o abdômen, mas seu oponente conseguia ser mais rápido e com um golpe, girou e bateu em sua espada lançando-a para longe.

O homem era grande e dispunha de mais força, apesar dela ser mais ágil, estava perdendo. A menina ficou vulnerável e quando a espada rival foi em sua direção abaixou-se rapidamente rolando para a direita. Sua respiração estava ofegante e entrecortada, poderia sentir seus batimentos cardíacos acelerados e sua mente confabulando hipóteses de como sairia daquela situação.

- Já não é o suficiente? - gritou ela exasperada. Sabia que ele não a feriria, mas seus golpes eram tão certeiros que sua adrenalina ficava incontrolável e sofria para desviar dos arremetes.

- Seu verdadeiro inimigo nunca achará que é o suficiente Evelyn, não até ter sua cabeça em mãos. - disse, lançando-lhe um golpe rápido a frente e obrigando-a a rolar no chão para desviar.

- Eu já não vou casar com o Henrique? Não é esse o acordo? – disse arfando enquanto desviava dos golpes – A paz foi instaurada já faz dez anos. Qual o sentido disso tudo? - gritou ela tentando correr até aonde sua espada havia caído. Era pequena e rápida, essa era a sua vantagem, pegou a espada e conseguiu entrar em formação novamente e sem muitas delongas aplicou um golpe à direita, em direção a cintura do mais velho.

- Você nunca sabe o dia de amanhã Evy. Um governante sempre deve estar preparado para tudo. - disse o homem escapando enquanto continuavam a duelar. - Há uma linha tênue entre a guerra e a paz. Hoje estamos em paz, o amanhã nunca se sabe. O coração do homem é um terreno que ninguém pode desvendar, nunca confie plenamente em ninguém, nem mesmo no seu futuro marido. Abra os olhos, seja atenta e esteja preparada para o que vier. - Deu uma rasteira na garota, aproveitando a sua distração com a conversa, derrubando-a de costas no chão.

A menina sentiu seu lombo arder com o impacto e suas mãos espalmaram-se no chão junto com a sua espada enquanto o homem inclinava-se em sua direção. O homem aproximou-se da garota com um sorriso triunfante e zombeteiro, a fim de dar o golpe final.

A garota, em um movimento rápido, correu a mão que estava colada ao chão, para segurar firmemente a espada ao lado. Ergueu-a imediatamente, levantando-a no momento que o homem, em um ímpeto, lançava-se para aplicar o golpe sobre ela. A espada foi pontualmente em direção ao abdômen do senhor finalizando o lance que, enfim, declararia a vitória da menina.

- Sou sempre atenta e preparada, papai! - disse a menina levantando-se vagarosamente vitoriosa com um sorriso largo no rosto.

Adorava quando seu pai a subjugava para poder prová-lo ao contrário. O seu treinamento era sempre muito pesado. Por ser mulher, seu pai pegava era mais duro ainda com ela. Evy possuía um dos melhores guerreiros para treiná-la desde que aprendeu a andar, porém, às vezes, seu pai queria testá-la pessoalmente, para ver a evolução da garota com seus próprios olhos. Surpreendê-lo era questão de honra para a princesa.

Só tinha 13 anos... para aquele mundo não era criança mais, não havia tempo para a infância nos impérios. A meninez era algo completamente roubado dos herdeiros reais. Criança só era considerada àquelas que não sabiam andar ou que ainda mamavam. Para eles, Evelyn já era uma jovem, quase adulta. Já estava próximo a época em que estaria apta a assumir os compromissos do reino. Só lhe faltava uma coisa que marcaria definitivamente o início da sua nova vida e a garota temia que esse dia chegasse, lhe faltava o marco de toda mulher.