Jerome largou o telefone sobre a mesa da delegacia sem ter a preocupação de colocá-lo no lugar correto. À passos demarcados e enfurecidos cruzou o estabelecimento, praticamente vazio, chegando até sua mesa. Alguns ali presentes tentaram ajudá-lo, perguntando o que tinha acontecido, porém Jerome se recusou a respondê-los. Jogou-se contra a cadeira e a girou. Procurou entre a papelada, espalhada sobre essa, seu celular. Precisava fazer uma ligação urgente.
Ele é idiota, ou o quê?
Achou-o com certa dificuldade. Suas mãos não raciocinavam junto a mente. Agiam isoladas em meio ao estresse que subira a sua cabeça. Pegou o celular e digitou a senha solicitada. Na lista de contatos, achou, agora, facilmente nas últimas ligações o número que procurava. Com os dedos meio perdidos colocou o celular em seu ouvido. A pausa entre um bip e outro parecia maior do que a normal. Suas pernas impacientes batiam no chão esperando que o outro atendesse.
Jerome?
Uma voz sonolenta atendeu finalmente a ligação.
- Delegado Rhodes, você mandou viaturas para vigiarem a casa de Sarah a essa hora da noite? - apoiou-se fortemente com o cotovelo sobre a mesa.
Boa noite pra você também, Jerome...
- Mandou ou não? - bufou com a ignorância de seu superior.
Mandei! Mandei! Algum problema?
- Você é louco ou o quê? Sarah sabe da viatura parada lá em frente. - gritou ao telefone. Os olhares dos outros na delegacia viraram para ele, porém esse não os sentiu.
Está estressado, Jerome? Está discutindo com seu superior? É isso mesmo?
- Delegado... - tentou controlar sua fala, para não transparecer a ira já evidente em sua face. - Você não deveria ter mandado essas viaturas para vigiá-las. - o calor tomava conta de cada célula do seu corpo.
Jerome, quem é você pra saber o que eu devo fazer ou não?
- Eu poderia ser um qualquer pra saber que isso não foi uma boa ideia. Nem mesmo péssima. Delegado, você tem noção do que fez? - a outra mão sobre a mesa cerrou-se fortemente. Não aguentava tentar esconder a raiva do seu tom de voz. Precisava soltá-la.
Atendendo o pedido de uma amiga. Algum problema?
A mão cerrada de Jerome se bateu contra a mesa.
- Delegado, todos sabem que a Dra. Shoes é louca! - gritou inevitavelmente. Dessa vez, pôde ver os olhares voltados à ele. Mordeu o lábio percebendo o erro que cometera ao gritar. Voltou com os olhos para a mesa, tentando focar na conversa. Suspirou longamente.
Gritando? Você tem certeza do que está fazendo?
A voz do Delegado Rhodes já não possuía mais o ar sonolento de quando o atendera. Parecia que a ira de Jerome também passava para ele. Sentia-se extremamente revoltado com a atitude que o policial estava tomando em relação a decisão que ele tomara.
Preste atenção, Jerome, a Dra. Shoes é a melhor psicóloga que eu conheço. Ela irá tratar perfeitamente a garota Kat. Não podemos deixar essa pequena psicopata sozinha rondando pela cidade. A mãe dela nem mesmo para ajudar a controlá-la.
- Delegado, a Dra. Shoes é louca. - fechou os olhos tentando se controlar melhor. O breu a sua frente transparecia um pouco de controle a ele. - Ela pediu para você mandar as viaturas vigiarem a casa de Sarah?
Exatamente. Falei da ronda para que o restante da polícia não se intrometesse no caso.
- Seria melhor toda a polícia a colocar essa psicóloga para tratar de Kat... - a respiração de Jerome começara a se controlar. A raiva dentro de si já não era absurda a ponto de se tornar novamente uma ira. Precisava explicar a situação ao seu superior sem cometer erros, além do cometido anteriormente.
Jerome, eu sei o que estou fazendo!
Seu tom de voz era potente.
- Você deu o cartão da Dra. Shoes pra Sarah?
Sim!
O policial engoliu em seco.
- O que você falou pra ela?
Ela?
- Sarah. O que você falou pra ela quando foi entregar o cartão da Dra. Shoes? - Jerome queria saber de tudo para tentar ao menos aliviar um pouco a situação. A mãe de Kat não iria deixar aquele fato passar sem mais nem menos.
Falei o que a doutora me mandou falar.
Jerome suspirou e recostou às costas na cadeira preocupado com o que ela mandou ele falar.
Que Kat não é esquizofrênica, mas sobre sim de um Transtorno de Múltipla Personalidade.
- Delegado, você me disse mais cedo que era psicopatia!
Mas Kat é psicopata.
- Então... - o policial estava preocupado com o que a Dra. Shoes seria capaz de fazer. Ela era louca. Mais louca que a maioria de seus pacientes, ou talvez louca devido a seus pacientes.
Você acha que Sarah iria aceitar ouvir que a filha dela é psicopata, Jerome? Ela procuraria ajuda de uma psicóloga se soubesse que a filha é psicopata? É óbvio que não. Ela iria recusar com todas as forças essa possibilidade.
Os dois ficaram em silêncio.
- Sarah ligou pra psicóloga? - Jerome quebrou o silêncio. Pela primeira vez Dra. Shoes parecera fazer o certo.
Não!
- Acho que ela não vai ligar mesmo.
Talvez ligue!
- Ela não confia na gente, Delegado. Viaturas a vigiando? Ela sabe que Kat é nossa principal suspeita do assassinato do Dr. Alan e da garotinha no parque.
Eu sei que ela sabe... Mas talvez ela ligue. Talvez ela fique sem outra opção.
- Ela não vai ligar. Escute o que estou te falando?
Com a filha dela raptada acho um pouco difícil...
- Como? - Jerome perguntou rapidamente no mesmo segundo que seu olhar arregalou-se.
Kat foi raptada, oras. As viaturas estavam lá para pegá-la.
- Delegado, que tipo de drogas você usou hoje?- gritou novamente se arrependendo em seguida. Não poderia fazer alarde da situação.
Jerome, tome seu devido lugar. Eu disse que sei o que estou fazendo, e exatamente isso. Sarah não iria ligar, você mesmo sabe.
- Mas roubar a filha dela não é a melhor opção! - a respiração de Jerome estava aumentando. Os batimentos cardíacos acelerando descontroladamente. A ira voltava a tomar conta de si.
Ela não pode fazer nada contra nós!
Os gritos do delegado do outro lado puderam ser ouvidos a cerca de um metro de distância. Os ouvidos de Jerome reclamaram.
- Delegado, ela sabe que fomos nós que a raptamos. Ela vai fazer de tudo para conseguir Kat de volta! Quando eu digo que essa Dra. Shoes é uma louca você não acredita!
Ela irá recorrer a quem para ajudá-la? A polícia? Acho que nós não vamos soltar uma pequena psicopata tão cedo, Jerome.
- Sarah vai arrumar um jeito de acabar conosco! Eu tenho pena de vocês. - socou novamente a mesa.
Jerome, faça o favor de calar a boca que está tudo sob controle.
O policial a sua mesa jogou o celular ao longe. Uma outra policial teve que desviar do arremesso.
- Merda! - gritou ecoando por todos os cantos da delegacia.
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Vamos Brincar, Kat?
Terror- Filha... Com quem você está falando? - Com o Teddy, mamãe. Um tilintar de xícaras ecoa no quarto. - E sobre o que vocês estão falando? - Sobre a garota no final do corredor. Acho que ela quer brincar de comidinha co...