- Não saiam do quarto! Se ele aparecer, gritem! – Mel falou, aguardou o balançar de cabeça de Sarah, conferiu se a janela estava realmente fechada e fechou a porta do quarto de Kat. Esperava que as duas permanecessem seguras naquele cômodo, apesar de não estar totalmente confiante quanto a isso.
Suspirou. Colocou a mão dentro do bolso de seu macacão e sentiu a faca ali, não sozinha, com o pirulito ao lado. Ela não sabia o porquê daquele pirulito a perseguir, no entanto havia aceitado sem mais questionamentos. Tirou o doce colorido, mas se segurou para não dar uma lambida. A doçura da guloseima fazia a mente dela relaxar. O turbilhão de sensações que seu espírito captava entre os dois mundos parecia ser amenizado quando ela comia daquele doce, porém preferiu não fazê-lo. Guardou o pirulito e, ao tirar as mãos do bolso, trouxe consigo a faca.
- Oi, Teddy! Estava com saudades de brincar contigo. – fez uma pausa. Caminhava em direção ao final do corredor como se andasse em uma corda bamba. – Dessa vez somos apenas eu e você... como nos velhos tempos.
As silhuetas negras se agitaram disformes na cortina escarlate que cobria as paredes da casa. Mel mantinha a cabeça fixa voltada para a frente, porém os olhos atentos a cada mínimo detalhe em seu campo de visão.
- Está fugindo de mim? – reforçou ao não ter nenhuma resposta verbal. Precisa ficar frente a frente com aquele brinquedo maldito.
Mel sabia que, quando se deparasse com o brinquedo, sua mente ficaria mais facilmente controlada por ele. Sua sanidade seria testada ao extremo e a tia avó de Kat teria que usar de uma força que não sabia se existia dentro de si para se controlar. A faca estava firme em suas mãos, nada hesitante.
Parada no final do corredor, virou-se para a escada. Dona Célia já não estava mais ali, Mel e Sarah a carregaram para a cama logo após a mãe de Kat conseguir recompor um pouco de suas forças.
- Está com medo, não é? – Mel ironizou e riu suavemente como uma criança que sabia que estava sendo má. – Acha que vai perder para uma velha amiga? Foi por pouco, da outra vez, Kat apareceu e te salvou, mas agora você não a tem do seu lado. Ela sabe o monstro que você é!
Algo se mexeu no andar de baixo. Era Teddy! Mel, ao ver Martin ameaçando voltar à consciência, achou um jeito de deixá-lo apagado por mais um tempinho. Não existia a possibilidade de ser ele acordando tão cedo.
- Suba aqui! Você sabe que eu gosto de brincar em lugares altos. – trocou a faca de mão. – Já te contei qual era o meu sonho!
- E eu te ajudei a realizar... – a voz de Teddy chegou a seus ouvidos por todas as direções.
- Olha quem resolveu me responder. Já estava pensando que não queria brincar. Logo você... – um sorriso tomou o rosto de Mel.
- Você sabe que eu não resisto a uma brincadeira!
A voz agora tinha uma fonte concreta. Assim que a primeira palavra se pronunciara, Mel virou a face para a direita, na direção do quarto de Sarah. O urso estava parado no chão, olhando para ela sem demonstrar expressão alguma. Parecia um brinquedo e apenas um brinquedo. No segundo seguinte em que o viu, uma sobrancelha se arqueou intrigada.
Que barulho fora aquele no andar de baixo?
- Se você está aqui, quem está lá embaixo? – Mel perguntou um pouco apreensiva. A faca em sua mão sentiu a pressão diminuir suavemente ao redor de seu punho.
- Uma coisa eu tenho certeza, eu não sou. – o urso falou e tombou seu corpo para a esquerda, caindo no chão como uma pena. O barulho de pelúcia no chão foi abafado rapidamente.
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Vamos Brincar, Kat?
Horror- Filha... Com quem você está falando? - Com o Teddy, mamãe. Um tilintar de xícaras ecoa no quarto. - E sobre o que vocês estão falando? - Sobre a garota no final do corredor. Acho que ela quer brincar de comidinha co...