Jerome posicionava, sem muita paciência, seu carro na vaga predeterminada do estacionamento de seu prédio. Subiu os poucos lances de escada que tinha para subir. A discussão do casal, no apartamento imediatamente abaixo ao seu, era rotineira. Quase todos os dias ao chegar do trabalho ouvia a discussão na escada. Aquele dia em específico ele não estava disposto a ouvir os gritos lançados pelo casal. Sua vontade era entrar no apartamento sem bater à porta e mandar ambos se calarem aos gritos, porém não o fez. Estava exausto como nunca esteve antes.
No trabalho tentara conversar com o Delegado Rhodes sobre o raptamento da garota, mas o mesmo não ligou para a preocupação do rapaz.
- Acalme-se, Jerome. Sei muito bem o que estou fazendo. - dizia cauteloso e repetia de maneira incansável. - Não há um porquê para se preocupar.
Nada o fazia mudar de ideia. Nem mesmo repetir o dito tantas vezes antes:
- Essa Dra. Shoes é uma louca. Todos sabemos, Rhodes. Você está cego. Ela não é nada apropriada para cuidar da garota. Nem temos provas o suficientes para dizer que foi Kat quem matou a garotinha e o Dr. Alan.
Jerome dizia em vão. O delegado fazia questão de não ligar para nada e a resposta para os argumentos usados pelo submisso vinha na ponta da língua instantaneamente.
- Eu sei o que estou fazendo, Jerome. Eu já te disse milhares de vezes e volto a repetir. - mantinha a calma durante toda a conversa. - A Dra. Shoes é a pessoa em quem mais confio, e somente eu sei se as provas que possuímos são ou não suficientes para incriminá-la.
Jerome discutia. Tinha inúmeros argumentos para usar, mas nada, absolutamente nada, mudava a opinião do delegado. Na mente de Rhodes ele estava certo e para ele isso bastava.
- Jerome, tenho mais serviço para fazer. Não se preocupe. Vá cuidar de outros casos, a garota Kat já está em minhas mãos... - ele falou e não esperou por uma resposta do outro. Saiu da delegacia em seu próprio carro e não apareceu novamente até o final do dia.
Finalmente, Jerome se viu abrindo a porta de casa com dificuldade. A fome reclamava em seu estômago, contudo não deu atenção ao fato. Queria tomar um banho e deitar para se acalmar. Talvez após o banho comesse um pedaço de pão ou tomasse apenas um copo de leite, mas aquilo não faria diferença.
Tomou seu banho e vestiu o pijama. Ao passar pela cozinha, no momento que seguia para seu quarto, parou no cômodo e pegou um pão para comer. Parou de pensar em tudo que lhe preocupava. Queria descansar e se pudesse faltaria ao trabalho no dia seguinte. Comia o pão em um estado semiconsciente, praticamente já dormindo. Levou um susto quando o celular na pia começou a vibrar insistentemente. Pegou-o e deu uma rápida visualizada no número. Desconhecido.
- Alô? - disse imediatamente ao colocá-lo contra o ouvido.
"Kat!"
A voz suave de uma garotinha ressoou do outro lado da linha.
Jerome que estava apoiado na pia se ajeitou. Seus olhos se arregalaram e o estado de semiconsciência se perdeu rapidamente. Não sabia se naquele instante sentia medo ou qualquer outra sensação. O nome, juntamente ao tom da voz, tomaram-lhe total atenção.
- Kat? - perguntou um pouco duvidoso. Tentava primeiramente entender o que estava acontecendo.
"Kat!"
O timbre da voz era doce e ressoava de uma maneira inocente, algo que Jerome tinha certeza não ser.
Gaguejou um pouco antes de responder. Largou o pão sobre a mesa.
- Quem está falando?
-"Kat!"
- É você, Kat? - Jerome perguntou ainda mais confuso. Não conseguia distinguir o tom de voz suave que chegava a seus ouvidos, portanto não poderia concluir se era realmente a garota.
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Vamos Brincar, Kat?
Horror- Filha... Com quem você está falando? - Com o Teddy, mamãe. Um tilintar de xícaras ecoa no quarto. - E sobre o que vocês estão falando? - Sobre a garota no final do corredor. Acho que ela quer brincar de comidinha co...