Capítulo 12

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A cada passo mais perto do local, as mãos dela estremeciam. As lembranças mais fortes que tinha daquele lugar eram recheadas de dor e tormenta. Os dedos da rainha tamborilavam, relembrando a agonia que sentiu ao ter cada um deles perfurados por sua mãe. Voltar ao Poço da Morte não seria fácil, mesmo que este já não fosse mais o seu nome.

Desde que a mãe dela havia sido colocada naquele lugar, muita coisa havia mudado. Contudo, poderiam retirar todos os objetos de tormenta, transformar todas as paredes, ou mesmo colocar cortinas claras nas janelas. Nada modificaria as recordações que Evelyn possuía de lá.

A medida drástica de trancafiar a matriarca ali surgiu devido à insanidade de Helena, que começou aos poucos, após a morte de Miles Kreigh, seu marido. Havia dias que ela o chamava como se ele estivesse vivo, enquanto outras vezes, parecia normal, encarando a dura realidade.

Com o passar dos dias, suas atitudes começaram a piorar, demonstrando a sua preferência plena pela neta Alyssa. Ela não se importava com o pequeno Luigi – que não havia completado nem um ano quando Miles faleceu. Era como se o seu neto não existisse, ela apenas ignorava completamente o pequeno príncipe.

Os eventos foram se tornando mais insustentáveis quando uma batalha se formou no castelo entre ela e Jeffrey. Evelyn não sabia definir o motivo, porém, todo desafeto que Helena escondeu por ele foi escancarado. Ela não media mais as palavras e deixava claro o quanto odiava o marido da sua filha.

Por um momento, Evelyn até achou que isso fosse uma demonstração de amor da mãe, uma revolta por todas as crueldades que Jeffrey havia feito contra ela. Entretanto, a rainha estava errada. Em uma conversa com a matriarca, na tentativa de propor um plano para sair daquela situação, Evelyn foi escorraçada. Helena não consentiu, tratou-a mal e ainda a mandou continuar a vida como ela era, recheada de dor e sofrimento.

Evelyn aguentou toda a bipolaridade da mãe e as reclamações de Jeffrey sobre ela por um bom tempo, até que fato a fez tomar medidas drásticas.

Quando Luigi havia acabado de completar um ano de idade, uma grande festa foi encomendada por Jeffrey, a fim de comemorar o primeiro aniversário do seu herdeiro. Evelyn já havia se arrumado e agora ela buscaria o seu filho para entrarem todos juntos no grande evento real. As criadas ficaram responsáveis para arrumar o menino e aprontá-lo sem atrasos e, assim, quando a rainha chegasse ao aposento dele, o príncipe estaria pronto.

No momento em que se aproximou do quarto, Evelyn sentiu que algo estava errado, ouviu alguns resmungos e abriu a porta de uma só vez, deparando-se com o corpo da sua mãe inclinado sobre o menino, que era sufocado com um travesseiro pelas mãos sorrateiras de Helena.

— O que você está fazendo? – A rainha gritou, retirando a sua mãe de cima de Luigi com brusquidão. O rosto dele estava vermelho arroxeado por causa do sufocamento que havia sofrido. Evelyn o embalou em seu colo e começou a chorar, tentando conter o sentimento da quase perda que alastrava-se em seu peito. — Você está louca! – Essa só podia ser a única explicação para a cena que havia presenciado.

— Ele precisa morrer – Helena disse fria, nenhuma emoção poderia ser detectada em sua voz.

—Sai daqui! Eu mato você antes que possa tocar em meus filhos, está me ouvindo? – Evelyn gritou em meio ao choro. Só não havia avançado contra a sua mãe porque não tinha condições de largar o pequeno em seu colo.

— Ele vai te fazer escolher entre os seus filhos e, no final, alguém morrerá de qualquer forma. Um ou outro, seja qual for, vai doer. Melhor que seja o que tem o sangue do demônio – Helena balbuciou sem olhar nos olhos de Evelyn, como se anunciasse uma profecia.

Trono de SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora