CAPÍTULO 5

30.2K 3K 3.1K
                                    

Teddy não falava nada. Estava paralisado sentado em sua cadeira. Virava xícaras e xícaras de chá falso para ocupar-se e não precisar conversar com a garota que mandava olhares horripilantes para ele. Fingia se servir de chá e mantinha a xícara vazia. Levava próximo à boca para insinuar que estava bebendo e ficava ali durante um tempo razoável, até Kat olhar para ele e ver que estava na hora de servir mais chá falso.

Dolly, igualmente, estava com os nervos em seus extremos, porém não conseguia disfarçar. Sua respiração, caso bonecas respirassem, seria muito ofegante. Rápida e falha. Usava um sorriso bem falso no rosto, com a linha costurada totalmente distorcida. Seus botões, palpitantes. Saltavam do chá, para a garota do corredor, para Teddy, Kat e a janela. Não os controlava. Bebia chá desesperadamente e ria de coisas que não tinham a menor graça. Nunca se sentira tão nervosa quanto naquele momento.

Kat estava mais calma. Com seus nove anos, ainda não compreendia o porquê do nervosismo de seus bonecos. Era ingênua. Sorria, e, conforme conversava com a garota, seu medo e preocupação pareciam passar para seus bonecos que só ficavam mais apreensivos. Kat alisava seus cabelos loiros, jogando-os repetidamente para trás.

- Mas até agora não disse seu nome... – Kat reforçou a pergunta, tentando novamente fazer a garota responder.

- Eu não sei. - ela desviou o olhar dos olhos de Kat instantaneamente e observou a paisagem pela janela enquanto virava mais uma xícara. As cortinas balançavam junto ao vento que adentrava no cômodo.

- Como assim? Todos sabemos nossos nomes. Eu sou a Kat, ele é o Teddy, e ela é a Dolly. Você não é diferente da gente. - a garota engoliu em seco. Ela não era diferente deles, ou era? - Tem que ter um nome.

- Não é que eu não saiba. Eu não me lembro. - o tom de voz dela era sincero. Os olhos voltaram a tocar os de Kat, passando a garotinha uma maior credibilidade no que falava.

- Como você esqueceu o próprio nome? - Kat estava com uma expressão melancólica em relação a garota. Teddy olhava desconfiado para ela entre xícaras.

- Ninguém conversa comigo. Não me perguntam nada. É como se eu não existisse no meio deles. As pessoas de hoje tratam de maneira estranha as diferenças. - a garota falou largando a xícara em cima da mesa. Focou no resto de chá que ainda tinha e acabou se perdendo em pensamentos. Havia uma verdadeira dor no que dizia.

Kat tinha os olhos confusos parados, também, sobre a xícara da garota.

- Não consigo entender. - balançou o rosto, voltando a trocar olhares.

O conhecimento de mundo de Kat era limitado. Ficava a maior parte do tempo aprisionada em casa e as coisas que conhecia vinham da televisão. Na tela, todas pessoas tinham nome. Até mesmo o rato do programa dos sábados que a vovó assistia com ela possuía um nome. Não compreendia como uma menina, como ela, não tinha um nome.

- É muito confuso. – levantou a cabeça saindo de seu transe. – É esquisito, mas já me acostumei. Um nome não faz falta para mim. - a garota virou-se para Teddy e mandou um sorriso macabro em direção à ele. Deixou de lado rapidamente a dor que lhe afligia pela falta de nome. - Que urso mais lindo. Posso pegá-lo? - perguntou à Kat.

- Pode sim. Vem, Teddy, ela quer brincar com você. - Kat estendia os braços para pegá-lo, mas o urso rejeitou, jogando os pelos contra o encosto da cadeira, tentando se afastar em vão.

- Não, não, não. - largou a xícara em cima da mesa. Essa balançou, tentando manter o equilíbrio, e quase se quebrou. - É... Bem... - Teddy tinha que enrolar. Estava com muito medo da garota esquisita. Não queria ser objeto de brinquedo dela. - Temos que partir o bolo antes. Ela não iria querer ir embora sem comer, não é? - evitava o máximo para não trocar olhares com a nova convidada.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now