Capítulo 34

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Durante a noite anterior, a garotinha demorou horas para conseguir adormecer naquela prisão. Kat não sabia ao certo quando era noite ou quando era dia. Chegou a acreditar que a lua havia tomado os céus quando, inesperadamente, a lâmpada que iluminava o quarto foi apagada, sem demais explicações.

Cerrou os olhos na esperança de conseguir cair no sono, mas os pensamentos ficavam remoendo sua mente. Pensava em casa, queria voltar para os braços de sua mãe, de sua avó. Brincar, sorrir, sem ter medo de nada. Desejava não ter conhecido Mel. Remexia-se na cama dura como pedra. Seu corpo doía. Custou para se acostumar com o incômodo que só piorava sua situação. Em um instante qualquer, horas depois de deitada, cansada psicologicamente, fisicamente, emocionalmente, apagou sem perceber.

Acordou com socos insistentes e cadenciados na porta. Em um solavanco, levantou seu tronco da espécie de cama assustada.

- Acorda, menina! - a voz já conhecida de George berrava do outro lado. - Gare vai trazer sua comida daqui a pouco. Espero que não esteja mais dormindo, porque será muito pior para você se isso acontecer. - encerrou socando uma última vez com maior intensidade, como se colocando um ponto final.

Kat não conseguiria dormir nem mesmo se quisesse. Seu corpo estava em um estado de completo alerta. Acordara de súbito ao ouvir o primeiro estrondo. Girou a cabeça para a esquerda não acreditando que ainda permanecia naquela prisão. Perdeu as energias rapidamente, enquanto as lágrimas voltavam a descer pela lateral do rosto. Largou o tronco sobre a cama dura e não se importou com a dor que sentiu.

Algum tempo depois, como George berrara, Gare abriu a porta e entrou fuzilando diretamente com o olhar a cama. Kat ainda estava deitada, porém com os olhos abertos, focados na única possível saída. A troca de olhares que mantivera com o brutamonte lhe causou certos arrepios, no entanto não temia tanto Gare quanto temia George. Aquele que lhe trazia comida tinha um jeito desajeitado de ser, apesar da aparência arrogante e grotesca.

- Trouxe seu café da manhã. - o homem larga o prato e o copo no chão, fazendo o barulho do metal estrugir no quarto. - Aproveite o que tem, a doutora não sabe se teremos almoço hoje. - ele sorri sarcasticamente sem mostrar os dentes e sai, trancando a porta em seguida.

Kat se levanta apenas depois de seus brinquedos, que disparam em direção ao que Gare trouxera. No prato havia um pão com o que parecia queijo e presunto dentro, e no copo um suco alaranjado.

- Sinceramente, estou sentindo muita falta do nosso chá, Kat. - Dolly falou ao ver o café da manhã e se afastou com uma cara de desgosto.

- Lamento ter que concordar com a Dolly, mas também estou sentindo. - Teddy assentiu com a mesma expressão em seu rosto.

- Daquela hora do chá de antes. - Kat falou e pegou o pão. Não foi preciso muito para perceber que estava duro como pedra. Cheirou o suco e balançou a cabeça negativamente. O cheiro também não estava muito agradável.

- De antes? - Dolly perguntou.

- Antes da Mel aparecer... - mordeu o pão e não olhou para seus brinquedos. Não chorava mais, mas as marcas das lágrimas estavam ainda intactas nas maçãs do rosto.

Teddy e Dolly ficaram calados, não sabiam como responder. Entreolharam-se e abaixaram a cabeça. Concordavam com ela que era tudo melhor antes da garota da faca aparecer, mas não podiam falar. Apenas piorariam a situação.

- Vai ficar tudo bem, Kat. Confie em mim. - Teddy ciciou mantendo a cabeça abaixada.

Por um curto intervalo de tempo, o único som audível era o rodopiar do ar na sala.

- Eu espero que fique. - Kat fez uma pausa. - Tem hora que eu me pergunto se minha mãe vai conseguir nos encontrar. - parou uma mordida ao meio. Suspirou e colocou o pão no prato de metal. Olhou para seus bonecos. - Vocês acham que ela vai conseguir?

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now