Capítulo 32 - 2/2

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Jerome perdia o controle total de seu corpo. Medo era a única coisa que sua razão e sentimento permitiam-no sentir. A respiração incessante com um coração em ritmo acelerado. O sangue que percorria fortemente suas veias parecia queimá-lo por dentro.

- Jerome, caminhe mais devagar. Não fuja de uma amiga. - gargalhou estridentemente atrás dele. - Será divertido, você vai ver!

O corredor brincava com sua mente. Os passos insistiam em não sair do lugar, as paredes agora também paradas, aumentavam assim a agonia de Jerome. Uma tinta parecia escorrer por essas do teto em direção ao chão. Algo vermelho pingou sobre seu nariz. Levantou o olhar para o teto e viu ao longo do corredor o cômodo se desfazendo. A cor branca aos poucos se liquefazia passando da mais pura cor para o mais perigoso vermelho.

Os pés da garota mantinham se arrastando lentamente. Jerome não olhava para trás, porém com seus nervos à flor da pele podia sentir sua proximidade. As unhas da garota pareciam tamborilar levemente a lâmina da faca emitindo um tilintar agudo que cortava a audição do homem.

- Começamos a brincar. Poderia ser diferente, eu mesma preferia que fosse diferente. - o tilintar parou temporariamente. - Você vê o que eu vejo, Jerome. É um bom sinal, aos poucos estamos nos entendendo.

As pernas agitadas começavam a sentir a dor do esforço. Ainda com a adrenalina dominando suas células, o cansaço parava aos poucos o estado de alerta do homem. Fraquejante, cambaleou para os lados conseguindo com muita dificuldade manter-se em pé. Suas mãos tocavam a parede que se desfazia e o líquido vermelho e quente escorria em seus dedos. O odor do corredor ardia, um cheiro forte impregnava suas narinas, descontrolando ainda mais seus sentidos. A garganta do homem arranhava. Jerome não se encontrava mais em si.

A garota atrás dele começou a cantarolar com a boca cerrada. Emitia um som suave e infantil, parecendo uma cantiga de ninar. O homem que cambaleava chocando seu corpo contra a parede urrava em desespero. O chão a seus pés rangia como se risse da situação dele. Sua roupa estava em grande parte avermelhada pelo líquido que escorria pelo corredor e aos poucos se elevava no chão. Uma correnteza se formava sob Jerome, a qual dificultava ainda mais que esse permanecesse em pé.

A cabeça do policial se encontrava a mil. Seus neurônios não raciocinavam, tudo estava errado. Não conseguia compreender com o medo o controlando. Em um súbito instante, tudo ficou congelado. Jerome que mantinha-se em pé apoiado pelas paredes viu em nuances da imagem o líquido que escorria parar no meio do caminho. Não ouvia barulho algum. O cantarolar da menina cessara. A correnteza que aos poucos se acelerava, parou inesperadamente. Apoiou-se em apenas uma parede e piscou os olhos para examinar melhor o que acontecera. Sua visão não era bem detalhada. Aos virar-se para trás conseguiu distinguir um borrão parado a sua frente, com um objeto reluzindo fortemente sobre suas pupilas, quase o cegando.

- Você não deveria parar, Jerome! - um nuance branco no formato de um sorriso tomou conta do borrão visível.

Assustado, involuntariamente, inalou fortemente o ar presente naquele lugar preenchendo completamente seus pulmões. Sentiu-se ainda mais tonto, caindo dessa vez ao chão, amortecendo a queda com as palmas das mãos chocando-se contra o solo. O líquido vermelho estava a uma certa altura que suas estavam completamente recobertas e não eram mais visíveis. Do mesmo modo súbito que parara, a correnteza tornara a jorrar, dessa vez mais veloz. Jerome começou a ser arrastado de costas, sem saber exatamente para onde iria. Seu senso motor não permitia saber se estava parado sentindo o vermelho escorrer pelo seu corpo, ou se realmente estava sendo carregado em direção a algo. Tentou segurar-se à parede, porém era impossível. O líquido, que escorria por essa, jorrava contra seu rosto durante as tentativas em vão de ficar em pé. A garota a sua frente começou a assobiar a mesma canção que cantarolava enquanto arrastava os pés lentamente, parecendo se divertir com o que fazia sem ter a pressa de acabar. Percebia através do feixe forte de luz que essa balançava sua faca de um lado ao outro.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now