Observei o restaurante com suas paredes laranjas e amarelas. Era um lugar que me trouxe tantas coisas boas, mas estava começando a me trazer um peso maior do que conseguia carregar.
Não entrei no lugar. Fiquei com meus pés presos no lado de fora, tentando reunir coragem.
— Axel, você já olhou as horas? — disse Roberta ao me ver chegar. Ela parou em minha frente. — Está com duas horas de atraso! O que deu em você? Por que não está com a fantasia de frango? Marcos vai matá-lo quando chegar e descobrir isso. Melhor começar a trabalhar!
Não a encarei. Ainda estava com os olhos muito fixos na fachada do lugar. Eu precisava mudar as coisas. Tinha que dar mais valor ao que tinha e agradecer por ter tantas possibilidades em mãos que outras pessoas nem imaginavam ter.
— Vai ficar aqui fora com essa cara, ou vai fazer alguma coisa? — continuou ela.
Eu não abri a boca, mas Roberta não esperou nenhum movimento meu. Apenas abriu minhas mãos e colocou uma pilha de panfletos em cima delas.
Ela saiu de perto, entrando no restaurante que estava começando a receber os clientes. Respirei fundo duas vezes e segui Roberta com as pernas tremendo. Coloquei a pilha de panfletos em cima da bancada.
— Eu não trabalhar, estou me demitindo — disse sem perceber os olhares dos clientes em meu rumo.
A gerente ergueu as sobrancelhas e soltou um riso. Laís estava mexendo na caixa registradora. Ela parou e ergueu os olhos.
— Você ficou doido?! — Roberta começou. — Só por causa de uma apresentação está fazendo isso?
Fechei os olhos com força. Estava cansado disso e de tudo que ela falava. Não aguentava ouvir sua voz irritante. Virei de costas para ela e fui até o escritório de Marcos. Ele abriu a porta antes que eu tivesse a chance de bater.
— O que está acontecendo, Axel? Por que atrasou?
Passei por ele, fechando minha mão em forma de punho para controles meus dedos tremendo.
— Eu precisava resolver umas coisas. — Liguei para o produtor do Show de Talentos, estava tudo decidido. Não havia mais volta.
— Mais importante do que seu trabalho? — Seus olhos me queimavam. — Tá agindo estranho desse jeito por que não te dei folga? Por favor, Axel, eu fiz aquilo pelo seu próprio bem! Quando vai encarar a realidade?
Pela primeira vez eu estava encarando a realidade. Nada que ele falasse iria me fazer mudar de ideia. Eu não conseguiria parar de lembrar a forma como riu de mim.
— Eu quero me demitir — disse sem responder nenhuma de suas perguntas.
Minha voz quase falhou. Era o certo a se fazer. Tinha que aguentar firme.
Marcos riu, fazendo meus pelos se arrepiarem.
— E você acha que ficar desempregado vai ser o melhor para você?
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Frangos Explosivos [Completo]
Romance[História vencedora do Wattys 2018 na categoria coringa e classificada como uma das Melhores Histórias de 2019 e 2020] Sandy saiu do interior de Pernambuco para viver em Belo Horizonte e cursar Medicina na UFMG. O que era para ser o melhor momento d...