- Bom dia, vovó! - Kat entrou correndo na cozinha e disparou na direção das pernas de Dona Célia, abraçando subitamente. O calor dos braços da pequena sobre as pernas da avó transmitia uma sensação sem igual.
- Bom dia, meu amor. – a avó limpou as mãos em seu avental e, curvando-se, abraçou a neta. - Dormiu bem?
- Dormi sim. - Kat se soltou e sentou em sua cadeira. Ela tinha seu lugar reservado à mesa. Deixava uma almofada em cima de um dos assentos para que quando sentasse, ficasse em uma altura mais confortável e equiparada às outras mulheres da casa.
Sarah abriu o forno e tirou a torta de maçã. O cheiro tomou conta de cada partícula daquela cozinha e invadiu abruptamente as narinas da pequena.
- Esse cheiro... Estou com muita fome. Sabia, vovó? - Kat deitou com os braços na mesa e fechou os olhos, puxando com o nariz o aroma da torta.
- Sabia, a vovó sabe de tudo. – gargalhou. - E olhe o que eu fiz para você. - Dona Célia abriu a geladeira e tirou uma tigela com gelatina.
- Gelatina de morango! - Kat se levantou em um salto preciso e abraçou novamente a avó. - Você é a melhor avó do mundo. Te amo muito! - tinha um sorriso que mal cabia em seu rosto.
Dona Célia riu e olhou para Sarah que também ria sentada à mesa.
- Vamos comer então?
- Sim, sim. - Kat voltou ao seu lugar e logo se pôs a comer um pedaço da torta.
Tomaram o café da manhã em silêncio. Hora ou outra a garotinha fazia um comentário sobre como estava boa a torta, e as outras duas concordavam. Sarah durante o tempo da refeição se esquecera do ocorrido na noite anterior, que tanto lhe incomodava.
- Estou cheia. - Kat pôs as mãos na barriga e suspirou.
- Mas já? Você comeu tão pouco, meu bem. - Dona Célia disse entre uma garfada e outra.
- Eu estou muita cheia. Olhe minha barriga, vovó. - e estufando-a mostrou para a avó que riu.
- Desse jeito você vai acabar estourando. Cuidado. - todas riram.
Repentinamente Kat arregalou os olhos e correu para o ouvido de sua mãe. Cochichou algumas poucas palavras em um tom quase inaudível, e saiu de perto, observando a face de Sarah com um sorriso de criança prestes a aprontar. Dona Célia não ouvira o que a neta falara, porém sabia exatamente o que ela queria, não falava de outra coisa nos últimos dois dias.
- Ah... É mesmo. - Sarah se levantou e foi até a lavanderia da casa.
Voltou de lá com as mãos para trás. E um sorriso malicioso no rosto.
- Oras... Acredita que não achei, Kat?
- Mamãe, eu sei que está atrás de você. - Kat riu e correu para trás da mãe, que agilmente virou de frente para filha. - Mamãe, mamãe.
- Filha, filha. - Sarah rapidamente levou as mãos a frente tendo uma boneca com essas e entrou para Kat, pegando-a no colo.
- Dolly! – abraçou a boneca e balançou-a em seus braços. - Saudades de você...
Distanciando-a um pouco de seu corpo pôde analisar novamente os traços singelos da boneca como se fosse a primeira vez que a vira. Uma simples boneca de pano branco. Cabelos feitos de lã preta, e o lugar dos olhos ocupado por pequenos botões da mesma cor. A boca levemente costurada com uma linha vermelha meio rósea. Um vestido amarelo e florido, também de pano, cobria onde deveria estar seu tronco.
- É tão linda! – a garotinha exclamou de felicidade.
Dona Célia riu do carinho que a neta tinha com seus brinquedos.
- Temos muito para conversar, mocinha. Teddy e eu temos que te perguntar uma coisa. - virando para sua mãe. - Posso ir para o meu quarto? – adotou uma expressão de cachorro perdido, implorando com os olhos para poder ir brincar.
- Claro, querida. - Sarah pôs a filha no chão e essa imediatamente correu em direção ao cômodo.
- Não corra na escada. Você pode cair e se machucar. - fora a última coisa que Kat ouvira enquanto ia em direção a seu quarto. Não ligando para o que a mãe dissera, a garotinha correu, subindo as escadas velozmente. Passou pelo corredor e, acelerada, empurrou a porta, que se fechara um pouco com a ajuda do vento. Pulou com o impulso de costas em sua cama.
- Teddy! Olha quem voltou! - Kat colocara a boneca colocada ao rosto do urso.
- Oras, mocinha. Onde esteve durante todo esse tempo? – a criatura peluda falou enquanto se aproximava das outras duas.
- Você sabe muito bem, Teddy. Estava na lavanderia. Olhe como estou mais linda, cheirosa e arrumada. - Dolly se soltou com um salto das mãos de Kat e girou em cima da cama, fazendo seu vestido amarelo girar. As flores de seu vestidos balançaram como um jardim ao vento.
- Não briguem! - Kat chamou a atenção dos dois. Preferia cortar a briga de seus brinquedos antes que piorasse. Ambos eram ciumentos e gostavam de ter a atenção de Kat completamente para eles.
- Perdão! - os brinquedos responderam em uníssono.
- Então, Teddy. Vamos perguntar à Dolly o que ela acha da garota? - a menina se ajeitou na cama, ficando de joelhos.
- Era o que eu iria falar. - o urso se aproximou de Kat e a boneca virou seu olhar para os dois.
- Que garota? - Dolly perguntou com um sorriso no rosto e um olhar de incompreensão.
- A do final do corredor. Ontem à noite apareceu essa menina lá perto do quarto da mamãe e da vovó. Ela ficou olhando pra porta do meu quarto sem se mexer. O tempo todo parada na mesma posição debaixo do quadro. Teddy acha que ela deve brincar com a gente, mas eu acho melhor não. Eu estou com medo. Não a conhecemos.
- Mas... - Teddy interrompeu a dona. - Ela estava chorando. Não é bom ver uma pessoa chorar. Deve estar se sentindo sozinha. Eu acho que poderíamos chamá-la para tomar chá conosco à tarde.
- Por mim tudo bem. - Dolly concordou com a cabeça.
- Vocês têm certeza? Ninguém conhece, nem sabe quem é. - Kat estava preocupada, mas no fundo estava gostando um pouco da ideia de ter uma nova amiga à mesa para brincar.
- Temos sim. Vamos chamá-la para a hora do chá. - Teddy reforçou animado.
- Se vocês dizem...
Batidas na porta chamaram a atenção de Kat, que se virou de súbito.
- Oi, mamãe!
- Você não lavou as mãos antes de subir. – disse Sarah em um tom de desaprovação.
- Ah não, mamãe. - Kat riu e olhou para seus brinquedos que estavam parados, caídos na cama.
Desceu dessa e foi correndo para o banheiro junto de Sarah.
أنت تقرأ
Vamos Brincar, Kat?
الرعب- Filha... Com quem você está falando? - Com o Teddy, mamãe. Um tilintar de xícaras ecoa no quarto. - E sobre o que vocês estão falando? - Sobre a garota no final do corredor. Acho que ela quer brincar de comidinha co...