CAPÍTULO 4

28.4K 3.2K 2.7K
                                    

- Então vocês me esperam, não é? - Kat cuidadosamente, se preocupando para não criar muito alarde, abriu a porta de seu quarto, e usava de um tom de voz baixo para falar com Teddy e Dolly. Seus passos eram leves ao tocar o chão.

- Já falamos que sim, Kat. Ande logo. Vá ver se sua avó está dormindo. - Teddy com toda sua paciência respondeu sua dona. – Rápido!

- Ai, Teddy. Você me irrita sabe. - Dolly falou. Se tivesse olhos de verdade, esses teriam revirado em desaprovação nítida ao urso de pelúcia.

- Se eu falasse isso toda vez que você me irrita, Dolly. Seria a única coisa que eu saberia falar.

Kat observava aquela discussão entre seus bonecos. Não gostava disso, apesar de ser rotineiro. Preferiu ignorar dessa vez, precisava conferir se sua avó estava dormindo para poderem esperar a garota do final do corredor. A ideia viera do Teddy para que ninguém atrapalhasse a brincadeira entre eles. Se Dona Célia visse a outra menina, poderia mandá-la embora e não deixar que eles brincassem com ela.

- Eu vou lá. Esperem aqui. - a garota os interrompeu, saindo a passos ainda mais lentos e cautelosos em direção a escada.

Teddy chegou à porta e percebeu que a cabeça de Kat já estava desaparecendo conforme ela descia. Quando o último fio loiro desapareceu de seu campo de visão, voltou para perto de Dolly e falou o mais baixo possível.

- Dolly! Eu  não a chamei. Essa garota é esquisita. Ela estava com uma faca nas mãos. Uma faca! - Teddy aumentou um pouco o tom de voz e logo com um soco no rosto se puniu. - Eu falei que seria melhor a chamarmos porque uma hora ou outra eu sabia que Kat iria querer brincar com ela. – balançou os braços ligeiros ao sentir que Dolly ficara assustada com a notícia. – Enfim, vamos deixar Kat pensando que ela não quis vir. Vai ser melhor...

O urso ficou parado, esperando uma reação da boneca. Essa permanecia parada, sem demonstrar qualquer comportamento diferente.

- Não tenta pensar. Chega! Você entendeu. Vamos fingir que ela não quer vir. Quando voltar finja estar animada com a visita da garota. - Teddy terminou a frase e ouviu a porta atrás de si abrir lentamente. Virou de imediato, prendendo o ar em seu pulmão por ligeiros milésimos.

- Então, Kat? – retornou o fluxo do ar em seu organismo, mais aliviado ao ver a imagem da garotinha entrando pela porta.

- Ela está dormindo, e a garota ainda não chegou. - Kat disse conferindo novamente no corredor se ela realmente não estava ao fundo.

- Nossa. Mas que demora, estou tão ansiosa com a chegada dela. – Dolly se esforçou muito para ser o mais realista possível, contudo sua tonalidade evidenciava a falsa ansiedade que dissera. Teddy cerrou o punho da pata de pelúcia, se segurando para não exibir o quão irritado ficara.

Seja mais discreta, criatura!

- Eu não sei o que estou sentindo. Estou ansiosa e com medo, sabe? - Kat pareceu não notar o jeito com que Dolly dissera. - Põe a mão no meu coração. – levou-a até seu peito esquerdo e sentiu o bater forte e acelerado. - Está batendo muito rápido.

Os dois bonecos colocaram juntos com a ajuda de Kat. Sentiam nitidamente o pulsar duplo do coração. Eram batidas bruscas para o pequeno coração da menina.

- Meu deus! Realmente, Kat, você está muito ansiosa. - Teddy estava surpreso com os batimentos tão acelerados do coração da garota.

Teddy mal conseguiu terminar a última palavra quando um timbre desconhecido adentrou o ouvido dos três que estavam no quarto, fazendo com que o corpo de todos se resfriasse ao máximo. As mãos se cerraram, os lábios se tocaram de súbito, e ficaram estatelados, sem saber exatamente o que fazer. Não era possível que a dona daquela voz fosse a menina do final do corredor.

- Vocês vão ficar conversando aí mesmo ou vão me chamar para brincar? - a voz era esquisita e vinha na direção da porta.

Os três se viraram receosos, robotizados. Com medo de estarem certos sobre quem era a dona daquela voz desconhecida. Os bonecos hesitaram. Entreolharam-se. A criatura parada na porta exibia um sorriso sarcástico. Kat reconheceu a silhueta que vira iluminada precariamente na noite anterior. Teddy não tinha dúvidas de quem ela era.

Ela veio!

O urso era quem mais estava surpreso.

- Oh... Desculpa... Amiga. - Kat estava gaguejando. Olhou para seus brinquedos esperando uma resposta sobre o que deveria fazer. Balançou as mãos pedindo ajuda. Vendo que não viria nada deles, voltou-se para a outra e perguntou: - Vamos brincar?

A garota do final do corredor não respondeu de imediato. Estampou um enorme sorriso no rosto e deu um passo para dentro do quarto de Kat. Deu uma rápida analisada no ambiente, girando o rosto para ter uma visão ampla de tudo. Parou o olhar em um ponto, fuzilando fixamente o ursinho Teddy.

- Achei que não iria me convidar.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now