A vibração do celular no bolso de Sarah a fez engolir em seco preocupada. A atenção de todos voltou-se para o aparelho berrando a espera de ser atendido. Mel foi a única que permaneceu em transe, ainda tentando entender como suas memórias ficaram tão confusas durante muito tempo.
A mãe de Kat levou a mão até o bolso da calça e, como se tocasse uma bolha de sabão prestes a explodir, o pegou. Olhou hesitante para a tela. Era Martin quem ligava. Sarah arqueou uma sobrancelha estranhando a ligação.
- Oi, Martin... - sua voz saía fraca, e seus olhos estavam perdido nos pés de sua tia-avó.
- Sarah... - o tom de voz do homem não era nítido. Sarah não conseguia compreender se ele estava intrigado, surpreso ou escondendo uma pequena felicidade. - Vim aqui no carro olhar uns documentos para um amigo e encontrei algo que acho que Kat possa gostar.
Os olhos de Sarah se arregalaram repentinamente e se dirigiram para a filha. Kat se assustou, ficando preocupada com a expressão adotada no rosto da mãe.
- O que foi, mamãe? - a pequena questionou.
Sarah não respondeu. Ao invés de fazê-lo, a mulher arremessou outra pergunta para Martin ao outro lado da linha.
- O que você encontrou aí, Martin? - a tensão ficara nítida ao fazer suas palavras tremularem ao sair de sua boca.
Seu cérebro se rejeitava a pensar na possibilidade de ser o boneco de pelúcia de sua filha. Tentava afastar esse pensamento, no entanto ele se mantinha firme como uma agulha que lhe fincava profundamente a pele e se rejeitava a sair.
Você sabe o que tem lá, Sarah, por que ainda pergunta?
Os pensamentos da mulher viajaram ligeiros durante a pequena fração de segundo em que aguardava a temida resposta de Martin.
- Aquele seu antigo urso de pelúcia... - a respiração de Sarah cessou ao ver que cérebro e orelha comungavam da mesma realidade. - Você passou ele pra Kat igual sua mãe passou para você, não foi?
Mas àquela altura ela não ouvira mais o que Martin falava. Desligara-se por completo, pensando em como agir. Ela sabia que estava completamente perdida e desolada naquela situação. Ela acabara de descobrir a realidade sobre o brinquedo e seus neurônios transmitiam informações sem saber exatamente onde queriam chegar. Sua mão segurando o celular começou a formigar, incomodando-a.
- Filha, você trouxe o Teddy com você? - perguntou sem perceber que ainda mantinha o olhar focado no rosto de Kat.
- Não, mamãe. Ele ficou lá. Ele e a Dolly... - a menina segurava lágrimas, forçando para não deixá-las jorrar. A sensação de traição a incomodava por completo. Kat nunca pensara que seu urso pudesse fazer algo como aquilo com alguma pessoa, e muito menos que ele tivesse a intenção de fazer o mesmo com ela.
- Martin, jogue isso em alguma lixeira agora mesmo! - Sarah respondeu por impulso e se levantou no instante seguinte.
Mel também se levantara em um movimento conjunto a outra. Não ouvira a conversa no telefone, porém compreendera o que havia acontecido.
- É o Teddy, não é?
Sarah apenas assentiu com a cabeça.
- O que fazemos agora? - perguntou na esperança de Mel ter uma resposta sensata e definitiva.
- Vamos para sua casa. - fez uma pausa e acrescentou. - O mais rápido possível.
Mel mantinha uma expressão séria, no entanto em um piscar de olhos começou a gargalhar estridentemente. Levantou a cabeça em direção ao teto com a boca escancarada. Kat tremeu em seu canto. Sarah recuou um curto passo, confusa. Dona Célia se ajeitou na cama, ficando com a coluna mais ereta. Do mesmo modo que a garota começou a rir loucamente, ela parou e começou a balançar a cabeça com ambas as mãos a pressionando. Ela suspirou, levantando o olhar.
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Vamos Brincar, Kat?
Horror- Filha... Com quem você está falando? - Com o Teddy, mamãe. Um tilintar de xícaras ecoa no quarto. - E sobre o que vocês estão falando? - Sobre a garota no final do corredor. Acho que ela quer brincar de comidinha co...