Capítulo um

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Quando minha vida passou a ser cheia de furacões e tornados? Se tivesse um jeito de fazer minha mente ficar como um campo florido cheio de pássaros cantando, faria questão de conseguir

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Quando minha vida passou a ser cheia de furacões e tornados? Se tivesse um jeito de fazer minha mente ficar como um campo florido cheio de pássaros cantando, faria questão de conseguir. Ela estava longe de ser assim. Minha cabeça era como um campo minado de bombas, sem nenhum pássaro para me dar conforto.

Grunhi, deitando minha cabeça no livro de Anatomia. Não consegui mais focar a atenção nas ilustrações, tinha muitas nomeações para decorar para a prova. Não sabia se iria conseguir. As palavras giravam dentro de mim e meus olhos latejavam ao fitar o livro de capa dura. Havia um grito entalado na minha garganta, implorando para ser libertado.

Eu preciso de férias.

Tudo bem, eu sei. As férias terminaram há duas semanas. Eu não devia reclamar. O segundo período do curso de Medicina não se iniciou direito e meu corpo já virava gelatina. Meu cérebro derretia na mesa a minha frente, escapando de meus dedos e escorrendo pelo chão. Era inútil tentar deixá-lo inteiro. E como se não fosse ruim o bastante, eu precisava fingir não ser nada demais. Ei, não se preocupe comigo. Meu cérebro está derretendo, mas estou bem! Se alguém olhasse para dentro dos meus olhos, veria a palavra socorro gravada em minha íris.

Massageei minhas têmporas. Estava sendo difícil manter minha atenção. As aulas eram um pesadelo. Quando eu encarava o professor na frente da sala, meus pensamentos iam para outros lados e meus olhos vagavam para a janela, fitando alguns prédios no horizonte enquanto ouvia o som da cidade respirando ao meu redor. Todos estavam vivendo, enquanto eu só conseguia imaginar como seria ter uma vida paralela longe da universidade. Talvez se tivesse algum dinheiro, estaria viajando pelo país com uma mochila nas costas. Ou quem sabe viveria em Pernambuco com minha família.

Eu queria comer o bolo de rolo que mãinha fazia tão bem, além de ouvir as melodias compostas por Sabrina. Eu cuidaria de vovó e ficaria o resto da tarde deitada no sofá velho, enquanto meu gato, Salen, ronronava perto dos meus pés.

Abaixei os olhos para meu pulso do braço direito. Havia uma tatuagem de meu gato marcado na minha pele. Passei meus dedos por ela, admirando seu pelo preto e lembrando da sua forma de me dar carinho ao deitar perto de mim.

Fechei os olhos, sem conseguir mais encarar sua imagem. Acreditei que realizá-la iria me ajudar a não sentir tanta saudade, contudo, estava acontecendo o oposto disso. Olhar tornava as lembranças mais fortes. Isso era ruim ao estar longe. As memórias poderiam ser boas, mas também sufocantes como se estivesse me afogando no mar. Eu precisava lutar contra elas.

Respirei fundo e olhei para os lados. Todos pareciam concentrados ao estudar debruçados nos livros. Eles se sentiam como eu? Às vezes eu tinha vontade de perguntar se também lidavam com a solidão.

Levantei da cadeira e agarrei o livro para guardá-lo de volta a estante. A biblioteca permanecia cheia na sexta-feira. Com a primeira leva de provas chegando, todos estavam desesperados para estudar de última hora e fazer as palavras alojarem nos seus cérebros. Caminhei entre as estantes até chegar na sessão dos livros de Medicina e coloquei o livro entre as outras cópias.

Frangos Explosivos [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora