Capítulo 42

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Martin agradecia a si mesmo por ter colocado a película mais escura nos vidros de seu carro. Sempre o auxiliava em suas missões. Permitia que ele visse normalmente o que acontecia do lado de fora, mas dificultava, impedindo quase por completo, que alguém do lado de fora visse o interior do carro. No breu que aquela rua se encontrava, a película era apenas um acessório. O carro estava parado do outro lado da rua virado para a única saída dessa.

Os olhares de Martin estavam totalmente focados em Jerome parado em frente a porta do cativeiro de Kat. Assustou-se quando viu a estatura do cara que abrira a porta. Era um brutamonte enorme e com músculos inchados. Prensou a arma em suas mãos com maior intensidade. Se tivessem mais homens como aquele ali, Jerome precisaria de ajuda.

A pistola na mão de Jerome se levantou ficando voltada para o centro do tronco do brutamonte. A visão das faces não era nítida, mas Martin achou que a expressão do outro foi dominada por ira intensa. Sua percepção se mostrou verdade quando esse avançou rapidamente sobre Jerome, que girando agilmente se jogou contra a parede da casa.

O brutamonte avançou rompendo apenas o vento. Quase parou no meio da rua, quando retomou o equilíbrio e se virou. Apontou o indicador direito para Jerome enquanto falava algo que Martin acreditou ser "Você não ouse brincar comigo!". Em seguida seus pés bruscos quase perfuraram o chão e avançaram na mesma brutalidade sobre Jerome na parede. As mãos estavam estendidas para frente e abertas. Pareciam conseguir amassar qualquer adulto entre essas. Seus braços, expostos pela camiseta sem mangas que usava, bem como suas têmporas exibiam veias roxas e grossas prestes a se estourar a qualquer momento.

Jerome desviou novamente antes que o corpo do outro se chocasse contra o dele. O policial se locomovia com uma facilidade maior do que o outro pela diferença de biotipo. Dessa vez, enquanto se esquivava, disparou um tiro na perna do gigante. A bala irrompeu com um estrondo, transformando em estilhaços o silêncio reinante na rua. Passou ligeira raspando no calcanhar desse, fazendo-o abaixar de dor e gritar. De onde estava, Martin conseguiu ver uma poça de sangue se formando e encharcando a calça jeans ao redor do ferimento.

Mais focos de luzes apareceram nas construções. Silhuetas de pessoas apareciam por instantes para ver o que acontecia na rua e logo saíam. Jerome não sabia se estavam acostumados com situações como aquela ou se chamariam a polícia. Precisaria ser rápido para que seus ex-companheiros de trabalho não aparecessem ali para impedi-lo. Correu para dentro do cativeiro, tirando seu contorno do campo de visão de Martin. O brutamonte com certa dificuldade correu atrás dele, meio cambaleante com a perna ferida.

Martin se recostara no banco, ajeitando sua postura. Uma sensação estranha lhe percorreu a espinha. Sentia-se vigiado. Pensou logo se tratar dos vizinhos curiosos nas inúmeras janelas acesas e não deu atenção ao fato. Mantinha seu olhar revesando entre a rua e o relógio. Iria cronometrar três minutos. Caso Jerome não voltasse, entraria para ajudá-lo. Foi entre um desviar de olhos para o relógio que o homem no carro se espantou com uma imagem que surgiu na rua deserta.

Atravessando a rua, em uma diagonal que ia de seu carro até a porta aberta por onde Jerome entrara, havia uma menina pequena. Vestia um macacão jeans e tinha os cabelos negros presos na lateral do rosto. Segurava em uma das mãos um pirulito que largou no meio do caminho, e na outra algo reluzindo sob a luz noturna. Martin, ao se dar conta do que era, piscou compulsivamente torcendo para estar errado. A garota carregava uma faca.

Queria não saber quem era. Rejeitava-se a acreditar que era tudo real, porém sabia que aquela menina era a mesma que Sarah falara tantas vezes. Fora aquele espírito, ou seja o que for, que matara Dr. Alan e a menina no parque, e agora poderia matar... Martin não queria pensar nisso, contudo sabia que Jerome poderia ser sua próxima vítima. Ele acreditava em partes no que Sarah dizia, mas em relação aquela garota, ele tinha suas dúvidas. A partir daquele momento, não lhe restava nenhuma. O susto fora tão grande que, quando se deu conta, sua mão não segurava mais a pistola. Imediatamente segurou-a novamente de maneira firme para não soltá-la. As coisas estavam piorando.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now