Capítulo 39

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A televisão na sala de Sarah estava ligada no jornal 24 horas, contudo não interferia em nada. A única parte da tela que possuía o foco de Sarah era o relógio no canto inferior direito que exibia a hora exata em números pretos dentro de um pequeno quadrado vermelho. Os minutos pareciam possuir um compasso muito maior do seu real. Os segundos se arrastavam.

A mulher estava imersa em pensamentos sobre o presente e o passado. A preocupação que só se agravava conforme o tempo passava, e as lembranças de quando também brincava com Mel. Tentava se recordar de suas conversas e brincadeiras com a menina estranha. Não se lembrava de nenhum nome relacionado a ela. O nome "Mel" não lhe recorria a mente. Sarah estava intrigada de onde Kat havia tirado aquele nome. Sabia que a filha mentira.

Como uma foice afiada e certeira, o toque da campainha ceifou os pensamentos confusos de Sarah. Instintivamente a fez se levantar e ir a passos rápidos em direção a porta. Girou a chave um pouco vacilante, devido a leve agitação de suas mãos, e a porta se abriu com um leve ranger. Esperava encontrar o rosto de um homem, no entanto a face estampada ali não era a que Sarah aguardava ansiosamente.

- O que você está fazendo aqui, seu canalha? - bateu à porta fortemente, transformando a sua preocupação em raiva imediatamente ao ver o rosto do homem do lado de fora de sua casa.

Retornou ao sofá pisando o chão bruscamente enquanto a campainha berrava insistentemente atrás de si.

- Sarah, por favor! Precisamos conversar! - a voz de Jerome implorava do outro lado da madeira. - Não estou aqui pelo Delegado Rhodes. Eu quero ajudá-la!

Sarah fechara seus ouvidos para os pedidos desesperados. Mesmo os gritos soando sinceros para ela, rejeitou-se a dar qualquer resposta ao policial.

- Sarah! - o nome da mulher ecoou durante uma infinidade até todo o ar esvaziar o pulmão de Jerome.

- O que é isso? - Dona Celia perguntou enquanto descia as escadas.

- É a polícia, mãe. Não abra a porta! - Sarah aumentou seu tom de voz para que sua mãe a pudesse ouvir. A campainha não cessava.

- Eles não cansam mesmo... - a senhora se aproximou da porta irritada com a insistência do policial e abriu essa em um movimento brusco. Antes mesmo de enxergar a face do outro lado começou a reclamar: - Trate de ir embora daqui, imbecis! A menos que estejam com minha neta, não apareçam aqui de novo! Agora parem de nos incomodar! - não analisou bem a silhueta a sua frente. Apenas gritou e iria fechar a porta da mesma maneira que a abriu, no entanto um pé no último instante impediu que a fizesse.

- Eu só preciso falar uma coisa pra Sarah... - Jerome falou calmo, um pouco ofegante. Sua voz baixa se contrastou com a gritaria anterior.

- Não! - Dona Celia gritou escorada à porta, impedindo a entrada do outro.

Assim que a avó de Kat gritou, o silêncio dominou tudo em uma fração de segundos. Nem mesmo a respiração dos três era audível. Sarah com a cabeça entre as mãos sentada no sofá. Dona Célia acalmando os nervos, esperando passar a tontura que lhe subira a cabeça. Jerome em um cauteloso movimento, puxou o pé para fora, deixando a porta se bater em um estrondo repentino. A mulher escorada na porta se assustou com o movimento.

- Sarah... - a voz do homem falava cautelosa, mas em um tom alto para que pudesse ser escutado dentro da casa. - Eu conheci a Mel!

A cabeça de Sarah se levantou cautelosa e seu olhar tocou no de sua mãe. As duas pareciam ainda mais confusas do que antes. Ele não poderia estar mentindo. Levantou-se do sofá e pediu com um balançar de mãos que a mãe saísse de frente da porta. Abriu um pouco hesitante, exibindo uma expressão perdida no rosto. Encontrou a imagem de Jerome se afastava da casa indo em direção ao seu carro.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now