Capítulo 10

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O castelo aparentemente era o mesmo, porém, Elijah sabia que isso não era verdade. Antes aquele era o seu lar, um lugar acolhedor onde viveu desde que seus pais começaram a trabalhar para o falecido rei Miles. Aqueles corredores haviam sido alvos de suas corridas junto a Evelyn, e as passagens secretas, eram os esconderijos das brincadeiras que faziam. Agora, ao olhar minuciosamente para o palácio, sabia que muita coisa havia mudado.

O ar era sombrio e o aspecto era frio. Os criados não eram sorridentes como antigamente, e apenas escutava-se o silêncio, interrompido vez ou outra, minimamente, por algum servente ou guarda real. Poderiam dizer que ele estava louco, que o castelo era centenário, que até as mais delicadas obras estavam intactas por muitos anos, porém Elijah sabia que aquele local onde pisava os seus pés depois de tanto tempo, estava longe do que ele um dia chamou de casa.

Os minutos que aguardava no salão de espera eram cada vez mais agoniantes. O soldado havia pedido para que ele e Hector aguardassem ali na recepção. Não sabia se era ansiedade, mas parecia que estavam ali já há muito tempo e nada de alguém aparecer. Elijah abria e fechava o punho, tentando se acalmar. Não poderia mostrar-se abalado, queria demonstrar a Evelyn o homem que se tornara, inabalável, e não o garoto bobo que ela deixou para trás.

Hector colocou a mão no ombro do amigo, tentando passar conforto, o que não foi bem recebido por Elijah. Para ele, aquele gesto o fazia sentir-se fraco e isso era o que ele menos queria naquele momento. Retirou a mão do general imediatamente e começou andar, retirando-se dali.

― Para onde está indo? – Hector perguntou, confuso.

― Andar por aí. Não vou ficar igual a um idiota aqui esperando os caprichos da realeza terminarem para enfim nos atender.

― Você não pode ir entrando assim, Elijah.

― Eu já fiz o que você quis, Hector. Vim até aqui, mesmo a contragosto. Agora as regras são minhas, eu já disse que não me abaixo para eles, você sempre soube disso. Se eles me quiserem no teu lugar, será do meu jeito. Não vou me adequar ou me moldar para ser capacho de ninguém, não faço parte desse jogo – falou bravo e continuou andando, ignorando as reclamações do homem.

Caminhou sem nem mesmo pensar para onde suas pernas o dirigiam, apenas entendeu o mecanismo automático do seu corpo, quando se viu em pé, de frente ao seu antigo quarto no palácio. A porta estava fechada, não sabia quem vivia ali agora, porém, uma força maior o levara a girar a maçaneta.

Um só rompante e o quarto estava escancarado. Queria entrar e aspirar aquelas paredes mofadas novamente, esperando que tudo fosse igual, assim como o restante do castelo. Porém não imaginava que ouviria um grito feminino soar no local.

― Quem lhe deu a ousadia de entrar aqui? – a jovem vociferou, dando de costas imediatamente e puxando o lençol para se cobrir.

― Desculpe, senhorita, não imaginava que havia alguém no local – ele respondeu, um pouco desconcertado pela situação constrangedora.

Desviou o olhar da bela mulher e mirou as paredes, notando que não eram as mesmas. O mofo havia se esvaído e não tinha mais as camadas de madeira velha pelo quarto. Pelo contrário, era tudo novo e muito bonito, o quarto se transformou em algo pomposo e luxuoso. Havia até mesmo um pequeno sofá aveludado, móvel que só quem era da realeza ou fosse muito rico poderia possuir.

O guerreiro voltou a fitar a jovem, arqueando a sobrancelha intrigado. Por que aquela garota tinha tanta pompa em um local tão insignificante como aquele?

Reynia, assim que virou-se para ele, notou a farda que se destacava nos músculos largos de Elijah. As roupas dele não eram iguais aos dos soldados do castelo, o tecido era diferente, mais compacto, a armadura em seu peito era mais trabalhada e o símbolo de Ílac que ele carregava, cravado em meio ao bronze, mostrava a alta patente que Elijah tinha.

Trono de SangueWhere stories live. Discover now