Capítulo quarenta e quatro

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Havia uma espiral de pensamentos que me levava mais fundo, sem ter como fugir

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Havia uma espiral de pensamentos que me levava mais fundo, sem ter como fugir. Quando vi a letra de Eva, as lágrimas saíram de mim. Foi difícil focar a visão nas palavras e entender o que estava lendo. Sabrina também não conseguiu se controlar. Ela fungava enquanto tentava manter a visão focada nas folhas. Nós duas éramos um mar de lágrimas.

Vovó manteve todas aquelas cartas e dores escondidas apenas para si — e teria continuado assim se eu não tivesse encontrado. Eu nunca parei para pensar no que ela estava sentindo. Seus sentimentos foram esquecidos por todos. E isso foi pior para Eva, deixando que suas emoções explodissem forte dentro de si. Havia dor, tristeza e desespero de manter as memórias intactas.

Se eu estivesse em seu lugar, teria ficado do mesmo jeito, talvez até pior.

Dava para perceber pela forma como sua escrita ia piorando ao longo das cartas. Era tudo um reflexo de como a mente de Eva se encontrava. Ela deixou tantas memórias do lado de fora e mesmo se escrevesse vinte e quatro horas por dia, não teria colocado tudo. Teve que abrir mão de várias partes e lembranças incríveis dentro de si.

Fechei os olhos ao sentir náuseas. Respirei fundo algumas vezes, esperando o mundo voltar ao normal. Reli as cartas um milhão de vezes. Queria absorver o máximo de informação e detalhes. Era o último resquício da vovó. O único lugar que ela ainda poderia se manter inteira.

Se ela tivesse me contado sobre as cartas, eu teria ajudado a escrever e anotado todas as memórias. Poderíamos ter escrito um livro de sua história para não ser esquecida pelo tempo.

Meu gato apareceu no quarto e deitou perto de meus pés, como se percebesse minha tristeza. Fiz carinho em seu pelo, sentindo como se um caminhão estivesse me pressionando no chão.

Sabrina estava da mesma forma.

— Por que isso aconteceu? — Minha voz saiu embargada. — Ela não merece passar por tudo isso.

Os olhos vermelhos da minha irmã me fitaram. Ela abriu a boca para falar, mas sua voz foi cortada pelo barulho do telefone de casa. Ela levantou e pegou o aparelho enquanto limpava os olhos.

Coloquei Salen no meu colo e beijei seu pelo. Não conseguia imaginar como devia ser horrível ter essa doença. Era algo tão triste. Ainda era difícil conseguir aceitar depois de tantos anos. Ver vovó perder as memórias aos poucos tirava uma parte de mim a cada segundo.

Os passos de Sabrina se apressaram enquanto voltava para o quarto.

— É vovó... ela foi transferida agora pra UTI — disse com os olhos arregalado, as mãos tremendo e a voz quase desaparecendo.

Eu pisquei.

Não. Não. Não podia ser.

— Como assim? Ela tava bem!

— Eu sei, mas pelo jeito ela não tá conseguindo respirar direito. Precisaram levar ela correndo pra UTI. Estão a entubando.

Minhas mãos começaram a tremer enquanto minha vista ficou embaçada. Não. Eu precisava de mais tempo, era cedo demais.

Frangos Explosivos [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora