Frangos Explosivos [Completo]

Capítulo dezenove

Meus pensamentos acharam uma boa ideia que eu cortasse meu cabelo por conta própria. Peguei a tesoura e amparei minha franja, deixando-a na altura de minhas sobrancelhas. Olhei para meu novo visual pelo espelho com o arrependimento correndo meus órgãos. Não sei o que deu em mim. O tédio me fazia fazer idiotices.

Por que Axel me deixou sozinha? Eu nem devia ligar tanto para isso.

Ele me mandou uma mensagem falando sobre sua ausência no cinema sem me dar explicações. Fui sozinha ver o filme e por mais aliviada que eu poderia estar por não ter ninguém me atrapalhando, fiquei olhando para a porta e esperando Axel aparecer com seu atraso característico.

Havia um silêncio perturbador ao meu lado mesmo com a trilha sonora estourando nas caixas de som. O filme estava sem graça e com pouca emoção. No meio da sessão decidi mandar uma mensagem a ele.

Sandy: Amanhã nossa excursão ainda vai acontecer, não é?

Ele não me respondeu na hora. Olhei para o celular pelo resto do dia. Era estranho o seu silêncio. Ele não costumava fazer isso e sua resposta vir apenas no dia seguinte me deixou preocupada.

Axel: Não vai dar mais. Desculpa, San. Mas a gente ainda pode se encontrar. Eu tô precisando da sua ajuda. Minha cabeça parece que vai explodir, não aguento mais.

Ergui as sobrancelhas.

Sandy: O que aconteceu?

Axel: Não gosto de falar pelo celular. A gente pode se encontrar?

Aceitei e em seguida completei:

Sandy: Pode vir na minha casa.

Espera, o quê? Por que eu disse isso? Ninguém ia a minha casa. Nunca convidei Giovana ou qualquer outra pessoa. Para mim era um lugar muito íntimo e pessoal. Era como se a pessoa conseguisse ver meus pensamentos e todo o meu mundo interior.

Axel: Depois me passa seu endereço.

Engoli em seco e comecei a digitar. Sabe, mudei de ideia, vamos nos encontrar no cinema ou no Frangos Explosivos, pode ser? Coloquei meu dedo próximo do botão de enviar. Seria mais fácil um lugar que não me deixasse exposta e eu conseguisse me esconder atrás de um escudo.

Larguei o celular e escondi meu rosto entre as mãos. Há alguns anos isso não era uma preocupação para mim. Pelo menos na minha infância e parte da minha adolescência, minha vida era menos complicada. Eu gostava de as pessoas chegarem perto de mim. Era algo natural, nunca vi um problema nisso. Mas Rafael entrou no meu mundo e provou tsunamis e terremotos, deixando destroços por todas as partes de minha vida. Eu ainda tentava estruturar de novo. Não era fácil. O medo se tornou parte de minha sombra.

Axel ficaria horrorizado se visse meu kitnet. Ele devia me ver como uma garota certinha e inteligente. Quando entrasse em minha casa, perceberia que eu era uma farsa. Suspirei sem conseguir apertar o botão.