Capítulo 36

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Martin se mantinha estatelado no sofá, com os olhos vidrados em Sarah. Ouvia toda a história do que acontecera nos últimos dias com a boca semiaberta, incrédulo. Seu peito sofria uma pressão horrível, preocupado com uma filha que rejeitara antes mesmo de conhecer. Em suas mãos segurava uma fotografia de Kat com seis anos. Era linda, parecida em diversos detalhes com sua mãe. Não conseguia detectar nenhum traço seu no rosto da garotinha. No fundo, sentia-se indigno de ser o pai biológico dela.

Ela merecia algo bem melhor. Ela merecia um pai ao seu lado...

Seu coração estava acelerado e lento, batendo forte, mas parecendo fraco. Apenas Sarah falava, Martin era um bom ouvinte perdido em milhares de pensamento e informações que lhe eram arremessadas. Queria ter vivido aquilo, ter tentado evitar. Imaginava milhares de possibilidades diferentes caso estivesse ali o tempo todo, e a culpa o corroía cada vez mais. Cada palavra dita por Sarah sobre a situação de Kat adentrava em seus ouvidos de maneira pesarosa. Tinha medo de que a próxima frase afirmasse coisas piores para a garotinha. Sarah parecia descrever um pesadelo detalhado para Martin.

Quando a última palavra saiu da boca de Kat, o vento ficou rodopiando no silêncio que permanecera na casa. Dona Célia estava trancada em seu quarto. Disse que ficaria orando. Nenhum barulho vinha do andar de cima. Os dois na sala ficaram calados. Sarah esperava uma reação de Martin, porém esse não sabia o que fazer. Perdera-se em meio a culpa que lhe consumira e a preocupação. Queria estar ali como um verdadeiro pai, não como um profissional. A imagem da garota que atormentara a infância de Sarah e agora aparecera para Kat tentava se encaixar na mente realista do homem. Parecia algo tão ilusório, que no entanto respondia a tudo que realmente estava acontecendo.

- Sarah... - olhava para a mulher, mas não via nada a sua frente.

Ela apenas virou a face para ele, esperando uma solução.

- Eu... - estava hesitante. - Eu tenho uns contatos dentro da delegacia, que são muitos confiáveis. - fez uma pausa ao ver Sarah suspirar meio em desaprovação. - Não se preocupa, são realmente confiáveis. Eles me passam as informações necessárias e coisas a mais sobre o caso. Dão todo um suporte para minhas investigações.

- Martin! - Sarah abanou as mãos. - Eu não quero colocar ninguém da polícia atrás de Kat. Eu não confio em ninguém lá dentro. - fez uma pausa. - Foram eles que a levaram, e mesmo que essas pessoas, com quem você tem contato, não estiverem envolvidas no caso de Kat, eu fico preocupada. O Delegado Rhodes veio falar pessoalmente comigo sobre as mortes do Dr. Alan e da garota no parque. Ele pode facilmente ficar sabendo e piorar a situação.

Martin assentiu com a cabeça. Em seguida mordeu o lábio receoso. Acariciou, na fotografia a sua frente, o rosto de Kat tentando pensar em outra saída.

- Mas, Sarah, eles não vão passar nada pra frente. Eles não podem... - não conseguiu concluir a frase.

- Ninguém da polícia no meio! - falou séria e ríspida.

- Certo... - Martin apenas concordou e começou a pensar em outras possibilidades.

Os neurônios começaram a funcionar mais rapidamente. Precisava de ter um ponto de partida para deixar aquele lugar. Não poderia usar seus contatos da delegacia, porém parecia lhe ser a única opção. Mil informações rodavam em seu cérebro, tentando em alguma lembrança passada encontrar um meio que pudesse lhe ajudar. Precisava de algo a mais.

- Sarah, quando vierem conversar com você, percebeu algo de contraditório no que disseram? Por exemplo, em alguma parte da conversa ficou evidente que eles estavam mentindo em relação a algo. - precisava saber exatamente o que fora falado, mas não tinha como. Precisava contar com a percepção de Sarah em relação aos policiais.

Vamos Brincar, Kat?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora