Capítulo 21

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Sarah dirigia freneticamente o carro. O volante em suas mãos trêmulas parecia querer escapar. Desviava constantemente dos carros, devido a sua alta velocidade. Precisava estar em casa o mais rápido possível. Muitos motoristas gritavam horríveis xingamentos, que passavam despercebidos aos gritos de Kat. A garota no banco de trás chorava em desespero e gritava.

- Mamãe! - berrava repetidamente em prantos incessantes.

- Acalme-se, querida. - Sarah dizia tentando esconder as lágrimas. Tinha os olhos completamente inchados de tanto chorar. O medo a dominava. - Shh... Vai ficar tudo bem. - engoliu em seco.

- Não vai. Eu sei que não vai. O Teddy me disse, mãe. O Teddy não mente! - gaguejava fortemente, demarcando sua fala. - Você mentiu? Você prometeu que ela não iria chegar perto de mim. Prometeu à eles também. - o caminho das lágrimas estava agora demarcadas em sua bochecha rosada.

Sarah virou o carro bruscamente e apertou o pé contra o acelerador. Em questão de ligeiros segundos já estava na porta de casa. Kat atrás dela continuava em seu desespero.

- Mamãe! Você prometeu.

- Meu amor! - a mãe dobrou o braço sobre o volante e apoiou a testa sobre esses. Fechou os olhos contendo as lágrimas. - Eu juro que tentei. - soluçou compulsivamente. Respirou lentamente tentando se recompor. Com bastante dificuldade, finalmente conseguiu. - Mel é esquisita, meu amor. Ela faz coisas que não queremos. Ela não é como nós...

Kat ficou calada segurando os gritos no pescoço, escondendo-os a fundo.

- O Teddy me disse que ela não é desse mundo. Ela não quer o nosso bem, mamãe. - a agonia era evidente no seu tom de voz.

- Eu sei... Temos que fugir dela o quanto pudermos, querida. - Sarah levantou sua cabeça e virou o tronco em direção a garotinha. Focou no olhar pesaroso da filha. As sobrancelhas encolhidas de medo. Teddy e Dolly presos firmemente a suas mãos. Sarah puxou os brinquedos da mão da filha, os quais se soltaram com um pouco de dificuldade. Colocou-os sobre o banco e segurou bem firme as mãos de Kat. - Katherine Forgent...

- Sim, mamãe. - as duas tocavam a pele gélida. Ambas tremiam tentando se sentir melhor pelo que acabara de acontecer. Os olhos de Kat estampavam nitidamente o medo e a insegurança.

- Você promete para mim que vai esquecer tudo o que aconteceu hoje? Que vai fugir da Mel? Não vai mais brincar com ela, não é? - apertava as mãos, uma contra a outra.

Kat ficou parada. Mantendo o absoluto silêncio. Virou levemente a face depois de um tempo. Observou Teddy e voltou para Sarah. As mãos começaram a acelerar. A tremidão voltara.

- Teddy disse que ela vai voltar. Eu não posso prometer. Ela quer brincar, mamãe. - Começou a acelerar sua respiração. O ar entrando e saindo delimitava um aspecto horripilante. - Eu não gosto de brincar. Não quero brincar.

Lágrimas escorreram seguindo o caminho predeterminado.

- Meu amor, a gente consegue. Nós duas juntas... E a vovó. Ela não vai brincar com você. - segurou firme a mão da filha transmitindo a máxima segurança que conseguia.

Kat não respondeu. Abaixou a cabeça e permaneceu parada em sua posição. Uma lágrima pingou na mão de Sarah. Ao sentir o toque suspirou e guardou o que viria jorrar por seu olhos. Preferiu não sair de imediato. Aguardou um pouco e levantou levemente a cabeça de Kat pelo queixo.

- Vamos entrar em casa, meu amor? - limpou com um passar de dedos o molhado em sua bochecha.

Kat pegou seus brinquedos com um movimento lento e balançou a cabeça positivamente. Da maneira que não costumava fazer, abriu a porta do carro e saiu indo em direção a de casa sem a mãe. Sarah olhava a cena incrédula. Mordeu o lábio e suspirou. Saiu do carro e parou ao lado da garotinha com a cabeça baixa, segurando seus brinquedos pendurados, cada um em uma das mãos. Pegou a chave e girou levemente a maçaneta.

A casa estava silenciosa, exceto pelos poucos ruídos que a televisão transmitia. Parecia deserta. Adentrou a curtos passos. Suspirou. Nenhum sinal de Dona Célia. Manteve a máxima cautela para não fazer barulho. Kat, diferentemente, subiu a passos lentos, porém sem parar, e entrou em seu quarto. Sarah aos pés da escada olhou a cena e deixou.

Ela precisa de tempo... Ver uma pessoa morrer a sua frente... Ela é só uma criança...

A mulher cerrou o olhar fortemente. Fincou as próprias unhas no braço se punindo.

Eu queria que ela fosse uma criança normal...

Tentou não pensar no que ocorrera. Subiu as escadas e entrou no banheiro. Trancou a porta e ficou parada olhando cara a cara para o espelho. Apoiou ambas as mãos sobre a pia.

Examinou seu rosto. Olhos vermelho e quase fechados de tanto chorar. Ainda haviam vestígios de lágrimas por toda a face. Aproximou ainda mais do reflexo e analisou melhor. Com bastante facilidade notou algumas rugas.

Isso está acabando comigo...

Seu pensamento foi cortado com um sobressalto assustada. Algo em seu bolso começou a tremer. Engoliu em seco. Pegou o celular lentamente. Suspirou antes de olhar o número.

A polícia...

Desligou em um ímpeto movimento. Não pensou muito.

Eles vão me perseguir...

Novamente começou a vibrar. O mesmo número. Sarah desligou rapidamente, e mais uma vez, insistentemente, voltou a tocar. Em desespero, pela mente confusa, jogou-o ao chão. Para um lado o celular o outro a bateria.

Sarah virou a face para baixo, não pôde analisar muito bem o que acontecera. Batidas na porta do banheiro chamaram toda sua atenção.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now