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- 𝑨𝒏𝒚 𝑮𝒂𝒃𝒓𝒊𝒆𝒍𝒍𝒚 -

Estou no estágio, atendendo uma criança de dois anos e automaticamente pensei no meu bebé mas tentei desviar esses pensamentos.
Tenho evitado pensar muito nisso mas não está a dar certo. Joshua não fala comigo desde ontem, na verdade ele até fala mas sempre é grosso.

Peguei nas minhas coisas depois do estágio e fui em direção à casa do Andrew, ao abrir a porta a minha pele se arrepiou, a casa está praticamente abandonada.
Vasculhei algumas coisas e encontrei a escova de cabelo dele que eu já o tinha visto a usar.

Depois fui a casa tomar um banho quente e rapidamente peguei nalguns fios de cabelo do Joshua, indo com a minha mãe para o consultório.

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Joshua.
O filho é do Joshua.
Ele vai ser pai.

Por momentos desejei que não fosse dele, assim eu iria acabar com os nossos problemas rapidamente, eu iria acabar a faculdade e o estágio, não teria uma barriga enorme com dezenove anos e tudo ficava bem, não estou pronta para ter um filho, o meu psicológico não aguenta isso sequer.

- Que foi? - ele perguntou chateado por eu ter entrado no escritório. -

- podemos conversar? - perguntei mantendo a calma. - vamos para o quarto por favor.

Ele me seguiu e eu fechei a porta quando entrámos. Joshua se sentou na cama com os olhos cheios de lágrimas e eu quase perdi a coragem.
Engatinhei até ele e fiquei de frente com o mesmo, adentrei os seus cabelos com os meus dedos até chegar à sua nuca e acariciei calmamente.

- me desculpe. - encostei as nossas testas. - por talvez não ter sido tão compreensiva com você.

- eu fui um completo idiota, Any. Pessoas confusas machucam corações gentis. Você não poderia ter sido mais compreensiva. - ele se afastou ligeiramente. -

- Toma.. - entreguei uma folha e ele a desdobrou, passando os olhos por todo o pedaço de papel e então soltou aquilo e levou as mãos à cabeça. - gosto de você.. não se esqueça. - sorri fraco e saí do quarto para ir tomar um ar fresco. -

E claro que mal nos falámos.
Só tocámos no assunto quando revelamos quem era o pai, a todos os nossos amigos. Depois das meninas irem para as suas casas, subimos e ficámos os dois em silêncio no quarto. Joshua tem o rosto inchado e os olhos vermelhos, acho que nunca o vi chorar tanto. As minhas dores de barriga só aumentam pelo nervosismo.

- deixa eu ver uma coisa. - ele pediu com a voz fraca e levantou a minha blusa, encarando a minha barriga e soltando um soluço. -

- desculpa. - pedi novamente sentindo o meu coração de despedaçar por ver o estado dele. -

- a culpa não é sua, não diga mais isso. - ele limpou as minhas lágrimas com as mãos trémulas. - aproveita o seu bebé, o bebé que você sempre quis..

Queria que fosse fácil assim.
Tudo fica complicado quando o pai do meu filho entra em negação, chora o dia inteiro e não consegue ver a minha barriga sem soltar um soluço que faz o coração de qualquer um apertar.

- onde você vai? - perguntei preocupada. -

- tomar algum remédio. - ele falou baixo e eu fui atrás dele, eu sei que Joshua é impulsivo então não gosto que ele ande a cirandar pela casa nestas condições. -

Antes que eu o pudesse impedir, ele tomou seis calmantes de uma só vez e voltámos para o quarto. Depois de apagar as luzes e se deitar, ele capotou por completo. Abracei o seu coro com força e me permiti chorar no seu peito.

- 𝑱𝒐𝒔𝒉 𝑩𝒆𝒂𝒖𝒄𝒉𝒂𝒎𝒑 -

O filho é meu.
Nós fizemos aquele bebé juntos.
No mínimo eu tenho de conseguir aceitar isso.
Eu vou criar a criança e ver um bebé com os nossos traços crescer e se tornar independente.

Any foi para a faculdade e depois vai para o estágio, eu me senti incapaz de trabalhar hoje, não peguei em papel nenhum, não li nada.

Decidi apenas tomar um banho gelado e depois vesti uma roupa simples e saí de casa.

Liguei o carro e dei partida sem rumo algum, apenas dirigi pelas ruas de Toronto.
A chuva me impede de ver tudo direito também com os olhos marejados e o vento é bastante forte.

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Foi difícil para adormecer esta noite, não dormi por muito tempo, acabei por acordar com dor de cabeça e o peito apertado e também não senti a presença da morena na cama, achei isso estranho. Passei a mão pelos meus olhos e olhei para a sacada tendo visão dela sentada no pequeno sofá. Tinha as pernas dobradas e a cabeça deitada em cima dos braços apoiados nos joelhos.

Fui até lá e me sentei ao seu lado, puxando levemente o seu corpo para um abraço de lado.
Any fungou e me abraçou com mais força, enterrando a cabeça no meu pescoço. Não é fácil para mim, mas é muito mais complicado para ela.

- vamos tomar qualquer coisa, para você se acalmar. - sugeri. - podemos preparar um chá e depois ficamos na sala perto da lareira quentinha. Olha, até a cadela está nervosa. - apontei para a estrela que não parava de latir enquanto tentava subir para o colo da Any. -

- tá bom, pode ser. - ela limpou as suas lágrimas e pegou na cadela. - eu te acordei?

- não baby, eu acordei com dores de cabeça, apenas. - falei mantendo a calma e segurando na mão dela para descermos as escadas sem acender a luz, apenas com a lanterna do celular ligada. -

Acendi apenas a da cozinha e fechei a porta, any se sentou na bancada e eu preparei um chá para cada um e coloquei um remédio dentro do meu.

- bebé, você pode tomar isso? - perguntei preocupado. -

- acho que sim, não sei. - ela passou a mão pelo cabelo. -

- espera aí, eu vou ver. - peguei no meu celular e pesquisei. - não pode tomar esse mas tem outro mais fraco que você pode, só vai demorar mais para fazer o efeito. - expliquei. - o outro pode causar alterações no leite e também você pode passar mal. - ela assentiu com a cabeça e beijou o pelo da cadela. -

Fomos para a sala, liguei a TV e coloquei um filme aleatório para depois ligar a lareira também.
Nos sentámos com uma coberta e as chávenas, Estrela ficou no colo da Any, não solta a barriga dela por um segundo, a mulher não pode se mexer que a cadela já mete a pata no útero da coitada.

- ela é muito protetora. - falei olhando para a cadela. -

- sim, é fofinha. - a morena sorriu. -

Era para ter sido ao contrário mas any insistiu que eu deitasse a cabeça no seu peito para ela acariciar os meus cabelos.

- você parece estar exausto. - ela falou contornando a minha sobrancelha, o seu toque me fez fechar os olhos. - tenta dormir. - ela me aconchegou mais na coberta e encostou a bochecha à minha cabeça.- Boa noite coisinha loirinha.

CRIMINAL HEARTS - beauanyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora