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- 𝑨𝒏𝒚 𝑮𝒂𝒃𝒓𝒊𝒆𝒍𝒍𝒚 -

Estamos no caminho de volta para o Canadá, Joshua vai resolver as coisas com a Taylor e a Reese, a outra vaca vai ficar no porão da nossa casa até Josh saber o que vai fazer com ela, não a podemos matar agora porque talvez precisaremos de mais informações.

- vamos resolver as coisas ainda hoje? - perguntei exausta. -

- não, vou primeiro planejar tudo e daqui a uns dois dias entramos em ação. - ele esclareceu. - não disse que estava com sono?

O olhei talvez mostrando que fiquei magoada, Josh tem sido grosso comigo o tempo todo porque eu o obriguei a tomar a porra do remédio, e depois porque eu não o deixei sair de casa no estado que estava, e hoje de manhã ainda brigámos porque ele queria me afastar de tudo isso para minha segurança com medo de acontecer a mesma coisa.

Encostei a cabeça à janela e fingi pegar no sono o mais rápido possível.
Senti o loiro segurar no meu corpo como se eu fosse me quebrar toda, e entrar dentro do Uber, fazendo a mesma coisa no percurso desde a porta principal de casa até ao quarto.

- vou tomar banho, você vai querer ajuda depois? - ele perguntou simples pegando nas suas roupas. -

- não precisa, eu me viro sozinha. - sorri fraco e ele assentiu fazendo pouco caso. -

Fiz um esforço para arrumar as minhas coisas, depois liguei para a Priscila avisando que ja estamos em casa, ela está a trabalhar no momento.

- oi amor da mamãe! - segurei na estrela com cuidado para não me magoar a mim mesma e me sentei na cama. -

Depois de ficar a fazer carinho do pelo dela por longos minutos, Kyle saiu do banheiro e eu fui para lá.
Me apoiei no mármore e comecei a tirar a minha roupa, enrolei o plástico em volta de todo o gesso e depois peguei no banco, me sentei no box com a perna e o pé para fora e tomei o banho da forma que eu consegui.

Josh está bastante cansado até emocionalmente, pelas memórias e por todo o trabalho que tem tido, não quero ser mais um peso para ele.

- precisa de alguma coisa? - perguntei calma chegando mais perto dele após perceber que quer chorar. -

- vai fazer o quê? Me dar remédios para dormir o resto do dia? Só você ficar calada e não encher o meu saco já é uma ajuda enorme, Any.

- só queria ajudar. - falei baixo e deixei as muletas de lado para me sentar na cama. -

- acontece que você usa os métodos errados. - Ele falou claramente chateado, sei que são muitas coisas a acontecer mas não tem necessidade dele descontar tudo em mim. - fica na sua e não me chateie por favor. Eu não preciso da sua ajuda para nada.

Respirei fundo ao invés de debater até porque não vale a pena.
Deitei o meu corpo sobre o colchão, na tentativa de descansar um pouco.

- você ainda não parou quieta. - Josh soltou um suspiro. - Tem como parar de se mexer por pelo menos dois segundos?

- Desculpa. - sorri meio sem graça e peguei no meu celular, baixei o brilho e fiquei a trocar mensagens com as meninas no nosso grupo. -

Escutei o loiro fungar e então deixei o celular de lado, porque ele tem de ser tão difícil? Ele está mais vulnerável e para esconder isso, tenta ser frio com todo o mundo, desconta em qualquer pessoa e não quer ser ajudado..
Escolhi ficar calada, ouvido a sua respiração acelerada até que levei a minha mão até ao seu dedo mindinho e entrelacei no meu, deixando uma lágrima solitária escapar.

Foram horas e horas na mesma posição para não o incomodar, Joshua ficou mais calmo e acabou por adormecer mas foi por pouco tempo.

- eu consigo. - Sorri fraco e com as muletas desci as escadas. -

- fazem dois dias desde que se quebrou toda, não devia fazer tantos esforços. - Priscila me repreendeu assim que me viu. -

- eu estou bem, mamãe. - Abracei a mulher que retribuiu o gesto na mesma intensidade. -

- eu e a sua mãe estivemos a preparar um jantar incrível, vem comer! - Helena sorriu satisfeita com o trabalho e eu as segui até à cozinha, fiquei ao lado do Noah. -

- Josh não vem comer? - Krystian perguntou num tom de preocupação e eu empurrei as minhas lágrimas para dentro. -

- ele foi ao banheiro, daqui a pouco deve descer. - falei mantendo a calma mas sei que ele precisa de alguém ao lado dele neste momento, só que ele não me permite ser essa pessoa. -

Jantei em silêncio, Joshua chegou no meio da refeição mas como não comeu quase nada, acabámos ao mesmo tempo.
Me levantei e levei a minha loiça para a cozinha, subindo as escadas em seguida fazendo o maior esforço possível para conseguir, não é fácil usar muletas, não tenho força nenhuma naquela perna e não posso sequer apoiar o pé no chão.

- você está bem? - Bailey pousou a mão nas minhas costas quando eu me apoiei na parede. -

- Sim, só estou sem forças. - fui sincera e voltei a equilibrar-me. -

Peguei nas coisas da faculdade e comecei a estudar os conteúdos mas a folha que era para ser um resumo prático e bonito, se transformou num papel completamente encharcado pelas lágrimas que escorriam.

- você é tão sensível. - Josh entrou no quarto. - eu não quero que pareça que estou chateado com você mas você tem de entender que as coisas não são sempre como você quer, Any. A cada vez que você tenta ajudar, atrapalha mais. Basta você não encher a minha paciência, quando você está mal, eu não fico a falar até você não aguentar mais, tento te abraçar ou te confortar, e nunca te dei nenhum remédio para dormir sendo que você tinha milhares de coisas para fazer! Não me peça para estar tranquilo com você sendo que você está a fazer o contrário do que deveria.

- eu peço desculpas por isso, nem sempre consigo fazer tudo direito e eu entendo que seja chato mas você poderia dizer isso de forma mais cuidadosa. Eu já estou quietinha, na minha, não tem motivo para você brigar comigo agora.

- óbvio que tem, você fica emburrada igual uma criança e depois chora e se lamenta pelos cantos.

- você tem descontado tudo em mim, Josh. Eu sei que você não está bem mas também é exaustivo para mim!

- é melhor você continuar a estudar. - ele falou breve e se sentou na cama, um pouco afastado e ligou a televisão, colocando num filme aleatório. -

Involuntariamente comecei a arranhar o meio do meu peito, entre os seios e deixei escapar um pequeno soluço.
Antes que a crise fosse além, guardei as coisas e me levantei, caindo no chão sem forças logo em seguida.
Me apoiei no chão e depositei toda a minha força na perna saudável para conseguir me levantar, as lágrimas de Josh só aumentaram e então eu tranquei a porta do banheiro para me acalmar sem o incomodar. Passei água no rosto e respirei fundo várias vezes.

CRIMINAL HEARTS - beauanyWhere stories live. Discover now